Quer o seu prato com ou sem desflorestação?
As florestas são um escudo essencial contra a degradação do clima, as pandemias e a perda da biodiversidade, mas o aumento do consumo em todo o mundo está a enfraquecer esse escudo.
Portugal está a milhares de quilómetros das florestas tropicais que diariamente são dizimadas pelo homem. No entanto, os produtos que causam a desflorestação estão nos carrinhos de compras e nos pratos dos portugueses, sem que nós, os consumidores, tenhamos outra opção.
Nos últimos meses, a opinião pública tem-se centrado na pandemia da Covid-19 e nas suas repercussões económicas e sociais, e com a devida razão. Os tempos difíceis vividos até agora adivinham-se ainda mais difíceis por enfrentarmos uma nova recessão económica, que está a abalar as famílias e os países no seu âmago.
No entanto, esta crise apresentou-nos também a oportunidade para ver com novos olhos questões como a desflorestação das nossas áreas naturais. A persistente exterminação desta barreira natural que nos mantém fisicamente distantes de doenças zoonóticas (passadas de animais para o homem) como a Covid-19, faz com que percamos este antivírus natural e estejamos agora mais próximos de novas pandemias.
Se no passado era a procura de madeira, atualmente no cerne de toda esta questão está a agricultura intensiva, responsável por 80% da desflorestação mundial, sobretudo resultado da plantação de produtos como a soja e o óleo de palma, usados depois na indústria agroalimentar e alimentação animal. De modo a criar espaço para estas explorações, todos os anos milhares de incêndios são deliberadamente ateados em florestas tropicais, como na Amazónia, para que os terrenos ardidos possam ser convertidos em campos agrícolas ou em pastagens, por serem solos muito produtivos.
Este processo destrutivo tem consequências gravíssimas, quer ao nível dos direitos humanos (uma vez que muitas pessoas perdem as suas casas e as suas fontes de subsistência, e até mesmo a vida, durante os incêndios), quer para a biodiversidade e clima mundial (a desflorestação é a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa).
As florestas são um escudo essencial contra a degradação do clima, as pandemias e a perda da biodiversidade, mas o aumento do consumo em todo o mundo está a enfraquecer esse escudo. A União Europeia tem o poder de impedir toda esta destruição de biodiversidade e libertação maciça de CO2 causada pelos incêndios florestais, pela desflorestação e pela reconversão dos ecossistemas em todo o mundo. A Comissão Europeia abriu recentemente uma consulta pública para perceber se os europeus querem uma nova legislação para lidar com a desflorestação. No entanto, para evitar a transferência da destruição da natureza para outros habitats naturais vitais, ela também deve incluir pastagens, savanas e pântanos; e ainda a proteção dos direitos dos povos indígenas e das comunidades locais.
Precisamos urgentemente de uma lei europeia que exclua mercadorias e produtos ligados à destruição da natureza. E é por isso que campanhas como a #JuntosPelasFlorestas, lançada por mais de 100 entidades da sociedade civil, entre as quais 11 nacionais, como a ANP|WWF, são fundamentais para garantir que os cidadãos façam a sua voz ser ouvida. Esta campanha de recolha de assinaturas exige à União Europeia a criação de uma lei que regule a entrada de produtos fruto de desflorestação e conversão de terras nos mercados europeus.
Só com uma lei vigorosa como esta – e escolhas alimentares conscientes, como a opção por produtos locais, certificados e/ou biológicos – é que os consumidores portugueses podem estar confiantes de que a produção dos alimentos que consomem não destrói irremediavelmente algumas das zonas naturais mais importantes do nosso planeta. Esta é uma oportunidade única de travar a desflorestação. Temos de agir. Agora.
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