Repensar a produtividade na era da IA
A verdade é que a IA já está a aumentar a capacidade de trabalho em algumas tarefas e a exigir uma mudança profunda de competências.
As organizações estão numa corrida para captar o potencial da automação e da inteligência artificial nos seus negócios e na produtividade da sua força de trabalho, ainda que com níveis de maturidade, capacidade e velocidades distintos.
Segundo o estudo “Global Talent Trends 2024 da Mercer”, um em cada quatro executivos acredita que a IA vai mudar profundamente o seu modelo de negócio, projetando ganhos de produtividade na ordem dos dois dígitos (10%-30%).
Apesar desta perspetiva otimista, os líderes de negócio concordam que as métricas utilizadas hoje para medir a produtividade não refletem verdadeiramente aquele que é o contributo humano. Surge assim uma oportunidade para repensar a equação da produtividade e as variáveis que melhor conseguem captar o contributo da força de trabalho.
Neste contexto, destacam-se três questões relevantes que devem ser avaliadas pelas organizações:
- A minha organização sabe quais são as competências necessárias para o negócio e conhece o que já tem internamente?
- A minha organização promove uma cultura de crescimento e os meus colaboradores revelam orientação para a aprendizagem?
- A minha organização tem políticas de saúde e bem-estar e promove um ambiente inclusivo?
Em contextos cada vez mais rápidos e incertos, as organizações têm de ser cada vez mais capazes de conhecer o seu talento interno, compreendendo quais as competências que têm internamente e aquelas que têm de desenvolver ou “comprar” para fazer face aos crescentes desafios.
No entanto, a deteção das competências por si só não é suficiente; só uma mentalidade de crescimento e capacidade de aprender, desaprender e reaprender irá permitir aos colaboradores navegar a médio-longo prazo nestes ambientes. Por outro lado, e enquanto denominador comum a toda a equação, coloca-se o tema do bem-estar e o seu impacto na produtividade da força de trabalho. As organizações devem, por isso, promover ambientes que fomentem a segurança psicológica, confiança e o sentimento de pertença.
E onde entra a tecnologia? Se esta é tão promissora, porque é que os ganhos de produtividade são tão marginais? A história tem-nos mostrado que o retorno do investimento em novas tecnologias não acontece com a sua simples aquisição ou integração e que muitas vezes as empresas falham no processo de gestão da mudança ou na sua capacidade para fazer o reskilling e upskilling dos colaboradores ao ritmo acelerado da evolução tecnológica.
Para poder concretizar todo o potencial da IA e de outras inovações, importa que as organizações assegurem o redesenho do trabalho, os seus workflows e a forma como o trabalho é feito. Esta é uma área crítica a endereçar tendo em conta que 67% das organizações inquiridas não o fazem atualmente, nem sentem estar a fazer o suficiente para mobilizar os colaboradores para a sua adoção.
A verdade é que a IA já está a aumentar a capacidade de trabalho em algumas tarefas e a exigir uma mudança profunda de competências, colocando as empresas que gerem o seu talento e baseiam os seus modelos de trabalho em competências mais bem posicionadas para se adaptarem de forma ágil à entrada de novas tecnologias, às exigências futuras do mercado de trabalho e menos permeáveis aos impactos da escassez de competências.
Colocar as pessoas no centro da transformação surge assim como um fator determinante para que os esforços e investimentos das organizações se materializem em ganhos efetivos de produtividade e bem-estar.
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