Smart Homes: de inteligentes a sustentáveis

  • Patrícia Pimenta
  • 11 Novembro 2020

As novas tecnologias representam uma grande oportunidade, não apenas para aumentar o conforto das nossas casas mas também para conseguir maiores poupanças de energia.

O mundo em que vivemos é cada vez mais elétrico e, em consequência, as nossas casas também. Na Europa, as habitações são responsáveis por 34% das emissões de CO2 e espera-se que o consumo elétrico se multiplique por dois em 2050. Para além disso, a atual pandemia levou-nos a transferir a maioria das nossas atividades para casa, assim levando a um aumento da procura por energia elétrica – de facto, durante o confinamento as faturas elétricas chegaram a aumentar em mais de 50%. Assim sendo, devemos ganhar consciência sobre esta situação e passar à ação. As novas tecnologias representam uma grande oportunidade, não apenas para aumentar o conforto das nossas casas mas também para conseguir maiores poupanças de energia.

A oportunidade atual

Os estudos indicam que as tecnologias para Smart Home permitem melhorias de cerca de 15%, que podem ir até aos 25% se incluirmos soluções de climatização. Isto contribuiria para alcançar uma Europa neutra em termos climáticos até 2050, com habitações de consumo energético nulo e capazes de produzir, gerir, controlar, armazenar e até devolver energia à rede de forma inteligente.

Nesta linha, para além do já existente Fundo de Eficiência Energética europeu, a Comissão Europeia apresentou em outubro uma estratégia para melhorar o rendimento energético dos edifícios na União Europeia e, por outro lado, o plano de recuperação europeu atribuiu a Portugal 12.9 mil milhões de euros: dispomos agora da oportunidade de transformar e modernizar o investimento em infraestruturas com uma abordagem sustentável e digital.

Outro dos aspetos de que o setor pode beneficiar é a chegada de financiamento para projetos que prevejam a industrialização da construção, ou seja, a fabricação própria de componentes para posterior montagem no local. Isto permitiria fomentar a economia circular, a eficiência operacional e energética e a digitalização do processo construtivo, entre outras vantagens.

O Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU) 2020 reportou ter aumentado a sua execução nos últimos meses, mesmo apesar da pandemia, consolidando-se num investimento de 704 milhões de euros para a reabilitação integral de edifícios e a melhoria do seu desempenho energético – o que demonstra a importância crescente deste tema no país.

Muito mais que dispositivos conectados

Superar as atuais ineficiências dos edifícios passa por dotar as casas de verdadeiros sistemas inteligentes. É certo que são cada vez mais as que contam com algum tipo de dispositivo inteligente – os assistentes de voz, por exemplo, são cada vez mais populares –, mas não se trata apenas de contar com aparelhos conectados; há que pensar para além do conforto. As tecnologias inteligentes devem ajudar-nos a mudar radicalmente a nossa forma de viver – por exemplo, permitir aos proprietários saber como funcionam realmente as suas casas e se consomem ou desperdiçam mais energia que o suposto. Caso contrário, não só não poderão melhorar o impacto ambiental da casa, como este vai piorar, uma vez que manter os dispositivos sempre ligados requer um maior consumo de energia.

Para além de elevar o conforto dos ocupantes a níveis inéditos, conectar e integrar dispositivos inteligentes aumenta a eficiência e a sustentabilidade das casas, oferecendo visibilidade sem precedentes sobre a utilização que se faz da energia. Este conhecimento permite que os proprietários entendam melhor o seu consumo e o ajustem em função dos seus objetivos – e até que evoluam para uma casa neutra em carbono, caso o sistema traduza o consumo de energia em emissões de CO2.

Por outro lado, ao adicionarmos Inteligência Artificial e Machine Learning teremos um sistema de gestão de energia inteligente de ponta a ponta, que será capaz de aprender e antecipar quando, onde e quanta energia é necessária para iluminar ou aquecer de forma eficiente um determinado espaço, evitando assim que o proprietário necessite de controlar diariamente o seu consumo. Tudo isto pode resultar numa redução de 50% do consumo de energia e dos custos de aquecimento elétrico, sem renunciar ao conforto.

Energias sustentáveis para um futuro descarbonizado

Outra das peças-chave para conseguirmos casas neutras em carbono são as energias renováveis que, uma vez integradas na rede, armazenadas e geridas mediante medidores inteligentes, poderão aumentar drasticamente o conhecimento e o controlo do proprietário sobre a energia que utiliza, o que resultará numa casa não apenas mais sustentável, mas também mais resiliente.

Neste sentido, são várias as tendências que favorecem a penetração das energias renováveis no mercado residencial. Por um lado, os progressos da tecnologia solar vão facilitar a sua entrada em mais casas. Por outro, os veículos elétricos, cada vez mais populares, poderão funcionar como sistemas de armazenamento sempre que necessário. E não esqueçamos os “prosumers” (ao mesmo tempo produtores e consumidores), que não só vão produzir a sua própria energia a partir das renováveis, mas também alimentar a rede com ela. Finalmente, a Comissão Europeia prevê reforçar a regulamentação, os padrões e a informação sobre o rendimento energético dos edifícios, tanto no setor público como no privado.

Até agora, os dispositivos para Smart Home ajudavam os proprietários a maximizar o seu conforto, facilitando o controlo dos vários elementos de uma casa. No entanto, as novas tecnologias vão muito mais além e permitem uma gestão verdadeiramente inteligente do consumo energético – e assim, unindo-se a utilização de energias limpas, temos o segredo da evolução para as casas neutras em carbono que nos exige o futuro do planeta.

  • Patrícia Pimenta
  • Vice-Presidente para a Ibéria - Home & Distribution, da Schneider Electric

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