Subida da eletricidade leva à pobreza energética das famílias
Só a falta de isolamento térmico adequado pode representar entre 30% a 60% das perdas térmicas. E o baixo desempenho de vãos, com caixilharias desadequadas, representam entre 25% a 30% dessas perdas.
Segundo a Eurostat, no segmento doméstico, Portugal é o país que tem a carga fiscal sobre a eletricidade, mais elevada (47%). À frente está apenas a Dinamarca (67%) e a Alemanha (52%).
Onde, os portugueses, mais gastam eletricidade? Nas suas casas, para as aquecer e arrefecer.
O Ministério do Ambiente abriu recentemente candidaturas aos “vales eficiência” a famílias economicamente vulneráveis, no valor de 1.300€ acrescido de IVA, “para que estas possam investir na melhoria do conforto térmico da sua habitação, quer por via da realização de intervenções na envolvente, quer pela substituição ou aquisição de equipamentos e soluções energeticamente eficientes” – lê-se no aviso.
Convém lembrar que 1.300€ não chegam para intervir na envolvente e melhorar o conforto térmico, não dá quase para a substituição de uma janela. Sobre equipamentos, não é o suficiente para um Kit de instalação de painéis fotovoltaicos. Ora, onde vão as famílias portuguesas investir? Em mais equipamentos, que consomem energia, para climatizar as suas casas.
Temos assim uma pescadinha de rabo na boca. Os vales disponibilizados irão, inevitavelmente, aumentar o consumo de energia com a agravante de que o preço da eletricidade já sofreu alterações a 1 de outubro, ficando mais elevado.
Num inquérito realizado no início deste ano, pelo Portal da Construção Sustentável (PCS), sobre a construção de edifícios e suas implicações no consumo energético, ficou claro que a energia consumida em casa é essencialmente para fins de aquecimento e arrefecimento e que a maioria da energia consumida é proveniente da rede nacional (88%). Foram 55% os participantes, que dizem necessitar de equipamentos para aquecer a sua casa, indicando que muitas vezes também associam o aumento de camadas de roupa por não poderem “gastar mais dinheiro” com a fatura energética (74%).
É, por isso, pertinente pensar no combate à pobreza energética através da reabilitação sustentável dos edifícios. Só a falta de isolamento térmico adequado pode representar entre 30% a 60% das perdas térmicas. E o baixo desempenho de vãos, com caixilharias desadequadas, representam entre 25% a 30% dessas mesmas perdas.
É nestes elementos que é necessário apostar e é desta forma que o Governo tem que encarar o problema.
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