“Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água”
A partir da “pegada de água” é possível fazer ajustes e tomar ações corretivas ou compensatórias associadas, especificamente, a determinado produto, processo ou organização.
“Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água”
Benjamin Franklin
À frase de Benjamim Franklin arriscamo-nos a acrescentar “Tomem-se decisões sobre a água”. Há decisões a tomar, mas para tal, precisamos de avaliar, com rigor e seriedade, afinal, que água consumimos e para que fins. São ou não os agentes económicos, nomeadamente na área agroalimentar, os grandes desbaratadores deste recurso?
Decerto que o leitor já, por diversas vezes, ouviu, leu ou comentou notícias relacionadas com os impactos da escassez e da poluição da água. O tema tem sido amplamente discutido, em especial quando causado por algum agente económico. O uso da água levanta, de facto, duas grandes questões. A primeira: como produzir riqueza necessária ao ser humano, desde logo para ter acesso ao mínimo de bem-estar, como casa e roupa para se proteger e alimentação para viver – bens que não estão assegurados universalmente – tendo em conta que essa produção de riqueza, quase sempre, necessita de água?
A segunda: como preservar a água que é um bem escasso e essencial à vida? As respostas que têm sido dadas advogam soluções mutuamente exclusivas. Partem do princípio que é obrigatória a escolha entre uma coisa e outra. A realidade demonstra-nos que optar por uma em detrimento de outra não é viável. A resposta que propomos é: não escolher, mas sim, gerir.
Ora, qualquer gestor sabe que para gerir é preciso medir e, assim sendo, é preciso medir no concreto os consumos de água e os impactos da sua utilização em contextos específicos. Já é possível fazê-lo, haja vontade, nomeadamente com a aplicação do conceito de “pegada de água”.
Este termo está, cada vez mais, no domínio público porque concretiza uma questão até aqui abordada mais do ponto de vista ideológico (e, por vezes, demagógico) que do ponto de vista prático. Na prática, o termo “pegada de água” – utilizado, por exemplo, na norma ISO 14046 como resultado de uma avaliação de impacto que integra o ciclo de vida da água, identifica os impactos ambientais relacionados com o seu uso, atenta para as dimensões geográficas e temporais relevantes, quantifica a água utilizada e as mudanças na sua qualidade – é a base da gestão deste recurso.
A partir da “pegada de água” é possível fazer ajustes e tomar ações corretivas ou compensatórias associadas, especificamente, a determinado produto, processo ou organização. A aplicação desta norma permite, igualmente, fazer a gestão estratégica de riscos relacionados com a água, fornecendo informação coerente e fiável, baseada em evidências científicas.
Tudo isto para dizer que a discussão sobre o consumo de água tem de passar do geral para o concreto. Empresas devem avaliar os seus impactos, a opinião pública deve saber que acerca da água, como acerca de tudo, não é líquido que generalidades sejam verdades. Não é evidente, por exemplo, que determinada produção intensiva faça maior consumo de água do que uma extensiva. Depende.
Num momento em que a celebração do Dia Mundial da Água está mais presente, assinalemo-lo com a seriedade que merece, recordando-nos que o caminho do meio é, não raras vezes, o da virtude.
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