Trabalho híbrido: entre oportunidades e desafios
As empresas devem encontrar um equilíbrio entre a flexibilidade do trabalho remoto e os benefícios colaborativos do trabalho presencial para cultivar uma cultura vibrante e impulsionar a inovação.
A adoção acelerada do trabalho remoto ou híbrido, impulsionada pela pandemia, trouxe desafios significativos, especialmente na inovação, criatividade e transmissão da cultura empresarial. Embora o trabalho a partir de casa ofereça vantagens, como menor distração e economia de tempo de deslocação, os impactos na dinâmica organizacional são profundos e não devem ser subestimados.
Recentemente, tive a oportunidade de participar num evento sobre comportamento organizacional onde foram apresentadas algumas analogias biológicas e modelos matemáticos que explicam como a cultura empresarial é transmitida, ressaltando os impactos negativos do trabalho remoto nesta transmissão.
Esta experiência levou-me a procurar fundamentar devidamente a necessidade do aumento do tempo passado no escritório, sendo vários os estudos que encontrei, já que a pandemia criou condições únicas para investigação relacionada com o impacto de trabalho remoto.
De entre os vários que examinei, dois publicados na revista Nature foram particularmente esclarecedores.
O primeiro, intitulado “Os efeitos do trabalho remoto na colaboração entre trabalhadores da informação”, utilizou dados de 61.182 funcionários da Microsoft nos EUA. A análise focou-se em e-mails, calendários, mensagens instantâneas e chamadas de vídeo/áudio durante os primeiros seis meses de 2020.
Os resultados mostraram que a transição para o trabalho remoto reduziu a interconexão entre os grupos empresariais e enfraqueceu as redes informais que facilitam a colaboração através da empresa. Observou-se uma redução significativa nas interações que cruzam diferentes grupos, com os trabalhadores a manterem contacto mais frequente com colegas já estabelecidos, em detrimento de conexões mais fracas que geralmente fornecem novas ideias, perceções e informações.
O segundo estudo, chamado “O efeito da co-locação nas redes de comunicação humana”, analisou a transição para o trabalho totalmente remoto e posteriormente para o híbrido no MIT, observando as mudanças na estrutura da rede de comunicação digital.
Este estudo demonstrou como o distanciamento físico rompeu os chamados laços fracos – conexões entre partes distantes do sistema – que são essenciais para a circulação de novas informações. A reintrodução de um modelo híbrido conseguiu regenerar parcialmente esses laços, mas não permitiu atingir os níveis anteriores ao início do trabalho remoto.
Esses estudos sublinham a importância da presença física para manter redes de comunicação eficazes e promover a inovação dentro das organizações. As interações espontâneas no escritório, como encontros casuais na máquina de café ou durante o almoço, são inestimáveis para a troca de ideias e conhecimentos entre diferentes equipas.
Portanto, a conclusão é clara: a presença no escritório é crucial para a transmissão da cultura empresarial e para a promoção de um ambiente inovador, e as empresas devem encontrar um equilíbrio entre a flexibilidade do trabalho remoto e os benefícios colaborativos do trabalho presencial para cultivar uma cultura vibrante e impulsionar a inovação.
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