Um grupo empresarial familiar chamado Oasis
A maior banda britânica dos anos noventa está de volta – os fãs rejubilam e as três gerações da família Gallagher unem-se em torno de um negócio que esteve para não acontecer.
Há poucas semanas o grande empresário da indústria musical Alan McGee, o homem que descobriu e lançou os Oasis, disse que os irmãos Gallagher nunca se voltariam a juntar porque “a animosidade entre Noel e Liam está muito viva”. McGee estava errado. Os Oasis já declararam formalmente o seu regresso e preparam uma tournée de quatro concertos no Reino Unido para Julho de 2025.
Noel (57) e Liam (51) Gallagher separaram-se em 2009. De então para cá os comentários depreciativos trocados entre os irmãos fizeram as delícias dos tabloides britânicos e nunca ninguém sonharia que os Oasis renascessem. Então por que razão acaba de repente uma guerra onde tanto insulto trocado entre os irmãos se evapora como se nada tivesse existido, se fazem as pazes e se prepara um regresso estrondoso?
A explicação “oficial” é que Noel enfrenta um divórcio muito caro e encaixar £ 50 milhões por um punhado de espetáculos lhe faz muita diferença. Vendo Noel enfraquecido e a mulher fora do caminho, Liam aceitou a oferta de paz, depois de ter passado quinze anos a tratar o irmão mais velho por “cabeça de pau”, “o maligno” e, mais memorável e repetidamente, “a batata”. Neste contexto, é natural que Noel tenha resistido anos a voltar a falar com o irmão até que o seu novo contexto levou a uma série de telefonemas noturnos entre os irmãos, que terão levado Noel e Liam a ceder e enterrar o machado de guerra. É importante entender que o anúncio do divórcio de Noel em janeiro de 2023, após um casamento de 12 anos, terá sem dúvida pesado – mas não tanto por razões financeiras, mas pela má relação entre Liam e a mulher de Noel, uma grande pedra na estrada da relação ao longo dos quinze turbulentos anos de separação dos irmãos. Questionado em 2018 sobre o regresso dos Oasis Liam afirmou que isso não podia acontecer porque “A mulher do meu irmão nunca vai deixar”
Não se coloca em questão a animosidade de Liam com a cunhada nem o impacto positivo do divórcio para a reaproximação dos dois irmãos. Foram fatores importantes que marcam a hipótese para uma nova era de relações na família. Mas o fim da guerra acontece por outros fatores tão ou mais relevantes e onde a matriarca da Família joga o papel central.
A interpretação mais interessante desta história recente é o papel da Família na reunião dos dois irmãos – do entusiasmo e da idade da mãe, da boa relação entre irmãos e primos da terceira geração e do seu apoio ao regresso da banda dos Pais, da “frente unida “de avó e netos e até do próprio divórcio de Noel que abre caminho à sua fragilização e à saída de cena da cunhada para gáudio de Liam. Tudo gira à volta da Família. Temos a Família, mas onde está o negócio destes “grupos familiares”? No que não aconteceria se não houvesse esta nova paz: Nas receitas milionárias da tournée: bilhetes, merchandising, álbuns ao vivo… Este vai ser agora o “core business” da Família.
Em primeiro lugar, a amada mãe dos Gallagher, Peggy, tem 81 anos. Apesar de tudo o que se diz os irmãos têm uma ligação extremamente profunda e não gostariam que a última memória deixada à Mãe fosse dos filhos a brigar como um casal de crianças de dez anos. Peggy Gallagher tem tido de facto um papel chave a recuperar as relações no seio da Família. Uma de 11 crianças de uma família pobre de Charlestown, Peggy veio para Manchester aos 18 anos trabalhar a esfregar escadas. Casou-se, divorciou-se, criou os filhos sozinha e continua a ser o baluiarte amado e respeitado por todos. Por isso, pode-se advogar que tranquilizar Peggy, emocional e financeiramente, parece ser de facto a principal razão para aquela que será o maior regresso musical da década. “Obviamente, a nossa mãe está viva e fica aborrecida com isso porque acima de tudo está o facto de eu e ele sermos irmãos.” disse Liam. Agora é tempo de reparar os laços fraternos danificado e Peggy Gallagher está no centro do que é, acima de tudo, uma história de família
Em segundo lugar, há os filhos. “Tenho a sensação de que meu pai quer que os Oasis regressem”, disse Gene (de 23 anos) que tem dois irmãos, Lennon (24) e Molly (26). “Claro que eu e os meus irmãos apoiamos o mais possível”. Anaïs, de 24 anos, filha de Noel com os irmãos Donovan (17) e Sonny (14), foi fotografada a sair com os primos em 2023, sugerindo haver boas relações no seio da terceira geração. Como todos têm idade para ir a um concerto o entusiasmo em poderem ver os Pais ao vivo é evidente, enquanto será muito natural que Noel e Liam queiram brilhar aos olhos dos filhos e mostrar que eles formaram a banda britânica mais importante dos anos noventa … e que ainda é capaz de arrastar multidões.
Neste contexto, Peggy sentiu que era o momento certo para o regresso da banda dos filhos e usou esse instinto a seu favor juntando-se aos netos numa frente comum que percebe haver de facto um conjunto de fatores talvez único: o País está a viver um momento positivo graças ao forte suporte popular ao governo trabalhista, os Stone Roses (os grandes heróis dos Gallaghers) tinham voltado a juntar-se em 2011 depois de o seu guitarrista, John Squire, ter prometido que nunca o fariam, tocando para enormes multidões e, no ano passado, os arquirrivais dos Oasis, Blur, deram dois concertos no Estádio de Wembley e provaram o apelo intergeracional de canções que captaram o espírito melancólico e despreocupado da Grã-Bretanha dos anos noventa. Os Oasis foram a última grande banda de britânica dessa era e por tudo isto Este é o momento certo para voltarem ao palco.
Será que vai resultar? Os Oasis ao vivo não eram considerados uma banda espetacular e o repertório assentava sobre canções melódicas que ficavam no ouvido, mas eram demasiado simples em termos técnicos. No entanto, o sucesso e o entusiasmo que geraram vinha dessa mesma simplicidade, por fazer com que parecesse que qualquer um de nós pudesse de estar ali no lugar deles.
E agora, como será desta vez? “Se vai acontecer, tem de ser bom. Liam sabe que tem de ser o melhor que já foi“, disse Noel. Os comentadores em geral dizem para não nos surpreendermos se houver alguns solavancos no caminho para Wembley. Ainda assim, um concerto de reencontro da banda mais engraçada, loucamente audaciosa, escandalosamente básica e ainda assim brilhante dos anos noventa? Não vai haver quem não esteja na fila da frente para os rever. Para já, o contexto é auspicioso – este fim de semana a procura física de bilhetes ultrapassou as expectativas e levou a que os mais baratos, plateia de pé, disparassem de 148 para 355 GBP em poucas horas. Hoje, segunda-feira, esgotaram os quatro.
A interpretação mais interessante desta história recente é o papel da Família na reunião dos dois irmãos – do entusiasmo e da idade da mãe, da boa relação entre irmãos e primos da terceira geração e do seu apoio ao regresso da banda dos Pais, da “frente unida “de avó e netos e até do próprio divórcio de Noel que abre caminho à sua fragilização e à saída de cena da cunhada para gáudio de Liam. Tudo gira à volta da Família. Temos a Família, mas onde está o negócio destes “grupos familiares”? No que não aconteceria se não houvesse esta nova paz: Nas receitas milionárias da tournée: bilhetes, merchandising, álbuns ao vivo… Este vai ser agora o “core business” da Família.
Por isso, o regresso acaba por se materializar na emergência de um Grupo Familiar, com um negócio muito claro e interesses pessoais perfeitamente alinhados, só possível por uma maturidade, um sentido de responsabilidade e uma visão da família que os irmãos não tinham quando se separaram. Os Oasis podem vir a ambicionar longevidade e juntar-se aos Bee Gees, aos Dire Straits, aos Radiohead ou obviamente os Jackson 5 que, apesar da saída de Michael já na sua adolescência, ainda deram muitos concertos juntos durante anos. E se os filhos de Liam e Noel tiverem força em palco, podem trazer para o mundo real o nec plus ultra das bandas de família, a mãe e os cinco filhos todos em palco… ainda alguém se lembra da Família Partridge ?
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