Depois dos incêndios no Norte e Centro do país, empresários fazem contas aos prejuízos e aguardam os 300.000 euros prometidos pelo Governo para darem um novo rumo aos negócios.
Naquela segunda-feira, 16 de setembro de 2024, Luís Capela assistiu, resignado, às chamas reduzirem a cinzas a empresa que construiu durante 30 anos com um prejuízo que ultrapassa os três milhões de euros. “Perdi três casas em madeira prontas a entregar, maquinaria e camiões”, um deles ainda está debaixo dos escombros. “Só restou a minha casa”, diz o empresário. Mais de um mês depois, da janela da sua casa, situada no mesmo terreno em Albergaria-a-Velha onde construiu a empresa, uma quinta pedagógica e boxes para criação de cavalos puro-sangue lusitano, não se avista verde, dominam os tons cinza e nem os quatro cavalos se salvaram. “Estamos a fazer o luto do que se passou”, afirma o dono da empresa Luís Capela Construções.
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Agora faz contas à vida e carrega o peso da incerteza do futuro da empresa. “Comprei há 14 anos este complexo com 20 hectares, onde investi tudo o que tinha e o que não tinha. Perdi tudo”, diz. “Se continuar assim, receio ter de fechar portas, porque arderam os camiões, maquinaria e todas as ferramentas que tinha para trabalhar. E os clientes ficaram sem as três casas de madeira, no valor de 120.000 cada uma”, detalha.
A agravar a situação, “a indústria situa-se no meio do mato e não fazem seguros para estas zonas, porque são de risco elevado”. Diz-se, assim, de mãos atadas à espera, o quanto antes, dos apoios prometidos pelo Estado para salvar o negócio e os dez postos de trabalho.
Perdi três casas em madeira prontas a entregar, maquinaria e camiões. […] Só restou a minha casa.
A 17 de outubro o Conselho de Ministros aprovou o aumento do teto do apoio por projeto às empresas do Norte e Sul do país afetadas pelos incêndios, de 200 para 300.000 euros. Ainda assim, Luís Capela não faz ideia de como será o processo. “Já cá esteve o presidente, uma vereadora e técnicos da autarquia para verem o estado em que isto ficou. Há quem diga que é cenário de guerra, de inferno. Nem sei se vou receber apoio.” A mesma incerteza é partilhada por outros empresários de Albergaria-a-Velha que já entregaram a relação dos prejuízos à câmara que depois os encaminha para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Centro.
Este é um dos concelhos mais fustigados pelas chamas que causaram a morte de nove pessoas e ferimentos em 170, e consumiram cerca de 135 mil hectares de floresta no Norte e Centro de país, entre 15 e 20 de setembro, contabilizou a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, apoiada no relatório da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) sobre os incêndios. Os prejuízos totais ainda estão a ser calculados, mas o Ministério das Finanças já libertou 100 milhões de euros e já foram feitos pagamentos de até seis mil euros para prejuízos agrícolas. Entretanto, a Comissão Europeia, através dos fundos de coesão, vai atribuir 500 milhões de euros a Portugal para apoiar as vítimas dos incêndios de setembro.
Prejuízos de 30 milhões em Albergaria-a-Velha
Só em Albergaria-a-Velha as chamas causaram um prejuízo de 30 milhões de euros, sem contabilizar o valor económico dos 8.800 hectares de área florestal ardida, de acordo com o levantamento feito pela autarquia do distrito de Aveiro a 7 de outubro. Entre os danos constam 8,9 milhões de euros em imóveis de habitação,
4,3 milhões de euros em infraestruturas municipais e 2,2 milhões de euros em agricultura e de floresta ardida.
O autarca António Loureiro já contabilizou mais de 60 habitações total ou parcialmente consumidas pelas chamas, e dezenas de empresas afetadas, como é o caso do negócio de Fernando Campos. Depois do incêndio, o empresário faz contas à vida após ter perdido parcialmente a empresa de máquinas agrícolas Fersilca e contabilizar mais de 1,5 milhões de euros em prejuízos. “O fogo destruiu tratores, alfaias agrícolas, empilhadoras, viaturas e máquinas de clientes para reparação que estavam na oficina que ficou completamente destruída”, descreve.
O fogo destruiu tratores, alfaias agrícolas, empilhadoras, viaturas e máquinas de clientes para reparação que estavam na oficina que ficou completamente destruída.
Apesar de parcialmente destruída pelo fogo, a Fersilca continua a laborar de forma condicionada. “Não podemos ainda tirar o material que está nos escombros, e que será depois sucata, enquanto os peritos da Seguradora não derem instruções”, conta, desolado.
Fernando Campos já contabilizou alguns dos estragos e entregou um relatório ao município. “Mas não fazemos ideia que tipo de apoio podemos receber do Estado.”
Gondomar estima 15 milhões de prejuízos
Mais a Norte, os agricultores já declararam 1,4 milhões de euros de prejuízos devido aos incêndios, de acordo o portal da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N). Com 277,3 mil euros, Cinfães (distrito de Viseu) surge à cabeça como o concelho com o maior valor de perdas, seguindo-se Baião (Porto) com 166,3 mil euros. Na região nortenha arderam 69.800 hectares.
A autarquia de Gondomar já concluiu todo o levantamento de perdas relacionadas com privados, com exceção de danos florestais. “Neste momento, o valor relativo a danos em privados ronda os cinco milhões de euros e estima-se em dez milhões de euros os prejuízos em áreas públicas”, calcula.
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Depois dos incêndios, empresários aguardam apoios do Estado para recuperar os negócios
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