A feira do setor da papelaria e gift estreou-se na Exponor com mais de 35 empresas. Conheça algumas das novidades que prometem dinamizar a indústria.
Sublinhadores com aroma a fast food, esferográficas perfumadas, um “lápis infinito” que escreve sem parar até 20 quilómetros, cadernos inteligentes e mochilas feitas com plástico recolhido dos oceanos. Estes são alguns dos produtos inovadores que prometem dar uma nova dinâmica ao setor da papelaria e gift e combater a sazonalidade associada ao negócio.
Na edição de estreia, a Gift Paper juntou esta semana na Exponor, em Matosinhos, um total de 36 empresas, distribuídas por 1.600 metros quadrados. “Face à sazonalidade do setor, sentimos a nescidade de criar uma feira profissional que servisse de montra às principais novidades em papelaria e gift disponíveis no mercado mundial, cujos fatores diferenciadores e inovadores, potenciarão as vendas ao longo do ano, complementando assim os negócios provenientes da campanha de regresso às aulas”, explica ao ECO Miguel Borda, presidente da Associação de Profissionais de Papelaria e Gift (APPG).
A destacar-se pela inovação dos produtos está a JB Comércio Global, que começou em 1998 por ser um cash & carry para profissionais do setor de papeleira, mas em 2020 apostou em outro nicho de negócio e começou a importar e a distribuir marcas de gifts exclusivas.
O caderno inteligente, as esferográficas perfumadas e os sublinhadores com aromas a bacon, piza ou Coca-Cola foram alguns dos produtos que a empresa de Vila do Conde ali apresentou e que mais despertaram a curiosidade dos visitantes.
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“São marcas exclusivas com um fator diferenciador e inovador”, explica ao ECO a relações públicas da JB Comércio Global. “Trazemos estas marcas para Portugal para revolucionar o setor da papelaria que normalmente está mais estagnada”, descreve Andreia Costa.
Trazemos estas marcas para Portugal para revolucionar o setor da papelaria que normalmente está mais estagnada.
O caderno inteligente, que pertence a uma marca brasileira, permite a personalização de todas as partes que o constituem, nomeadamente retirar e recolocar folhas, fichas, separadores, capas, estojos e até adicionar acessórios (estojos, espelhos, alças). O caderno custa entre 20 a 30 euros dependendo do tamanho e do modelo.
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Este caderno que pode ter cores neutras, padrões ou até brilhar no escuro, é direcionado para um público feminino jovem. Para chegar a mais pessoas, a empresa tem vindo a fazer colaborações com influenciadores, como a cantora Bárbara Bandeira. A empresa já tem o caderno inteligente disponível em mais de 200 pontos de venda.
A porta-voz da empresa vila-condense, que emprega 30 pessoas e fatura cerca de 3,5 milhões de euros, detalha que esta “funcionalidade possibilita o uso racionalizado dos recursos do nosso planeta, uma vez que só é necessário utilizar as folhas de papel que realmente vamos usar, combatendo assim o desperdício de papel”.
Lápis que escrevem sem parar até 20 quilómetros
Além dos cadernos inteligentes, a JB Comércio Global é distribuidora da marca brasileira Newpen e entre os produtos mais inovadores estão os sublinhadores com cheiro a fast food (piza, bacon, pipocas, Coca-Cola e Guaraná), os marcadores perfumados de laranja, chocolate, morango, maça, maracujá, mirtilo, melancia e banana e as esferográficas perfumadas com cheiro a menta, rosa, lavanda ou até mesmo café. O sublinhador e a esferográfica perfumada custam 1,80 euros e 0,90 cêntimos, respetivamente.
“Queremos continuar a investir em artigos perfumados, com um certo diferencial como a coleção de fast food porque as pessoas aceitam muito bem estes produtos”, conta ao ECO a relações públicas da JB Comércio Global. “Quem escreve todos os dias consegue sentir o cheiro que fica nos cadernos”, orgulha-se a porta-voz.
Outras das novidades que despertou a curiosidades dos visitantes foi o lápis infinito que escrevem cerca de 20 quilómetros, não precisa de ser afiados e não utiliza madeira. “O lápis é feito com uma tecnologia que comprime partículas de grafeno na ponta o que faz com que o desgaste seja muito mais lentamente e que seja usado durante muitos anos“, explica Andreia Costa.
As novidades não ficam por aqui e a empresa de Vila do Conde estava a expor as garrafas térmicas e reutilizáveis da marca espanhola Cool Bottles. Com uma tecnologia de camada tripla, estas garrafas permitem conservar a temperaturas frias no interior até 36 horas e quentes até 18 horas. Custa entre 20 a 30 euros, mediante o tamanho e modelo.
Mochilas feitas com plástico resgatado do oceano
A Ambar, empresa de material escolar e de escritório, também marcou presença nesta primeira edição da Gift Paper, essencialmente para mostrar a coleção do próximo regresso às aulas e para receber clientes de vários pontos do país.
Uma das novidades é a coleção “Ambar Cycle” que é totalmente produzida com matérias-primas recicladas. Quer a marroquinaria, quer os artigos em papel.
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As mochilas são feitas com polietileno tereftalato reciclado que “é obtido essencialmente de garrafas de plástico encontradas no oceano e de outras fontes de material reciclado”, detalha o diretor geral da Ambar. O conceito da coleção está baseada nos quatro elementos da natureza: a terra, a, agua e fogo. As capas dos cadernos são produzidas com pasta de algodão de peças de roupa recicladas.
“As matérias-primas recicladas são mais caras, mas acabamos por sacrificar as margens e manter o mesmo PVP”, diz Pedro Castro, que está a fazer a comparação com as mochilas tradicionais. Acrescentando que “é mais caro produzir papel reciclado que papel virgem”. O diretor geral da Ambar “pede mais atenção legislativa” e lamenta que o produto reciclado tenha o mesmo imposto” — “dificilmente um produto reciclado pode ser competitivo”.
A Ambar também desenvolveu em 2021 um caderno eco smart, à semelhança do caderno inteligente da JB, que está a ganhar expressão. “É um caderno que está a ser cada vez mais adotado nas escolas e em escritórios”, refere Pedro Castro. “Nos anos seguintes à introdução do caderno no mercado, notamos um volume muito grande nas recargas de folhas, o que significativa que as pessoas compraram o caderno e continuam a usa-lo”. O caderno poderá custar entre 7 a 20 euros, mediante o tamanho e as capas.
Com fábrica e armazém de produto acabado na zona industrial do Porto, uma unidade produtiva na Várzea (Barcelos) e outra em Perelhal, no mesmo concelho, onde está a equipa comercial, de marketing e desenvolvimento de produto, a Ambar vende diretamente para mais de 40 clientes, emprega 75 pessoas, fatura oito milhões de euros e exporta cerca de 30% da produção para 30 países.
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À semelhança da Ambar, também a Ancor, que se apresenta como a maior fabricante portuguesa de artigos de papelaria, marcou presença nesta feira para apresentar as coleções de regresso às aulas para 2025.
Francisco Correia, administrador da Ancor e também sócio fundador da Associação de Profissionais de Papelaria e Gift, realça que “desde 2015 não existiam feiras do setor em Portugal” e todos os anos marcaram presenças em feiras internacionais. “Temos todo o interesse em fazer e participar numa feira no nosso país”, diz o gestor.
Fundada em 2002 no Marco de Canaveses, a 1 Bigo importa e distribui produtos de gift. Marcou presença no evento que serve como “montra”, já que “normalmente as apresentações são feitas por catálogo”.
A grande maioria (90%) dos produtos da 1 Bigo são licenciados (clubes de futebol: FC Porto, SL Benfica, Sporting CP e Federação Portuguesa de Futebol) e o mundo de fantasia pesa 60% da faturação (Stitch Disney). Emprega oito pessoas e fatura 1,5 milhões de euros. Tem cerca de 400 cliente e vende para retalhistas (papelarias, bazares, quiosques, tabacarias).
Sazonalidade, cobranças e impostos
As maiores ameaças para o setor são a sazonalidade das vendas, as cobranças, a concorrência externa, o custo das matérias-primas e os impostos, nomeadamente a taxa de IVA de 23% no material escolar. Perante os desafios, o setor pede a intervenção do Governo para impulsionar uma nova dinâmica ao setor.
Miguel Borda, presidente da Associação de Profissionais de Papelaria e Gift (APPG), que conta com 45 associados que empregam mil pessoas, não tem dúvidas de que o “maior problema que o setor enfrenta é a sazonalidade”. Uma opinião partilhada pela Ambar e pela Ancor.
O porta-voz da associação que representa o setor realça que esta primeira edição desta feira “permite aos profissionais do setor apresentar as coleções de regresso às aulas, mas também os produtos que podem vender ao longo do ano”. Miguel Borda afirma que é premente uma mudança de mentalidades, já que a maior parte dos lojistas de papelaria em Portugal só trabalham um período: o regresso às aulas.
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Por outro lado, o líder da associação realça a necessidade das “empresas trabalharem com outras tipologias de produto”. Caso contrário não vão conseguir sobreviver“, avisa. Apesar de não ter o número para Portugal, Miguel Borda contabiliza que em Espanha fecharam entre 3.000 a 3.500 lojas entre papelarias e livrarias em 2023.
Exemplo disso é a Ambar, que em 2014 passou para as mãos dos barcelenses José Manuel Ferreira (presidente do grupo Valérius) e José Costa (CEO da Becri). Rem vindo a apostar nos últimos anos em outras áreas estratégicas para fugir à sazonalidade e ter uma faturação mais regular ao longo do ano. Apesar desta aposta, o material escolar continua a pesar 50% nas vendas da empresa.
Sentimos cada vez mais sazonalidade no que toca ao material escolar. No entanto temos outras áreas de negócio que nos permitem equilibrar o volume de negócios em outros meses.
“Sentimos cada vez mais sazonalidade no que toca ao material escolar. No entanto temos outras áreas de negócio que nos permitem equilibrar o volume de negócios em outros meses. O escolar concentra-se nos meses de junho, julho e agosto — é a altura em que a distribuição moderna e a tradicional aprovisionam os produtos para fazerem as vendas em setembro”, explica Pedro Castro, diretor geral da Ambar.
Por outro lado, o porta-voz da Ambar detalha que a campanha de escritório, agendas e papel de embrulho tem mais expressão no final do ano, enquanto os brinquedos educativos têm distribuição ao longo de todo o ano.
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Ricardo Fonseca, dono da 1 Bigo, que importa e distribui produtos de gift, realça que os maiores desafios são a “concorrência externa, essencialmente espanhola” e as “cobranças” tendo em conta que recebem a 60/90 dias.
O administrador da Ancor justifica a sazonalidade pelo “tipo de produtos que fabricam” – escola e escritórios”. “As nossas duas sazonalidades são os produtos de regresso à escola que acontece em setembro e a mudança de arquivo nas empresas que acontece na mudança do ano fiscal”, explica Francisco Correia. O gestor antecipa que fora destes tempos “há um consumo permanente desses produtos, mas muito abaixo daquilo que é conseguido nestes dois momentos específicos”.
Atuamos em 36 países e tentamos contrariar a sazonalidade com a diversificação de mercados.
A Ancor, que emprega 140 pessoas e fatura 15 milhões de euros, tenta combater a sazonalidade com recurso à exportação que pesa 50% da faturação. “Atuamos em 36 países e tentamos contrariar a sazonalidade com a diversificação de mercados“, afiança Francisco Correia.
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Face ao aumento do preço das matérias-primas que fez a Ancor perder clientes para o mercado asiático em 2023, o administrador pede uma redução na taxa de IVA no cabaz básico dos produtos escolares”. Na ótica do administrador seria uma forma de “aliviar o custo que as famílias têm com estes produtos e dar uma nova dinâmica ao setor”.
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