OPEP: Há ou não acordo para limitar o petróleo?
Estamos a poucas horas de saber se a OPEP vai ou não conseguir chegar a um importante acordo. O mercado parece convencido de que é desta. O Brent dispara mais de 7%, muito perto dos 50 dólares.
Chegou o dia D para a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O cartel está há meses a tentar definir as bases de um acordo para limitar a produção de petróleo. E essas bases tinham de ficar definidas até à próxima reunião, esta quarta-feira. O ceticismo tem dominado o sentimento dos investidores, mas hoje .parece estar tudo a mudar. O mercado parece convencido de que é desta. O Brent está a disparar mais de 7%, muito próximo dos 50 dólares. Mas caso o cartel não chegue a um acordo, os preços da matéria-prima podem regressar aos 43 dólares por barril.
“A ratificação do acordo — isto é, a definição e imposição dos limites de produção dos vários membros da OPEP — é a maior incerteza da reunião que decorrerá no dia 30 de novembro“, diz a equipa de research do BiG. “Ainda que o acordo tenha sido atingido nas reuniões informais que decorreram durante o Fórum Internacional de Energia, as negociações que decorreram posteriormente, com os objetivos de estabelecer os limites de produção dos membros e de alargar os cortes de produção para não-membros (nomeadamente Rússia), não parecem ter sido bem-sucedidas“, explica o BiG.
A Rússia tem, até agora, resistido aos pedidos dos outros produtores para se juntar num corte da produção. Em vez disso, o país ofereceu-se para congelar a produção nos níveis atuais. O ministro da Energia russo, Alexander Novak, insiste que a OPEP tem de chegar a um consenso sobre a redução da produção antes de a Rússia decidir juntar-se a um acordo.
"Considerando também as mais recentes declarações do ministro de Energia da Arábia Saudita (líder de facto e o maior produtor do cartel), que indicou que talvez o ajustamento do mercado se dê do lado da procura (com um aumento desta), não sendo talvez necessário um corte na produção, a reunião da OPEP pode apenas terminar sem qualquer acordo, ou quiçá com apenas um acordo de congelamento aos níveis atuais, situações que desapontariam o mercado.”
A Patris Investimentos diz que a Rússia tem de ser tida em conta pelo seu posicionamento de relevo. “Há que ter em conta a Rússia, país que não pertence à OPEP mas cujo posicionamento será importante, não só no que se refere ao impacto que um eventual corte vindo da OPEP poderá ter na cotação em mercado, mas também no que se refere ao ‘jogo de forças’ entre os principais produtores a nível mundial (ou seja, no que se refere às quotas de mercado para os principais países)”, nota.
A definição das quotas de produção por país tem sido um dos temas discutidos nas várias reuniões. O cartel poderá reduzir a produção de petróleo para os níveis previstos distribuindo por igual as quotas de todos os países. Mas nem todos os países querem fazer parte deste acordo, o que aumenta as dúvidas no mercado.
Há dois motivos para este ceticismo: Irão e Iraque. Um analista do setor diz que “o Irão deseja manter-se à parte de qualquer corte, uma vez que deseja restabelecer os níveis de produção/exportação que tinha antes das sanções internacionais. O Iraque mantém uma guerra de recuperação de território face ao ISIS [autoproclamado Estado Islâmico], pelo que não pode prescindir de receitas da venda de crude”. No entanto, estes dois países não são os únicos a pôr entraves. “Países como a Líbia e a Nigéria vão manter-se fora do acordo, o que faz com que a possibilidade de aumento de produção destes países no futuro possa comprometer a própria razão de ser de qualquer corte”, refere o especialista.
Por todas estas razões, “será difícil chegar a um acordo para cortar produção”. O cenário mais provável será um de dois: manter a produção a níveis atuais ou não chegar a acordo. Existem muitas diferenças entre os principais países produtores na OPEP, nomeadamente no que diz respeito ao Irão e Iraque. Na última tentativa antes da reunião, o Irão propôs manter o nível de produção nos 3.975 milhões de barris diários, ou cerca de 200 mil barris acima da atual produção, segundo várias fontes que estiveram presentes nesse encontro. A Arábia Saudita fez uma contraproposta para deixar a produção nos 3.707 milhões de barris por dia, mais ao menos ao nível atual. Mas nada de concreto saiu da reunião.
“O que estamos a ver agora é um jogo da corda entre os membros da OPEP para ficar com a sua parte do bolo”, referiu Son Jae Hyun, analista da Mirae Asset Daewoo, à Bloomberg. “Se não for alcançado um acordo desta vez, nenhum deles sairá beneficiado”, acrescentou. De acordo com a Goldman Sachs, o mercado de petróleo atribui uma probabilidade de 30% de os países produtores alcançarem um acordo que permita travar a produção da matéria-prima.
Acordo não pode ser excluído
Apesar do ceticismo que dominou o mercado nos últimos dias, a hipótese de um acordo não pode ser totalmente excluída. “A chegada a um acordo para o corte é também um cenário que não pode ser descartado, especialmente considerando os esforços diplomáticos realizados por alguns membros para a chegada a um acordo”, diz a equipa de research do BiG.
No início deste mês, várias notícias avançaram que estava a ser feito um esforço diplomático final entre os membros da OPEP que permitisse travar o excesso de produção de petróleo e estabilizar os preços.
Mas há, segundo os analistas, um motivo mais forte para que seja alcançado um consenso: a fraca situação financeira dos países. “O que desta vez poderá revelar-se decisivo para confirmar um acordo é a deterioração na situação financeira de vários países da OPEP, após a forte queda na cotação do petróleo em 2014/15. Esta deterioração poderá servir de pressão para que se chegue a um acordo”, nota a Patris Investimentos. A Arábia Saudita, o maior produtor de petróleo, está a tentar reorganizar as suas finanças, fortemente penalizadas pela queda dos preços da matéria-prima.
Para o presidente da Partex, a Arábia Saudita está a sentir na pele as políticas que seguiu até agora, de produzir ao máximo para tentar minar a produção norte-americana. “A questão crucial é que a Arábia Saudita também está neste momento a tentar alcançar um acordo porque tinha uma almofada financeira muito grande, cerca de 800 mil milhões de dólares que criou na altura do boom dos preços do petróleo. Mas só o ano passado tiveram uma erosão de 85 mil milhões. Pela primeira vez este ano registaram um défice e já recorreram à emissão de obrigações”, explica António Costa Silva. Por este motivo, o presidente da Partex diz que “é a primeira reunião desde há muito tempo que eu penso que vai sair um acordo. Porque se não sair então é a descredibilização total” do cartel.
Com ou sem acordo, como vai reagir o petróleo?
Um acordo para limitar a produção não pode ser excluído, o que seria positivo para a cotação do petróleo. “Mesmo considerando que, no passado, o cartel não tem sido capaz muitas vezes de cumprir com o acordado, a reação deverá ser positiva, representando um suporte à cotação”, realça a Patris Investimentos. Poderemos mesmo verificar uma “consolidação do preço até aos 50 dólares por barril”, prevê José Correia, gestor da corretora XTB. E o mercado parece estar confiante de que será mesmo alcançado um acordo. O Brent está a disparar mais de 7% para os 49,78 dólares, muito próximo da fasquia dos 50 dólares.
Brent dispara mais de 7%
No entanto, este acordo pode falhar, uma vez que ainda há muitas diferenças entre os vários países produtores do “ouro negro”. E, neste caso, “é expectável uma reação negativa do crude, ainda que não projetamos que a mercadoria renove os mínimos de janeiro de 2016“, quando o petróleo se situou nos 27,88 dólares por barril, explica a equipa de research do BiG. José Correia, da XTB, diz que a matéria-prima poderá cair “até ao suporte dos 43 dólares por barril”. Mas o gestor acredita que a reação será temporária, já que “novos eventos irão suceder-se e terão um impacto no preço do ativo”.
A duração desta reação dependerá, segundo os analistas do BiG, de vários fatores: de a OPEP indicar que um acordo poderá decorrer no futuro caso o preço do crude volte a negociar em níveis insustentáveis; da evolução da produção por outros produtores extra-OPEP, como a Rússia e os Estados Unidos, e da evolução da procura de crude. “Caso estes fatores se desenrolem de forma a exacerbar o excesso de oferta no mercado, é expectável que o sentimento negativo do crude se perpetue”, dizem os analistas.
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