Dérbi lisboeta com vista para a liderança na bolsa

O Benfica defronta o Sporting ao final da tarde, num dérbi que vai disputar o primeiro lugar da Liga portuguesa. E tanto adeptos como investidores vão estar a torcer por uma vitória da sua equipa.

sporting-benficaLonge do entusiasmo frenético dos adeptos com o desempenho das equipas dentro de campo, as ações das SAD dos clubes portugueses há muito que se encontram num estado de depressão profunda. Joga-se este domingo mais um dérbi de Lisboa, relativo à 13ª jornada da Liga portuguesa. Quando a bola começar a rolar no Estádio da Luz, pelas 18h00, o 0-0 no placard bem poderia ser substituído por um monitor da Bloomberg a indicar que desde início do ano os títulos do Benfica perdem 7% e os do Sporting afundam 40%.

Mas para quem acompanha religiosamente a vida do clube, os altos e baixos da SAD na bolsa pouco importam. Afinal, é bastante mais importante saber se o avançado Jonas está recuperado a tempo de mostrar o serviço pelo qual foi considerado o artilheiro da última época. Ou saber qual será o sistema tático que o treinador Jorge Jesus vai implementar no jogo que pode colocar o Sporting na liderança do campeonato, um lugar atualmente ocupado pelo rival lisboeta.

De forma irónica, o mesmo acontece para quem investe nas ações das SAD. Quem o faz, fá-lo sobretudo porque o coração bate mais forte, escapando a uma realidade do mercado de capitais onde imperam a racionalidade dos fundamentais e as rígidas métricas de análise financeira e operacional das empresas.

Desde que foram constituídas, as SAD de Benfica (em 2007) e Sporting (em 1999) já desvalorizaram 67% e 84%, respetivamente, deixando as ações a cotarem nos 0,98 euros e 0,66 euros. Nunca pagaram dividendos — isto sem contar com o dividendo emocional que a cada fim de semana as equipas remuneram os seus adeptos. Do ponto de vista racional, vale a pena investir em ações dos clubes de futebol?

O dérbi na bolsa dá vantagem aos encarnados

Fonte: Bloomberg (Valores em euros)
Fonte: Bloomberg (Valores em euros)

Para Paulo Reis Mourão, professor de Economia da Universidade do Minho, “quem aposta num clube desportivo, geralmente espera um retorno social, mediático ou de intervenção política futura“. Já “o investidor profissional raramente aposta por emoção desportiva. Procura gerir a carteira no conjunto de opções de investimento e de perspetivas de retornos futuros”, explica este especialista em finanças do futebol.

Semedo e Gelson para o futuro

As contas mais recentes das águias e dos leões até foram positivas. A SAD liderada por Luís Filipe Vieira apurou um lucro recorde de 20 milhões de euros relativo ao exercício 2015-2016, suportado sobretudo pelas vendas milionárias de jogadores como Renato Sanches — ao Bayern Munique por 40 milhões de euros — quando na época transata jogava na equipa B encarnada.

Por outro lado, a SAD liderada por Bruno de Carvalho obteve o melhor trimestre de sempre no arranque da presente temporada, depois de registar um lucro de 63 milhões de euros entre julho e setembro. E também foram os negócios no mercado de transferências a colocar as contas no verde: o argelino Slimani foi vendido ao Leicester por 30 milhões; e João Mário, produto da academia leonina, foi cedido ao Inter de Milão a troco de 40 milhões.

"Quem aposta num clube desportivo, geralmente espera um retorno social, mediático ou de intervenção política futura. O investidor profissional raramente aposta por emoção desportiva. Procura gerir a carteira no conjunto de opções de investimento e de perspetivas de retornos futuros”, explica este especialista em finanças do futebol.”

Paulo Reis Mourão

Professor de Economia da Universidade do Minho

Atualmente, o futuro dos dois rivais lisboetas recai principalmente sobre os ombros de Nelson Semedo (Benfica) e Gelson Martins (Sporting), dois jovens valores formados nas respetivas escolas e em quem os responsáveis depositam grandes esperanças em termos de retorno desportivo e… financeiro. De acordo com o site Transfermarkt, o defesa dos encarnados está avaliado em sete milhões de euros e o ala leonino em 12 milhões. Ambos deverão ser aposta de Rui Vitória e Jorge Jesus para mais logo.

Se os papéis Benfica e Sporting poderão reagir na sessão desta segunda-feira em função do resultado final do dérbi, Reis Mourão salienta que essa movimentação do investidor se pode assemelhar à perspicácia do ponta-de-lança na antecipação ao defesa contrário no sentido de marcar golos. É aqui que a emoção se encontra com a razão.

Mais concretamente, “há expectativa de prize money futuro, antecipação de valorização das vendas dos direitos sobre jogadores e aumento das receitas publicitárias”, diz Reis Mourão. “E tudo contribuindo para um movimento de valorização das ações consolidado que premiará aqueles que primeiramente tiverem adquirido as ações no início desse mesmo movimento“, concretiza o docente.

No dérbi de mais logo, vai apostar em Jonas ou Bas Dost?

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