Ulrich: Contribuintes pagaram a banca? “É mentira”

  • Rita Atalaia
  • 18 Janeiro 2017

O presidente do BPI diz que os contribuintes não pagaram os problemas na banca. Fernando Ulrich diz que os acionistas é que enfrentaram a "destruição colossal" do capital.

Afinal quem é que pagou os problemas da banca? Fernando Ulrich nega que tenham sido os contribuintes. Para o presidente do BPI, os acionistas é que mais foram penalizados com a crise no setor financeiro. Apesar do apoio do Estado à banca, não foi suficiente para livrar os acionistas de perdas expressivas. Uma situação que está a mudar com a recuperação do setor. Houve alturas em que a intervenção do Estado foi maior e teve capital em risco. Mas agora já não é assim. Ulrich diz que o Estado tem agora mais margem de manobra.

Fernando Ulrich diz estar preocupado com o que tem visto e ouvido na comunicação social — nomeadamente declarações de comentadores — que passam a mensagem de que os contribuintes é que têm pago os problemas na banca. “É mentira”, diz o presidente do BPI num encontro com jornalistas. Os números “mostram que quem fez um grande esforço e teve perdas gigantescas foram os acionistas dos bancos” e revelam que “os vários governos protegeram muito bem os contribuintes”, realça Ulrich.

dr8a9366crp

No encontro com jornalistas, Fernando Ulrich apresentou as contas feitas pelo BPI com base em informação pública. Conclusões? O presidente do BPI diz que houve uma “destruição de capital acionista colossal”. Diz que é o equivalente a 19% do produto interno bruto de 2016. O presidente do banco português realça ainda que “os aumentos de capital foram praticamente destruídos ao longo destes anos. Exceto o BPI, porque o banco vale quase o dobro dos aumentos de capital feitos”.

As contas mostram uma destruição de cerca de 35 mil milhões de euros nos cinco maiores bancos portugueses – BES/Novo Banco, BCP, CGD, BPN e Banif – entre 2001 e 2017. E quais as consequências? Segundo o presidente do BPI, a distorção brutal da concorrência. Quando há uma destruição do capital “para quem geriu de forma mais rigorosa, a vida foi mais difícil do que se tivéssemos todos tido a mesma atitude”. Mas também a distorção brutal na alocação de recursos, acrescenta.

“Os 30 mil milhões de euros [que foram injetados pelos acionistas nos bancos] não evaporaram, não se perderam, nem foram numa mala para a lua.” Ulrich reconhece que uma parte significativa destas perdas pode estar com relacionada com empréstimos que os bancos fizeram mas não conseguiram recuperar.

Estado tem mais “margem de manobra”

Mas a intervenção do Estado já foi maior e já teve mais capital em risco. Com os aumentos de capital, a situação está a melhorar. Ulrich relembra que o Estado tem a participação na CGD, a garantia das obrigações do Novo Banco — que vão ser extintas sem que tenha de pagar — e os empréstimos ao Fundo de Resolução. Mas a lista já foi muito superior. Tem, por isso, “agora mais margem de manobra”, refere.

Isto numa altura em que se fala da possível nacionalização do Novo Banco. E quem é que esta opção — entre um conjunto que inclui venda ou liquidação — vai proteger? A banca.

Nesta hipótese, que está por certificar que é viável, tendo em conta os acordos assumidos com a Comissão Europeia, os bancos ganham de duas formas: recebem um valor pela venda do Novo Banco ao acionista Estado e libertam-se do risco do side bank.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Ulrich: Contribuintes pagaram a banca? “É mentira”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião