BPI fora do PSI-20. E quem completa os… 18?
O CaixaBank ficou com 84,52% na OPA. A Allianz não vendeu, a liquidez do BPI desapareceu. E a bolsa excluiu o banco do índice de referência. Sobram 17. Quem será a 18ª? É complicado.
O CaixaBank conseguiu quase 85% do capital do BPI na OPA. Reduziu de tal forma a liquidez das ações do banco ainda liderado por Fernando Ulrich que a Euronext Lisboa teve de excluir as ações do índice de referência. É menos visibilidade para o banco, mas também mais um problema para a bolsa nacional que tem agora de encontrar um substituto. É uma tarefa complicada. Mas há uma candidata que poderá conquistar o acesso à “primeira liga” da praça lisboeta, a Sonae Indústria.
Se o banco catalão ficasse com os 84,52% após a OPA, e não houvesse outro investidor de referência que permanecesse no capital, como aconteceu, o BPI ainda poderia militar no PSI-20 já que garantia liquidez. Mas a “Allianz não vendeu”, disse Gonzalo Gortázar. A seguradora alemã que detém cerca de 8% do capital não aceitou a proposta do CaixaBank, ficando com uma posição que reduz fortemente o número de títulos do banco disponíveis para negociação, de tal forma que a gestora da bolsa portuguesa teve de avançar com a exclusão das ações para evitar problemas no funcionamento do índice — um título sem liquidez pode impedir a correta formação de preço do PSI-20.
O BPI cumpre esta sexta-feira a última sessão na principal montra do mercado nacional, deixando depois o mercado de referência lisboeta com apenas 17 cotadas — já tinha acontecido o mesmo no final de 2015 aquando da resolução do Banif. O mínimo, segundo as regras do PSI-20, que são iguais às dos restantes mercados europeus da Euronext (Bruxelas, Amesterdão e Paris), são 18 cotadas (sendo que deveriam ser 20). Essa 18ª cotada só será incorporada na revisão anual, efetivada em março (dia 20), mas com base em dados dos 12 meses de negociação até 31 de janeiro.
As regras, que foram revistas em 2014, definem alguns critérios para a promoção de uma cotada ao índice nacional, essencialmente relacionados com a liquidez. O primeiro critério é o do free float, ou seja, as ações disponíveis para negociação (que não são detidas por acionistas de referência), que terá de ser superior a 15%, sendo o outro o da negociação de pelo menos 25% do capital disponível num período de 12 meses. Estes dois critérios afastam grande parte das cotadas portuguesas do PSI-20. E o último também: valor de mercado com base nos títulos disponíveis acima dos 100 milhões de euros.
As regras do PSI-20, em resumo:
- “As empresas que tenham um free float inferior a 15 % não serão selecionadas na revisão anual”, diz a Euronext. Ou seja, é necessário que estejam disponíveis para negociação pelo menos 15% das ações de forma a garantir a liquidez dos títulos.
- “As ações de uma empresa devem ter uma free float velocity de, pelo menos, 25%”, ou seja, o número total de ações transacionadas deve representar, no mínimo, 25% do número total de ações cotadas disponíveis para negociação (…) nos 12 meses relevantes para a revisão”.
- As empresas que cumprirem as regras de liquidez, devem também ter um valor de mercado com base no capital em bolsa de mais de 100 milhões de euros. “Por princípio, [devem] ter” esta capitalização mínima, diz a Euronext. Mas no final caberá ao Comité do PSI-20 a decisão.
Passadas as “pente fino” todas as cotadas nacionais — na revisão anual do índice partem todas as empresas em pé de igualdade, as do índice geral e as do PSI-20 — há duas empresas que se destacam, de acordo com os cálculos do ECO. Por um lado, a Ibersol. Por outro, a Sonae Indústria. São as melhores posicionadas para uma promoção, embora nem uma nem outra cumpram todos os requisitos. A dona de cadeias de restaurantes passa no free float, mas falha na negociação: no espaço de um ano, de acordo com dados da Bloomberg, apenas rodou 17% do capital disponível em bolsa. A Sonae Indústria não vale 100 milhões.
Mesmo sem os 100 milhões
Ambas têm falhas, mas a da Sonae Indústria é menos preocupante para a Euronext. A gestora quer garantir que tem sempre no índice de referência as empresas mais líquidas de forma a que não existam problemas com o funcionamento da “montra” da bolsa de Lisboa, pelo que a Ibersol deverá ser preterida apesar de ter uma capitalização acima dos 100 milhões. A Sonae Indústria tem um valor em bolsa reduzido, mas já no passado foram promovidas empresas com o mesmo problema. Está nas regras o patamar dos 100 milhões, mas no final caberá ao Comité do PSI-20 a decisão.
A Sonae Indústria não é uma estreante nas lides do índice de referência português. Já militou no mercado principal durante alguns anos, sendo que o seu regresso poderia engrossar a presença de empresas do universo Sonae no PSI-20 — não seria, mais uma vez, algo inédito tendo em conta que a própria Sonae Indústria já fez parelha com a Sonae e a Sonaecom. No índice principal estão, atualmente, a Sonae e a Sonae Capital, sendo que esta última entrou na revisão feita em 2016, juntamente com a Corticeira Amorim e as unidades de participação do fundo do Montepio.
A empresa que tem Paulo Azevedo como presidente fez em 2014 um aumento de capital que teve uma participação limitada, levando ao aumento da participação da Efanor, a holding do empresário Belmiro de Azevedo. Esta operação afundou o valor das ações para uma cotação muito reduzida. Atualmente, está a valer 0,006 euros, ou seja, 0,6 cêntimos. Apesar da queda acumulada este ano, sobe mais de 25% no espaço de um ano, acompanhando a recuperação das contas. Registou prejuízos de 21,3 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2016, uma melhoria de 24,7% face ao período homólogo.
Visibilidade… nos fundos
Só nas próximas semanas é que a gestora da bolsa portuguesa irá fazer a avaliação das empresas que podem ser promovidas ao índice principal. A Sonae Indústria será uma solução de recurso para ocupar o lugar deixado vago pelo BPI, completando assim as 18 cotadas, o mínimo exigido num índice que deveria ter 20 — chama-se PSI-20. Ainda há mais duas vagas, mas os cálculos realizados pelo ECO não apontam para mais candidatos à altura da entrada para a “montra” da bolsa de Lisboa.
Se a saída do BPI levou à queda acentuada das ações — parte da dimensão da queda é explicada também pela reduzida liquidez, que amplia os movimentos nos títulos –, a promoção ao índice tende a puxar pelas cotações. A integração de uma empresa no PSI 20 traz maior visibilidade e liquidez à ação, permitindo que um maior número de investidores, nacionais mas principalmente internacionais, procurem as ações. Estas ações são especialmente procuradas por fundos de investimento que procuram replicar o comportamento dos índices, aumentando a pressão compradora.
Nem todas as cotadas tendem a sair beneficiadas pela promoção ao PSI-20: a Teixeira Duarte, que várias vezes entrou e saiu do índice criado em 1993, raramente tirou partido desta “montra”. Contudo, empresas como a Corticeira Amorim e a Sonae Capital, as últimas a entrarem, registam bons desempenhos, sendo esses também resultado da capacidade que ambas têm tido em apresentar contas positivas, em crescimento, que se estão a traduzir em dividendos para os acionistas.
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