‘Banco mau’ do Estado angolano vai comprar crédito malparado à banca

  • Lusa
  • 22 Maio 2017

Inicialmente, a Recredit, a nova empresa pública angolana, uma espécie de 'banco mau', vai centrar-se na aquisição do crédito malparado na banca pública. Mas o Governo admite alargar aos privados.

A nova empresa pública angolana Recredit, uma espécie de ‘banco mau’ para concentrar ativos de cobrança duvidosa, vai começar a assumir o crédito malparado da banca pública, mas o Governo admite alargar a operação também às instituições privadas.

De acordo com o ministro angolano das Finanças, Archer Mangueira, citado esta segunda-feira numa informação daquele ministério, a Recredit “vem coadjuvar a banca nacional no domínio do crédito concedido, libertando-a de processos paralisados“, os quais a limitam no “cumprir uma das suas principais missões, a de conceder crédito à economia”.

Inicialmente, a Recredit “vai centrar-se na aquisição do crédito malparado na banca pública”, refere o Ministério das Finanças, que admite a hipótese de “adquirir créditos problemáticos em toda a banca que desenvolva atividades no território nacional, desde que relacionados com processos direcionados à economia angolana”.

A sociedade anónima de capitais públicos Recredit foi criada em 2016 e é participada a 100% pelo Ministério das Finanças, com o objetivo de absorver o crédito malparado do estatal Banco de Poupança e Crédito (BPC), um dos maiores do país, mas a missão foi alargada por decisão do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, em dezembro último, a toda a banca nacional.

Antes, em setembro, o Presidente e chefe do Governo angolano autorizou a emissão de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional no valor máximo de 231,127 mil milhões de kwanzas (1.250 milhões de euros), mas “com o objetivo exclusivo de serem utilizadas como contrapartida no processo de cedência de ativos do BPC”.

Para o ministro das Finanças angolano, que na sexta-feira apresentou a nova sociedade que vai gerir estes créditos aos responsáveis da banca que opera no país, trata-se de uma “pioneira” na resolução dos problemas financeiros envolvendo os bancos, admitindo que poucos países seguiram até agora este caminho.

“Pretendemos que esta empresa, detida pelo Estado, se transforme num veículo saudável e regenerador da nossa estrutura económica. Temos confiança em que os seus órgãos sociais e os seus quadros saberão percorrer com eficiência este caminho”, enfatizou o governante.

"Pretendemos que esta empresa, detida pelo Estado, se transforme num veículo saudável e regenerador da nossa estrutura económica. Temos confiança em que os seus órgãos sociais e os seus quadros saberão percorrer com eficiência este caminho.”

Archer Mangueira

Ministro angolano das Finanças

O crédito vencido na banca angolana atingiu em 2015 os 355,6 mil milhões de kwanzas (quase 2.000 milhões de euros), de acordo com um relatório da consultora Deloitte apresentado em novembro último, em Luanda.

O valor do crédito vencido, 13% do crédito líquido concedido, que em 2015 cresceu 6%, face ao ano anterior, para 2,736 biliões de kwanzas (14,8 mil milhões de euros), consta da 11.ª edição da publicação Banca em Análise, no qual a Deloitte analisa os resultados dos relatórios e contas apresentados publicamente pelos bancos que operam em Angola.

O estudo refere que a “constituição anual de provisões para o crédito dos bancos aumentou 107%” em 2015, ano em que, por sua vez, o volume de ativos agregado das instituições atingiu os 7,512 biliões de kwanzas (40,7 mil milhões de euros).

O responsável da Deloitte para o setor de Serviços Financeiros em Angola, José Barata, admitiu, durante a apresentação destes resultados, uma “deterioração da carteira de crédito” da banca angolana, que teve de fazer o dobro das provisões, face a 2014.

“Isso reflete uma necessidade de registar resultados negativos para fazer face a perdas na carteira”, enfatizou José Barata, admitindo que o crédito malparado “continua elevado” junto da banca angolana.

Angola vive desde 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra nas receitas petrolíferas, dificuldades afetam igualmente o setor bancário nacional.

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