Altice falou com outros grupos para além da Media Capital
A dona da Meo "desenvolveu relações" com outros grupos de media em Portugal para além da Media Capital. Grupo está disponível para assumir compromissos com os reguladores.
A Altice falou com outros grupos de comunicação social em Portugal para além da Media Capital. A informação foi confirmada por Alain Weill, diretor do segmento de media do grupo Altice, num encontro com jornalistas em Paris, esta segunda-feira. O responsável do grupo que detém a Meo em Portugal não revelou quais os grupos com quem foram mantidas conversações, mas a Altice acabou por optar pela dona da TVI.
Apesar de garantir não ter estado envolvido no processo, Weill acabou por confirmar, em resposta a uma pergunta do ECO, que existiram conversações com outros grupos para além da Media Capital, propriedade dos espanhóis da Prisa. “Sei que foram desenvolvidas relações com diferentes grupos de media, mas não estive pessoalmente envolvido na discussão. (…) Fui informado de algumas conversações com outros grupos”, disse o CEO da Altice Media.
O grupo internacional, fundado por Patrick Drahi, está a apostar numa estratégia de convergência entre telecomunicações, media e publicidade. Em Portugal, a Altice adquiriu a PT em 2015 à operadora brasileira Oi e ofereceu, este verão, 440 milhões de euros pela Media Capital, a empresa responsável pela TVI e pela rádio Comercial, ambos líderes em quota de mercado no país. O negócio ainda está sujeito à avaliação final da Autoridade da Concorrência (AdC).
Sei que foram desenvolvidas relações com diferentes grupos de media, mas não estive pessoalmente envolvido na discussão.
Garantias? “Negociar não vai ser um problema”
A compra da dona da TVI pela Altice tem feito correr muita tinta nos últimos meses. A operação merece forte oposição por parte das empresas concorrentes dos dois setores, telecomunicações e media. A NOS e a Vodafone já demonstraram preocupação com esta integração vertical, tal como a Impresa, dona da SIC.
Paulo Azevedo, líder da Sonae, chegou a admitir a possibilidade de o negócio abrir portas a uma operação Marquês “dez vezes maior”, referindo-se ao caso que levou nomes como José Sócrates e Ricardo Salgado a responderem perante a Justiça. Declarações que, aliás, lhe valeram uma queixa-crime por parte da dona da Meo, que acusa a Sonae de querer “perpetuar o status quo“. A operação, nos termos propostos, foi também rejeitada por um dos reguladores envolvidos no dossiê. A Anacom recomendou que fosse mostrado um cartão vermelho à operação apresentada, enquanto a ERC, por incapacidade de deliberar, chutou a compra para a fase final.
Será a AdC a ter a última palavra a dar e poderá fazer uma de três coisas: aprovar sem reservas, chumbar a aquisição ou aprovar mediante a assinatura de alguns compromissos por parte da Altice. Neste último caso, a ideia será amainar as preocupações de que o grupo possa vir a cingir o acesso a canais como a TVI24 à sua plataforma de TV por cabo, ou que o negócio possa interferir no pluralismo dos media em Portugal.
Alain Weill, reiterando não ter um papel ativo nas negociações, sublinhou aos jornalistas que a assinatura de compromissos não está totalmente posta de parte, caso a AdC entenda que existe abertura para tal na eventualidade de o negócio estar para ser chumbado — o que não é certo. Aos jornalistas, o gestor disse “não saber que compensações podem ser pedidas” pelo regulador, mas que “negociar não vai ser um problema”.
Negociar [compromissos com os reguladores] não vai ser um problema.
“Patrick Drahi entendeu que controlar um grupo de media não tem como objetivo ganhar influência”
Em Portugal, a Altice prepara-se para deter um grupo de media, caso a compra seja aprovada pelos reguladores. No entanto, em França, a estratégia de convergência entre comunicação social e telecomunicações pensada pelo grupo já está avançada.
É em Paris que se localiza o Altice Campus, um conjunto de edifícios nos quais Patrick Drahi já começou a concentrar os principais meios que detém no país. No local ainda decorrem obras e muitas mudanças (o processo nem estará a meio, referiu ao ECO uma trabalhadora da empresa), mas isso não impediu que as redações de títulos como L’Express e Libération fossem para ali deslocadas. Ambos propriedade do grupo, resultantes de aquisições realizadas há não muitos anos.
Não muito longe dali encontra-se a NextRadioTV, precisamente a empresa fundada por Alain Weill em 2002 e que lhe valeu a posição que hoje ocupa como líder da Altice Media. “Há dois anos, em 2015, decidi vender a minha empresa à Altice porque me encontrei com o Patrick Drahi e ele explicou-me que queria desenvolver uma estratégia de convergência entre media e telecomunicações, mas que não tinha experiência em media. Depois, propôs-me ser o CEO do departamento de media da Altice”, contou Alain Weill no mesmo encontro em Paris, em que participaram jornalistas portugueses.
Mais à frente, acabaria por confessar: “Claro que não queria vender a minha empresa. Era muito feliz como empreendedor. Empreendedor independente. Mas quando me encontrei com o Patrick Drahi, decidi vender a empresa.”
Hoje, a NextRadioTV, detida pela Altice, está a caminho de duplicar os lucros no ano que vem. “Nos três anos seguintes [à venda], teremos um aumento das receitas de 100%. Ou seja, em três anos, conseguiremos duplicar os resultados”, detalhou Alain Weill. Atualmente, a NextRadioTV, propriedade da Altice, detém em França uma rádio nacional (a RMC) e o “canal líder” de audiências de cariz noticioso — a BFM TV. Detém ainda o canal RMC Discovery e a BFM Business, que é, simultaneamente, uma rádio e uma televisão, entre outros. Todos ainda funcionam na sede da NextRadioTV, mas deverão ser movidos para o Altice Campus daqui a cerca de oito meses.
“Criámos muitos canais de televisão novos para a SFR em França [a operadora de telecomunicações da Altice em França]. E abrimos um canal local de televisão, que é a BFM Paris. Criámos 200 novos postos de trabalho, muitos deles jornalistas”, disse o gestor. A ideia, agora, é também lançar dez outros canais regionais em França, nas principais cidades, e expandir a estratégia para Portugal se a compra da Media Capital for efetivada.
E quanto a questões de independência editorial? Os diretores da BFM TV, da RMC, do L’Express, do Liberatión e da BFM Business garantiram que ficou tudo igual desde a entrada da Altice no mundo dos media, mas que ganharam capacidade para crescer. “Nada mudou desde que a Altice está no capital da nossa empresa. Mas criámos sete novos canais de televisão”, sublinhou Alain Weill. Terminou ainda com uma garantia: “O Patrick Drahi entendeu muito bem que para o sucesso da convergência, nada tinha que mudar na NextRadioTV. Agora, os resultados da empresa nunca foram tão altos. (…) Ele entendeu que o facto de controlar um grupo de media não tem como objetivo ganhar influência (…).”
O ECO viajou para Paris a convite da Altice.
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