Na Europa, não há correios tão generosos com os acionistas como os CTT
Francisco Lacerda garante que "dividendo dos CTT não é exagerado". Ainda assim, não há correios na Europa tão generosos como os CTT. Payout deverá chegar aos 133%.
Não há empresa de correios na Europa tão generosa com os seus acionistas como os CTT, que atravessam uma fase de profunda reestruturação que vai obrigar a saída de 1.000 trabalhadores até 2020. A cotada liderada por Francisco Lacerda até baixou o dividendo como primeira reação à crise. Mas não vai conseguir gerar lucro em 2017 para remunerar os acionistas como pretende. É caso único no Velho Continente. Ainda assim, o CEO diz que dividendos não são exagerados.
Com o final de outubro veio o profit warning dos CTT: os lucros em 2017 vão ficar muito abaixo do esperado e tudo por causa da atividade postal que vai contrair acima das expectativas. É que há menos cartas para entregar. Por isso, Lacerda anunciou imediatamente um corte de 20% do dividendo dos 0,48 cêntimos para os 0,38 cêntimos, tendo prometido para mais tarde um plano de reestruturação. Foi anunciado esta semana e ninguém saiu ileso, nem mesmo a administração que quer dar o exemplo e vai ver o seu salário cortado entre 15% e 25% e ainda os prémios suspensos. Objetivo passa por alcançar uma poupança anual de 45 milhões de euros até 2020.
Para os acionistas, as perspetivas também pioraram com os CTT a admitirem mais reduções do dividendo nos próximos anos. Ainda assim, em 2018, o dividendo de 38 cêntimos está garantido e Lacerda prevê distribuir um total de 57 milhões de euros aos acionistas. Isto é mais, muito mais do que aquilo que a empresa terá em lucros este ano.
Os analistas apontam para um resultado líquido de cerca de 43 milhões de euros. E, feitas as contas, o payout — a parte dos lucros destinada à remuneração acionista — dos CTT deverá ficar nos 133%. É o maior rácio entre todas os correios postais cotados na Europa, segundo as estimativas dos analistas compiladas pela agência Bloomberg.
Payout no setor dos correios postais na Europa
Fonte: Bloomberg
O gráfico acima mostra o rácio de payout no setor dos correios postais na Europa, tendo em conta os lucros e os dividendos esperados no exercício de 2017. Os CTT destacam-se, sendo a única empresa a ter de recorrer as suas reservas para cumprir a sua palavra com os acionistas. O Royal Mail, que foi para a bolsa poucos meses antes dos CTT, em 2013, apresenta-se com um rácio de 88%, o segundo maior no Velho Continente. Mas a empresa britânica vai ter lucro suficiente para remunerar os acionistas.
“Dividendos não são exagerados”
A verdade é que a política de remuneração acionista depende também do compromisso assumido pela gestão com o mercado e ainda pela sua posição financeira. Cada caso é um caso. Foi isto mesmo que fez questão de referir Francisco Lacerda, quando esta quinta-feira foi questionado pelos deputados sobre os dividendos que os CTT pagam. “São os que, em cada momento, pareçam mais adequados… não são exagerados”, respondeu o CEO.
E explicou de seguida: “Temos nos CTT uma situação financeira forte. Não temos passivo bancário e temos disponibilidade de caixa. Os nossos resultados do exercício são afetados pelo esforço de investimento. Se for mais para trás, encontram-se outros anos em que a distribuição de dividendos foi superior aos lucros”, afirmou Francisco Lacerda, durante a audição no Parlamento para explicar a situação da empresa. “Esta distribuição de dividendos é possível porque temos uma situação financeira muito sólida”, defendeu.
Em entrevista ao ECO24, esta quarta-feira, Lacerda foi questionado se havia um equilíbrio para partilha de custos e de participação no esforço que está a pedir a todos nos CTT para levar a cabo o plano de reestruturação. “O conceito de equilibrado e justo é muito subjetivo. O que eu posso dizer é que o que procuramos com este programa é que todas as frentes [façam um esforço]”, respondeu o presidente.
"Temos nos CTT uma situação financeira forte. Não temos passivo bancário e temos disponibilidade de caixa. Os nossos resultados do exercício são afetados pelo esforço de investimento. Se for mais para trás, encontram-se outros anos em que a distribuição de dividendos foi superior aos lucros.”
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