Manuel Heitor: Empresas “têm de empregar mais e melhor”
OCDE alerta para os "mecanismos limitados" de apoio financeiro aos estudantes, nomeadamente aos que decidem retomar os estudos, e frisa que só cerca de 20% dos alunos recebem bolsas.
O ministro da Ciência considera “particularmente importante” o ensino superior politécnico para “a qualificação de Portugal”, assinalando que as empresas “têm de empregar mais e melhor” para entrarem em “mercados mais sofisticados”.
Manuel Heitor falava à Lusa a propósito do relatório preliminar da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o estado do sistema científico, de ensino superior e inovação nacionais, que foram avaliados em 2017 a pedido do Governo. O relatório, que será apresentado esta sexta-feira em Lisboa, alerta que Portugal continua a ter doutorados a menos, sobretudo nas empresas, e sugere que os institutos politécnicos possam lecionar cursos de doutoramento a par de cursos de curta duração com uma componente mais prática.
Para o ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, “a relevância do ensino politécnico para a qualificação de Portugal, e para a convergência europeia [do país], é particularmente importante”. “O que tenho discutido com os politécnicos é que temos de estimular o desenvolvimento da sua capacidade científica e inovação“, afirmou, acrescentando que, depois de assegurada essa capacidade, está reunida “a condição para oferta de um doutoramento”. “É nesse sentido que estamos a trabalhar, e é essa a orientação que deve ser seguida”, frisou.
Sobre a falta de doutorados nas empresas, considera que “é uma chamada de atenção” às próprias empresas, “que têm de empregar mais e melhor” se querem evoluir. “As empresas, para evoluírem e penetrarem em mercados mais sofisticados, têm de ter pessoas mais qualificadas e, para as atrair, têm que pagar”, vincou, lembrando que há “muitas pessoas que saem de Portugal para encontrar empregos mais bem pagos”.
As empresas, para evoluírem e penetrarem em mercados mais sofisticados, têm de ter pessoas mais qualificadas e, para as atrair, têm que pagar.
Para Manuel Heitor, a fixação de pessoal qualificado nas empresas “é um esforço coletivo”, que “não depende só do Estado”. Ainda assim, apontou como exemplo de uma política de estímulo às empresas a iniciativa governamental dos laboratórios colaborativos, “formas de partilhar o risco na criação de emprego qualificado” através da cooperação entre universidades ou institutos politécnicos, unidades de investigação e indústria.
O ministro reconhece que “há muitos obstáculos, de natureza socioeconómica”, no acesso ao ensino superior que “requerem um aumento do esforço da ação social escolar”. “É um esforço que temos de continuar a fazer para facilitar um maior acesso ao ensino superior e, com isso, aumentar a qualificação da população”, referiu.
No diagnóstico que faz ao ensino superior, a OCDE alerta para os “mecanismos limitados” de apoio financeiro aos estudantes, nomeadamente aos que decidem retomar os estudos, sublinhando que apenas cerca de 20% dos alunos recebem bolsas, que em muitos casos servem na prática para pagar as propinas.
No relatório preliminar, a organização, da qual Portugal faz parte, adverte ainda para as desigualdades de acesso ao ensino superior, em particular para os alunos que seguem a via profissional no ensino secundário, que, nas provas de ingresso, são avaliados sobre assuntos que não constam nos seus currículos.
Para Manuel Heitor, “a atração” destes alunos para o ensino superior terá de passar pelos cursos técnicos superiores profissionais dos institutos politécnicos. O titular das pastas da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior manifestou reservas quanto a uma Estratégia Nacional para o Conhecimento e a Inovação, defendida pela OCDE para dar orientações claras e concertadas a longo prazo para os setores. “Fomentar a coordenação sempre, mas não exagerar em esforços de centralização no contexto de desenvolvimento das regiões, de ligar a ciência ao território”, sustentou, alegando que a previsibilidade do financiamento, reclamada no relatório, é “um esforço” que “nem sempre é possível” garantir.
Em resposta à avaliação da OCDE, o ministro promete “para breve” medidas, sem as mencionar, depois de o Governo se reunir e analisar o relatório.
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