Ricardo Guimarães: “A sensação de chegar a sócio é ótima. E foi claramente uma meta”
Especializado nas áreas de contencioso e arbitragem em direito público, o advogado conta como quer concretizar os desafios do novo cargo, como a engenharia ficou para trás e Ásia é destino de eleição.
À altura da entrevista, Ricardo Guimarães – advogado do mês de junho – era sócio da Linklaters há apenas 15 dias. Especializado nas áreas de contencioso e arbitragem em direito público, o advogado conta como quer concretizar os desafios do novo cargo, como a engenharia ficou para trás, a Ásia é um destino de eleição e Angola e Moçambique são potenciais mercados para esta sociedade internacional.
“Fiz toda a parte escolar, antes da universidade, em ciências e sempre gostei muito de matemática. Acho que é uma coisa fundamental e, apesar de haver uma certa aversão na parte jurídica, diria eu, às ciências e à matemática, penso que temos uma dimensão dessa ciência no nosso dia-a-dia”. Com um percurso pouco usual, Ricardo Guimarães faz-nos uma retrospetiva desde o secundário até aos dias de hoje – momento em que desfruta do seu recém-cargo de sócio na Linklaters, sociedade de advogados internacional sediada em Londres.
Uma promoção que fez todo o sentido numa perspetiva de carreira e que teve um grande investimento e dedicação subjacentes, garante. “Passar a sócio é do ponto de vista pessoal um momento extraordinário de que ainda estou a desfrutar, mas que a partir daqui há todo um mundo de coisas para fazer, de oportunidades”, salienta o advogado.
Depois do secundário, veio de Leiria para o Instituto Superior Técnico (IST) seguir engenharia informática. Mas concluído o primeiro ano do curso, rapidamente percebeu que não era aquilo que queria fazer. “Na altura quis perceber o que é que um engenheiro informático naquele momento e contexto poderia fazer e procurei conhecer pessoas na área, que tipo de coisas faziam e se eu me via ou não a fazer aquilo. E não via”. A partir desse momento, Direito passou a ser a opção. “Era a área com quem tinha mais contacto porque o meu pai é advogado. E a atividade dele era uma coisa que me despertava curiosidade e interesse e, portanto, a partir daí porque não experimentar?”.

Hoje em dia assegura que não trocaria por nada essa decisão e consequente momento de viragem. “Gosto muito daquilo que faço e do trabalho de advocacia, além da experiência que a Linklaters me proporciona”, revela o advogado. Conta ainda, divertido, como o período no IST já lhe proporcionou momentos engraçados.
“Houve um dia em que tinha uma reunião com um cliente novo que foi meu professor no meu tempo de engenharia. Quando cheguei à reunião, éramos só os dois, apresentei-me e disse-lhe que fui seu aluno. Ao que ele me respondeu: “Bom, deve haver aqui algum engano… Eu achei que vinha reunir com um advogado”. Foi um momento engraçado”. Findo o curso na Universidade Lusíada passou ainda pela Sérvulo, onde esteve 13 anos, nove dos quais também como sócio.
A transição para a Linklaters deu-se há quatro anos, quando entrou como counsel. “É muito desafiante chegar a sócio de uma sociedade internacional como a Linklaters”, revelou Ricardo Gimarães. “Não é um processo fácil, é longo, muito exigente e desafiante, de facto. Houve aqui um investimento e um projeto que para mim fazia sentido abraçar, em função do escritório de advogados, em função das pessoas, da estratégia e da cultura”.
Projetos em Angola e Moçambique
Quanto ao seu dia a dia, diz que para já pouca coisa mudou, mas que “há agora um reconhecimento e uma exigência adicionais pelo facto de ser sócio”, que passa por uma “participação mais ativa em aspetos internacionais, como a organização e a gestão”. Alguns dos projetos que a equipa de contencioso e arbitragem desenvolve passam por Angola e Moçambique, onde a sociedade começa a querer estabelecer contactos, angariar clientes e expandir mercados. “Queremos avançar e aplicar a nossa área de arbitragem em mercados lusófonos, em particular escritórios internacionais quando temos transações ou algum contencioso ou arbitragem para esses países”.
Preparar uma aula ou uma conferência com qualidade dá muito trabalho e demora muito tempo. Mas depois preenche muito porque conseguimos ter uma interação boa com as pessoas que assistem. Conseguimos ter o feedback dessas pessoas e ter ali no momento de interação o reconhecimento que do ponto de vista pessoal é muito útil e é uma forma de nos divulgar e projetarmos a nossa prática.
Em relação às operações que o têm marcado, destaca o projeto Coral, “que se arrastou durante vários meses, onde tive a minha quota parte do trabalho. Tem uma sofisticação a vários setores, tanto jurídica como técnica que permita agarrar este projeto e levá-lo para a frente e concluí-los a um nível muitíssimo elevado”, diz Ricardo Guimarães à Advocatus. Dentro das áreas de prática, aquilo de que mais gosta de fazer é arbitragem de construção, de contratos e concessões de obras públicas.
“A minha experiência principal é de contencioso e arbitragem nestes dois países. Temos muitos projetos a avançar na África lusófona e nesse aspeto o escritório português é absolutamente fundamental e incontornável”, explica o advogado. Questionado sobre as diferenças legislativas entre os países, Ricardo Guimarães confirma que a lei moçambicana e a lei angolana, onde se especializou, têm inspiração e matriz portuguesa.
“E isso é também o fator diferenciador que temos em relação a outros escritórios. Temos uma história com esses países, a questão da língua, que nos dá uma grande proximidade. Como temos também todo o enquadramento legislativo e legal, é aquilo que nos faz aparecer destacadamente por comparação com outros de direito público. O que significa ter de fazer tudo o que é contencioso que tenha a ver com contratos que envolvem o Estado. Desde o setor dos transportes, das infraestruturas, da saúde… São áreas onde temos feito muito contencioso, muita participação em termos de arbitragem”.
Agora na Linklaters, que é um escritório com uma atividade muito transversal, o contencioso e arbitragem abrangem também outras áreas, que Ricardo Guimarães enumera: “o comercial, a área de IP, a societária. Nos últimos dois anos, a nossa atividade tem sido particularmente intensa em termos de arbitragem em litígios relacionados com propriedade industrial”.
Gosto de ter os meus momentos de paragem durante o dia. Do almoço, de estar com outras pessoas, outros contactos, amigos ou clientes, mas ter ali um momento de paragem no dia a dia. Acho que é bom para recarregar baterias. E os meus dias são assim, também com viagens pelo meio.
Entre as suas atividades, o novo sócio realça a sua ligação ao meio académico: desde conferências, formações a cursos pequenos que dá, o advogado garante que é um extra que o preenche e que lhe é muito gratificante. “Preparar uma aula ou uma conferência com qualidade dá muito trabalho e demora muito tempo. Mas depois preenche muito porque conseguimos ter uma interação boa com as pessoas que assistem. Conseguimos ter o feedback dessas pessoas e ter ali no momento de interação o reconhecimento que do ponto de vista pessoal é muito útil e é uma forma de nos divulgar e projetarmos a nossa prática”, revela.
Além disso, realça o work life balance da sociedade que o permite ter momentos de lazer e aproveitá-los, mesmo que quase nunca se desligue completamente do trabalho. “Hoje em dia é difícil não ver qualquer coisa, mas consigo desfrutar das minhas férias. Tenho momentos em que consigo desligar e fazer outras coisas, mas sou muito envolvido no meu trabalho”. E isso é reflexo de um ritmo muito elevado, porque Ricardo Guimarães começa a trabalhar cedo para acabar tarde, mas com equilíbrio.
“Gosto de ter os meus momentos de paragem durante o dia. Do almoço, de estar com outras pessoas, outros contactos, amigos ou clientes, mas ter ali um momento de paragem no dia a dia. Acho que é bom para recarregar baterias. E os meus dias são assim, também com viagens pelo meio”, conta. E é precisamente o viajar que também lhe dá mais gozo. “Nós voltamos verdadeiramente sempre uma pessoa diferente quando descobrimos sítios novos”. Nomeando um destino de eleição, fala na Ásia.
Quando não viaja, o advogado tem como hobbies a música e o desporto. Assegura que o seu futuro é na Linklaters e que aquilo para que está focado no momento resume-se numa palavra: concretização. “Segue-se a Linklaters, continuar este percurso, e sobretudo concretizar todos os projetos, esta promoção e rapidamente naqueles mercados, com clientes com interesse. Reforçar a nossa área de prática e continuar o trabalho que tem sido feito”, remata.
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