Moody’s aponta “cinco fraquezas” que dificultarão retoma europeia numa futura crise

  • Lusa
  • 2 Outubro 2018

Crescentes níveis de endividamento, limitadas ferramentas financeiras, rápida valorização de ativos, riscos regulatórios e políticos e perigos ligados à tecnologia são fatores de risco avisa Moody's.

Os crescentes níveis de endividamento, as limitadas ferramentas financeiras, a rápida valorização de alguns ativos, os riscos regulatórios e políticos e os perigos ligados à tecnologia tornam a Europa vulnerável em caso de retração económica, alerta a Moody’s.

Num relatório hoje divulgado, a agência financeira considera que “nos últimos dez anos foram feitas algumas melhorias” em caso de uma situação de pressão sobre o sistema financeiro, mas adverte que “alguns credores e decisores na Europa estão menos bem equipados para enfrentar os impactos dessa pressão”.

Segundo destaca, são cinco as “áreas de risco e fraqueza” que tornam a Europa mais vulnerável face a uma futura recessão económica: os crescentes níveis de endividamento (que diminuem a capacidade de absorção de choques num contexto de subida das taxas de juro); as mais limitadas ferramentas financeiras que ficaram disponíveis após a última crise; a sobrevalorização dos preços de alguns ativos, nomeadamente imobiliários; os acrescidos riscos políticos e regulatórios motivados pela proliferação dos movimentos e partidos mais radicais; e as vulnerabilidades de alguns setores face à rápida evolução tecnológica.

“Estamos numa fase em que o crescimento económico irá continuar lento. Também enfrentamos uma tendência de longo prazo marcada por alterações demográficas, fraco crescimento da produtividade e intensa competitividade internacional. Estes fatores tornam alguns credores e emitentes mais vulneráveis em caso de choque económico e tornarão mais difícil a recuperação de uma crise, potencialmente agudizando-a”, sustenta a Moody’s.

Conforme explica, em muitos setores e países “os níveis de endividamento não só não diminuíram, como em muitos casos estão mesmo a aumentar”, o que os tornará mais vulneráveis face a uma recessão económica e aos custos decorrentes do envelhecimento da população.

Em termos de países, a agência financeira destaca o crescimento ao longo da última década dos níveis de endividamento nos cinco maiores países europeus – Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha e França – notando que também “continuam altos” os níveis de endividamento das famílias, com os decorrentes riscos sistémicos acrescidos que tal coloca ao setor bancário.

Outra das “vulnerabilidades” apontadas pela Moody’s é o número limitado de ferramentas financeiras que ficaram ao dispor dos vários governos europeus após a última recessão económica, num contexto em que o lento crescimento não permitiu ainda uma recuperação das reservas e da qualidade do crédito quer no setor bancário, quer nos serviços e no segmento empresarial.

A subida de preços em alguns mercados e setores é mais um dos fatores de risco destacados no contexto de uma próxima recessão, com a agência de notação financeira a admitir que no segmento imobiliário “determinados mercados, quer pela sua localização geográfica ou pela qualidade superior das propriedades, viram a rendibilidade mais comprimida (como os países nórdicos, o Reino Unido e o Sul da Europa), correndo por isso maior risco de uma correção súbita”.

Os dois últimos fatores de risco destacados pela Moody’s são de natureza regulatória/política e tecnológica.

No primeiro caso, a agência nota que “as causas na base do surgimento de cada vez mais movimentos anti consenso na Europa na última década não foram resolvidas, nomeadamente a insegurança económica e o insuficiente crescimento inclusivo”.

“Os salários reais na Itália, na Grécia e em Portugal ainda não recuperaram para os níveis de 2010 e, em Espanha, só agora atingiram esse patamar”, aponta como exemplo, referindo os riscos que situações como esta implicam quer a nível político, quer regulatório, nomeadamente dada a acrescida exposição à escalada de disputas laborais e de medidas protecionistas.

Finalmente, a agência aponta vulnerabilidades acrescidas ligadas à revolução tecnológica: “O crescente recurso a inovações digitais nos serviços financeiros privilegia a eficiência e agudiza a competitividade, o que continuará a pressionar o negócio bancário”, sustenta, falando ainda de questões como a cibersegurança e os riscos ligados à privacidade de dados, que se estendem a setores como a saúde, educação, retalho e serviços.

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