Nem bitcoin, nem canábis… Foi difícil ganhar dinheiro em 2018

Wall Street prepara-se para o pior ano desde 2008 e o bull market das obrigações chegou ao fim após décadas. Nem as apostas mais excêntricas ajudaram os investidores, mas houve (algumas) exceções.

O ano que está prestes a chegar ao fim não foi fácil para os investidores. As ações norte-americanas preparam-se para fechar o pior ano desde 2008, mas a tendência negativa não é exclusiva das bolsas. A performance é negativa em várias classes de ativos e nem algumas das maiores promessas para este ano — como a bitcoin, as ações da canábis ou as gigantes tecnológicas — concretizaram os ganhos esperados. Há, ainda assim, exceções.

Considerando o investimento realizado em dólares norte-americanos, o ano poderá mesmo ser o pior de sempre. Entre oito as principais classes de ativos, apenas duas deverão acabar 2018 com retornos positivos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A guerra comercial entre EUA e China (com consequências para o fortalecimento do dólar que afundou as economias emergentes), a incerteza do Brexit e a subida dos juros de referência pela Reserva Federal norte-americana estiveram entre os principais fatores que penalizaram os investimentos. No último trimestre do ano, o braço de ferro sobre o orçamento italiano entre Roma e a União Europa, bem como o tombo do preço do petróleo juntaram-se à lista.

“O fim de um bull market de obrigações que durou décadas significa que retornos negativos nas ações e nas obrigações podem tornar-se mais comuns. Podemos terminar 2018 com retornos negativos em ambas as classes de ativos — um evento raro“, explica o outlook de investimento global da BlackRock.

Fonte: BlackRock Global Investment Outlook

FAANG em queda, a desilusão da canábis e o rebentar da bolha da bitcoin

Entre os ativos mais tradicionais, os investidores estavam a apostar nas ações das gigantes tecnológicas para 2018. E no início do ano, o grupo conhecido como FAANG — Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Alpabet (empresa-mãe da Google) — foi um dos principais impulsionadores do rally acionista nos EUA.

Após o pico, em junho, o caminho foi, no entanto, de queda devido a uma série de razões, incluindo a guerra comercial, desaceleração no crescimento, preocupações com a regulação e as polémicas com o uso de redes sociais para influenciar eleições. Desde o início do ano, o índice setorial da bolsa de Nova Iorque, FANG+, cai 7%.

Ainda nas ações, mas num setor ainda menos clássico destacou-se, este ano, a euforia com as ações de empresas ligadas a canábis. A legalização da venda de canábis para uso recreativo no estado norte-americano da Califórnia e no Canadá levou um boom nas valorizações. Mas as subidas acabaram por se transformar em volatilidade: após um disparo superior a 30% no ETF do setor ETFMG Alternative Harvest em setembro, o retorno do fundo começou a cair no mês seguinte e acumula atualmente uma perda de 21% este ano.

O disparo no valor da bitcoin (até próximo de 20 mil dólares) ao longo de 2017 levava, de igual forma, a crer que o ano seguinte seria positivo para os investidores em cripto. Mas janeiro trouxe logo uma desilusão: um ataque de hacking de 500 milhões de dólares deu início à inversão, que foi exacerbada pelas guerras internas, os problemas de escala na primeira e maior criptomoeda e a incerteza em relação à regulação. A capitalização de mercado de criptomoedas caiu 700 mil milhões de dólares desde início do ano com a bitcoin a desvalorizar 72%.

Crise nos emergentes e incerteza global não impulsionam ouro

Nos emergentes, o fortalecimento do dólar (aliado a outros fatores próprios de cada economia) levou a crises em vários países, especialmente os com elevado endividamento na moeda norte-americana. A lira turca esteve em especial destaque e, no acumulado do ano, acumula uma desvalorização de quase 40% face ao dólar.

O ano assistiu também à polémica chegada de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. Com o impulso dado pelo ‘Trump brasileiro’, a bolsa Bovespa ganha 11% no ano, mas o real brasileiro deprecia-se 15,10%.

Mas o mercado emergente que mais chamou a atenção ao longo de 2018 foi mesmo a China, que se viu a braços com uma guerra comercial com os EUA. A par deste conflito, também a desaceleração do crescimento económico e as pressões geradas pela desalavangem no setor financeiro penalizaram as ações. Desde o início do ano, o índice de referência de Xangai já desvalorizou 25%, equivalentes a uma deterioração de 2,4 biliões de dólares em capitalização de mercado.

Reza a tradição que o ouro não desvaloriza e que é um refúgio dos investidores, especialmente em tempos de incerteza. No entanto, este ano tal não aconteceu. O metal precioso está cada vez menos brilhante aos olhos do mercado e desvaloriza 2,34% em 2018.

Apesar de os traders estarem otimistas em relação ao próximo ano — há três anos que não estavam tão bulish — há outro entrave à liderança do metal. O paládio (metal usado principalmente em catalisadores automáticos redutores de emissões para veículos) tem rivalizado com o ouro pela posição de metal mais precioso do mundo. No início de dezembro, o paládio chegou mesmo a ultrapassar o ouro e, em 2018, acumula um ganho de 18%.

Ainda há ganhos nas ações (venezuelanas e jamaicanas) e na dívida (curta)

Apesar das perdas generalizadas, há ativos que fogem à tendência. No caso das ações, os maiores ganhos aconteceram a sul dos EUA. Em investimentos denominados em dólares, a maior valorização vê-se na venezuelana Bolsa de Caracas: são mais 65.096%. No entanto, o disparo deve-se essencialmente ao efeito de desvalorização da moeda do país com maior inflação do mundo. O bolivar da Venezuela deu um tombo de quase 2.500.000% face ao dólar norte-americano.

No caso da segunda bolsa com maiores valorizações este ano, é a da Jamaica, com com um ganho de 28%. Estas ações, que envolvem empresas como bancos e seguradoras com frangos e estivadores, foram impulsionadas nos últimos anos pela redução dos empréstimos decidida pelo Governo e pela injeção de milhares de milhões de dólares em investimento chinês.

Também na dívida houve ganhos. Com o Brexit a aproximar-se (a 29 de março de 2019) e o ano a ficar marcado pelas negociações da saída, as obrigações do Reino Unido a dois anos geraram rendimentos de quase 62% este ano. Mas não foram as únicas: o retorno das Treasuries norte-americanas com a mesma maturidade já atingiram 41%.

2018 fica também marcado como o ano em que a Comissão Europeia tomou a decisão inédita de chumbar o Orçamento do Estado (OE) de um país da UE. O impasse com Itália, devido às metas do défice, começou em outubro e terminou já em dezembro com um entendimento que deverá permitir ao país transalpino evitar o procedimento por défice excessivo (PDE). Ainda assim, os investidores pediram mais para emprestar dinheiro ao país. A yield da dívida italiana a 10 anos subiu 36%.

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