Centeno baixa previsão do crescimento. Não chega, avisam economistas

O ministro das Finanças quantificou, pela primeira vez, o corte na previsão de crescimento. Os economistas ouvidos pelo ECO, que já antecipavam um cenário pior, olham com cautela para a Zona Euro.

Falta pouco mais de um mês para Mário Centeno enviar para a Comissão Europeia a atualização do Programa de Estabilidade, com novas previsões para a economia portuguesa. O Governo sinalizou que pode rever em baixa a previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB): o ministro da Economia admite uma “nova fase do ciclo económico” e o ministro das Finanças indica que pode cortar “duas décimas” à projeção de crescimento económico, colocando-a em 2%. Uma projeção que ainda pode ser vista como otimista, revelam as previsões dos economistas contactados pelo ECO.

Em outubro de 2018, quando entregou o Orçamento do Estado para este ano, o Governo previu uma subida do PIB de 2,2% este ano, contra um crescimento económico de 2,3% no ano passado. Entretanto, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a economia cresceu 2,1% em 2018. E sucedem-se revisões em baixa das instituições internacionais.

Resta agora aguardar pelo Fundo Monetário Internacional que em abril atualiza previsões no âmbito dos Encontros de Primavera, que se realizam entre os dias 12 e 14 na cidade de Washington, nos EUA. Para já, o FMI vê a Zona Euro a crescer 1,6%. Mas quando esteve em Lisboa para participar no Conselho de Estado, a diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde, pintou um quadro de abrandamento a nível mundial.

Mário Centeno está consciente desta tendência de abrandamento. Na entrevista à RTP, na quarta-feira, o ministro admitiu rever em baixa as previsões de crescimento “em apenas uma décima ou duas”. Ou seja, a previsão de crescimento do PIB passa de 2,2% para 2% no cenário de maior revisão.

No entanto, pode ser insuficiente este corte. Tanto o Santander como o BPI apontam para um crescimento de 1,8%, a par do que o Banco de Portugal e o FMI anteveem. Já o Conselho de Finanças Públicas (CFP), que aponta para 1,9%, e a OCDE que tem uma projeção 2,1%, estão mais próximos do que pode vir a ser a nova previsão de crescimento que o Governo se prepara para assumir dentro de cerca de um mês.

“De acordo com as nossas previsões, uma estimativa de 2% para o crescimento em 2019 parece ser otimista”, diz ao ECO a economista do BPI Teresa Gil Pinheiro.” A previsão do BPI para o crescimento do PIB em 2019 é de 1,8%, consolidando a perspetiva de que a economia está atualmente numa fase mais madura do ciclo, com ritmos de crescimento mais sustentáveis”, afirma a economista, acrescentando que “os riscos, positivos e negativos, que envolvem este cenário são equilibrados, ainda que ligeiramente enviesados em sentido descendente, tendo em conta a permanência de fatores de incerteza na economia global”.

Rui Constantino, economista-chefe do Santander – instituição que aponta para um crescimento de 1,8% -, adianta que “em breve” o banco vai “fazer uma reavaliação do cenário, incorporando também a visão sobre a economia global, que apontaria a uma revisão em baixa”. No entanto, “a dimensão da revisão ainda não pode ser quantificada”, adianta Rui Constantino.

"Em breve, iremos fazer uma reavaliação do cenário, incorporando também a visão sobre a economia global, que apontaria a uma revisão em baixa, mas a dimensão da revisão ainda não pode ser quantificada.”

Rui Constantino

Centeno justifica a revisão mais tímida das previsões com o facto de ver “sinais mistos” na economia. Apesar do abrandamento das exportações, e de a economia já ter crescido menos que o previsto em 2018, o ministro das Finanças lembra o comportamento muito positivo das receitas fiscais e das contribuições para a Segurança Social que se explica apenas pela robustez da atividade económica.

Mário Centeno tem destacado a evolução destes indicadores como um sinal da evolução da economia. Em janeiro, a receita fiscal (excluindo o ISP e Imposto sobre o Tabaco que beneficiaram de fatores transitórios) subiu 12,8% graças ao andamento do IVA (mais 15,9%), do IRS (mais 7,6%) e do IRC (mais 84,4%) “devido ao desempenho da economia”, assinalam as Finanças. O ministério tutelado por Mário Centeno destaca também o crescimento de 7,3% da receita com contribuições para a Segurança Social, depois de um crescimento de 6,3% em 2017 e de 7,6% em 2018. “A evolução da receita destes impostos e contribuições sociais, em que não existiu nenhum aumento de taxas entre 2018 e 2019, reflete o dinamismo da economia e do mercado de trabalho, que manteve uma aceleração ao longo de 2018 e dá indicações de continuar em 2019.”

Além das informações que recolhe juntos dos serviços que tutela, Mário Centeno olha também para indicadores produzidos pelo banco central. Na entrevista à RTP, o governante mencionou que o indicador coincidente do Banco de Portugal, referente a janeiro, parece sugerir uma inversão da tendência de abrandamento.

Os economistas ouvidos identificam um conjunto de indicadores a acompanhar com atenção nos próximos tempos para saber como anda a economia. “Como a incerteza se materializa já nas revisões de crescimento para a Zona Euro (como efetuado quinta-feira pelo BCE), deveremos acompanhar a evolução das variáveis de procura externa: PIB dos principais parceiros externos, avaliação da carteira de encomendas externas (ao nível da confiança dos empresários) e a evolução das exportações”, defende o economista-chefe do Santander.

No Orçamento deste ano, o Executivo previa um crescimento de 4,2% na procura externa relevante, que mede a que se dirige à economia portuguesa. Mário Centeno estimava que se este indicador crescesse dois pontos menos, ou seja, 2,2%, o crescimento do PIB ficaria três décimas abaixo. Daí a necessidade de acompanhar o que se passa nos principais parceiros comerciais.

Teresa Gil Pinheiro refere a importância de acompanhar a evolução das exportações e também das importações de bens e serviços, acrescentando que seguir a economia nacional passa também por acompanhar de perto o andamento dos indicadores coincidentes do Banco de Portugal e de atividade e clima económico do INE que “são os que melhor resumem a evolução da atividade e do sentimento dos agentes económicos”.

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