Abrandamento no euro pode cortar PIB português para 1%

Banco central reviu previsões em baixa e está preocupado com um eventual abrandamento da Zona Euro e fez as contas: no melhor dos cenários, economia cresceria 1,6%. No pior, apenas 1%.

Para além de rever em baixa as suas previsões para o crescimento económico, que já eram mais pessimistas que as do Governo, o Banco de Portugal alertou para o risco de as economias dos principais parceiros comerciais de Portugal não crescerem tanto quanto o esperado este ano e fez as contas: no melhor dos cenário a economia portuguesa cresceria 1,6%. No pior, cresceria apenas 1%, menos de metade do esperado pelo Governo.

A economia já está a abrandar e o próprio Governo o reconhece. Mário Centeno voltou a antecipar, agora em entrevista à SIC, uma revisão em baixa do crescimento económico este ano para cerca de 2%, quando entregar o Programa de Estabilidade em Bruxelas, em abril. “O impacto que neste momento projetamos, até porque a economia portuguesa no primeiro trimestre está a comportar-se muito melhor do que estava no trimestre anterior, é uma atualização relativamente aceitável, idêntica aquela que tivemos na revisão do PIB do final do ano passado. Foram duas décimas. Não gostaria que ficássemos presos no valor de 2%. Pode ser 2,1%, pode ser 1,9%…“, disse.

No Boletim Económico que publica esta quinta-feira, o Banco de Portugal reviu para 1,7% a sua projeção para o crescimento da economia em 2019 e acrescentou ainda um texto onde calcula o impacto na economia portuguesa de este abrandamento se prolongar mais que o esperado.

“Ao longo do horizonte de projeção anteveem-se riscos descendentes para a atividade associados ao enquadramento internacional. Estes riscos estão associados à possibilidade da recente perda de dinamismo da economia da área do euro – que concentra os principais mercados de exportação de Portugal – refletir fatores de natureza mais persistente, à intensificação das políticas protecionistas, ao agravamento de tensões geopolíticas e a uma desaceleração mais acentuada da economia chinesa”, diz o banco central.

"Ao longo do horizonte de projeção anteveem-se riscos descendentes para a atividade associados ao enquadramento internacional. Estes riscos estão associados à possibilidade da recente perda de dinamismo da economia da área do euro – que concentra os principais mercados de exportação de Portugal – refletir fatores de natureza mais persistente, à intensificação das políticas protecionistas, ao agravamento de tensões geopolíticas e a uma desaceleração mais acentuada da economia chinesa.”

Banco de Portugal, Boletim Económico de Março

Para isso, a instituição liderada por Carlos Costa criou dois cenários, mas tendo em conta apenas o impacto de um abrandamento da procura externa dirigida à economia portuguesa.

No melhor dos cenários, estima-se que a economia portuguesa cresça apenas 1,6% este ano e 1,4% no próximo ano, caso a economia da zona euro não acelere na segunda metade do ano, isto tendo em conta apenas o impacto na procura externa da manutenção de um crescimento mais baixo na zona euro. Ou seja, o Banco de Portugal não teve em conta o impacto da incerteza nas decisões de investimento dos agentes económicos nem nas taxas de juro, mas também das respostas dos decisores políticos ou do BCE a um eventual abrandamento.

No cenário mais pessimista, mas também menos provável, a economia portuguesa cresceria apenas 1% em 2019 e novamente 1% em 2020. Este cenário mais pessimista conta, além do abrandamento da economia da zona euro, com a intensificação das políticas protecionistas e o agravamento das tensões geopolíticas, um abrandamento da economia chinesa e a diminuição das relações comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia, na sequência do Brexit.

Apesar de menos provável, algumas destas variáveis do cenário mais pessimista já estão a ganhar forma, como é o caso do abrandamento da economia chinesa, e a incerteza sobre a forma como o Reino Unido sairá da União Europeia e a futura relação com o bloco europeu, numa altura em que o cenário de saída sem acordo ganha mais força, e todos estes fatores podem ter impacto na evolução da economia portuguesa.

“A economia portuguesa também pode ser afetada por riscos associados a um aumento da turbulência nos mercados financeiros e a um recrudescimento de tensões nos mercados da dívida soberana na área do euro. Se estes riscos se materializarem, as exportações e a procura interna serão negativamente afetadas e a evolução do saldo das contas externas poderá ser desfavorável. O aumento da incerteza a nível global, para o qual contribui, por exemplo, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, constitui uma ameaça à confiança dos empresários, podendo conduzir ao adiamento de investimentos”, acrescenta o banco central.

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