E tudo o Brexit levou. Da saída de May aos problemas nas eleições europeias

  • Bernardo da Mata, em Londres
  • 24 Maio 2019

Se May não conseguiu capitalizar as várias oportunidades políticas de sobrevivência, Johnson aguardou pacientemente pela sua hora. Resultados das eleições europeias só serão conhecidos domingo.

Theresa May apresentou a demissão esta sexta-feira do cargo de primeira-ministra do Reino Unido, com um discurso que terminou em lágrimas, dizendo que deixa “o trabalho que foi o orgulho da sua vida” e assegurando que sai “sem ressentimento e grata pela oportunidade de servir o país que ama.”

O cosmo político britânico entrara em ebulição definitiva a proposta e recuo de Theresa May de um segundo referendo como alternativa ao chumbo derradeiro do seu acordo em junho, que afinal também acabaria por ser abandonado. Fontes junto do Governo de May indicaram à BBC no início da manhã que Theresa May estaria prestes a anunciar a sua data de demissão, tendo já ocorrido algumas reuniões entre a primeira-ministra e alguns membros seniores do Partido Conservador.

Acredita-se que o que terá vergado o “complexo de filha do Vigário” da primeira-ministra, como descreveu o Telegraph, referindo-se à sua inflexibilidade e sentido de sacrifício quase missionário, foi o anúncio por parte de Jeremy Hunt, ministro dos Negócios Estrangeiros que sucedeu a Boris Johnson, de que não apoiaria o acordo de May no Parlamento. O isolamento de Theresa May terá resultado de uma gestão ineficiente do seu percurso e da falta de faro político, gritante na demissão do seu sempre leal ministro da Defesa, Gavin Williamson, no seguimento de alegações do envolvimento deste na fuga de informação para a imprensa sobre o caso Huawei.

Se Theresa May não conseguiu capitalizar as múltiplas oportunidades políticas de sobrevivência, Boris Johnson aguardou pacientemente pela sua hora. Fortemente incitado para assumir a liderança do Partido em 2016, Johnson sempre se assumiu como a alternativa discretamente polémica da primeira-ministra incumbente e agora a hipótese de a suceder já este verão, como parte da imprensa anuncia, torna-se cada vez mais sólida.

Como Benjamin Martill, investigador associado do Dahrendorf Forum, aludiu no seu comentário de ontem ao ECO, “o Partido Conservador vê esta (inevitável) derrota como outra desculpa para reforçar a sua posição de defesa de um Hard Brexit”, do qual Johnson é um rosto inconfundível.

Os resultados das eleições europeias no Reino Unido só serão conhecidos este domingo, aquando do fecho das urnas nos restantes Estados-membros da União Europeia. Se as projeções das sondagens se confirmarem, não só será uma massiva derrota para o Partido Conservador (que ficará em quarto lugar e com apenas sete deputados) como confirmará a vontade dos britânicos em fazer cumprir o Brexit. Ou de pelo menos fazer-se representar no Parlamento Europeu com essa mesma mensagem.

No entanto, os jornais britânicos focaram a sua atenção nos relatos de vários cidadãos europeus que foram privados do exercício do seu voto nas eleições. A Comissão Eleitoral afirmou que qualquer anomalia se devia ao facto de as eleições terem sido preparadas em tão pouco tempo. Os cidadãos de Malta, República da Irlanda e Chipre não precisavam de se registar para votar, mas os cidadãos do restantes países da União Europeia deveriam fazê-lo via internet ou junto das autoridades locais da sua área de residência.

Na comunidade portuguesa de Londres, há relatos variados. Num restaurante português em Stockwell, uma das empregadas comentava em conversa com o ECO que o seu cartão de eleitora não tinha chegado, mesmo depois de ter remetido a fórmula para a autoridade responsável. “O meu marido conseguiu votar, eu e as minhas filhas não conseguimos. Tentámos ainda perguntar se os nossos nomes estavam nas folhas, mas não estavam”, contou.

Se se confirmarem irregularidades no processo, o Reino Unido poderá enfrentar um condenação no Tribunal Europeu.

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