Da Foz do Porto à rua do Comércio, o caminho de Elisa Ferreira até chegar a comissária

A atual vice-governadora do Banco de Portugal será a Comissária Europeia nomeada por Portugal. Já foi ministra duas vezes, eurodeputada durante doze anos, e o rosto português da União Bancária.

Professora, ministra, eurodeputada, vice-governadora. O nome de Elisa Ferreira pode ser associado a todos estes cargos. Mas agora haverá um novo. A economista vai novamente além-fronteiras para desempenhar funções enquanto Comissária Europeia nomeada por Portugal, um papel que cabe pela primeira vez a uma mulher.

Os corredores da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu não são estranhos para esta mulher, nascida no Porto há 63 anos. Elisa Ferreira, atual vice-governadora do Banco de Portugal (BdP) passou 12 anos no Parlamento Europeu. De 2004 a 2016 integrou a Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários (ECON), tabuleiro onde se traçaram as estratégias de reação à crise económica mundial, palco onde se desenhou o regulamento que ditaria o futuro da União Bancária.

Como a própria descreve, num post no blog que manteve enquanto eurodeputada, a ECON “foi absolutamente central: foi aí que foram trabalhados todos os textos legislativos de reação à crise que determinam, e determinarão, o que a UE é hoje e será no futuro“. A economista reitera que “foi sem qualquer dúvida um período muito interessante mas também muito doloroso e penoso porque, limitados pelo nosso peso político de então, tivemos de conviver com uma agenda que não era de todo a nossa para a Europa“.

Elisa Ferreira foi relatora da proposta do Parlamento e do Conselho Europeu que ditou as regras de resolução das instituições de crédito no quadro do Mecanismo Único de Supervisão, criando o enquadramento da União Bancária para o “resgate interno” dos bancos em risco de colapso.

Foi membro do Grupo de Trabalho sobre Assistência Financeira (aos países do euro), da Comissão Especial para a Crise Financeira, Económica, entre tantos outros.

Três anos depois de abandonar Estrasburgo, a vice-governadora defende que é necessário avançar com o projeto inacabado da União Bancária, sendo que, até lá, “devem ser tomadas pequenos passos técnicos para mitigar grandes riscos à estabilidade que se escondem na falsa sensação de segurança que prevalece”, disse na CIRSF Annual International Conference 2019.

Considerando o vasto currículo da vice-governadora, o primeiro-ministro português terá pedido para a vice-governadora do Banco de Portugal a “super pasta” da Economia e das Finanças, na Comissão Europeia. No entanto, ainda não é certo qual é a pasta que caberá a Elisa Ferreira, até porque Portugal já tem Mário Centeno a presidir ao Eurogrupo, uma pasta estruturante. Carlos Moedas, a quem Elisa vai suceder, ficou com a pasta da Investigação, Ciência e Inovação.

A economista chegou ainda a ser apontada para outro cargo europeu. Quando chegou a altura de determinar quem ocuparia o lugar de topo no Banco Central Europeu, o seu nome foi um dos mencionados, mas acabou por não ser a escolhida. Anteriormente, Elisa Ferreira tinha também sido indicada, no ano passado, como uma das favoritas para a liderança do Mecanismo Único de Supervisão, mas decidiu desistir da corrida.

De estudante no Porto a candidata a autarca

Economia foi a licenciatura escolhida por Elisa, completada na Universidade do Porto. Na faculdade de Economia desta Universidade começou também a dar aulas, em 1977. Já o mestrado e doutoramento, na mesma área, foram realizados na Universidade de Reading, no Reino Unido.

Elisa esteve envolvida em vários projetos e organizações, como na Associação Industrial Portuense e na Comissão de Coordenação da Região Norte, bem como em programas focados na gestão de recursos hídricos. Desempenhou ainda funções enquanto vogal do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Estatística.

Acabou por dar o salto para a carreira política, onde se destaca a experiência governativa. A socialista passou duas vezes por Governos chefiados por António Guterres, a primeira vez enquanto Ministra do Ambiente, de 1995 a 1999, tendo tido como secretário de Estado José Sócrates, até este ir para a Presidência do Conselho de Ministros.

Na segunda vez ficou responsável pela pasta do Planeamento, até 2002. Depois passou dois anos na Assembleia da República na bancada socialista, até ir para o Parlamento Europeu, em 2004. Este primeiro mandato ficaria ainda marcado pela tentativa de conquistar a Câmara do Porto a Rui Rio. Em 2009, enfrentou o atual líder do PSD, que se recandidatava, e perdeu. Conseguiu 34,7% dos votos contra os 47,5% de Rio.

Banco de Portugal e incompatibilidades

A aventura europeia terminou em 2016. Elisa Ferreira renunciou ao cargo de eurodeputada para assumir um “novo desafio” no Banco de Portugal. Nomeada como administradora do regulador em junho desse ano, subiria a vice-governadora, pouco mais de um ano depois.

Já no cargo viu-se envolvida numa polémica, quando decidiu não pedir escusa das matérias relacionadas com a auditoria à gestão da Caixa Geral de Depósitos. O marido de Elisa Ferreira foi vice-presidente da La Seda, uma das empresas analisadas na auditoria pelo prejuízo causado ao banco público.

Na altura, Elisa Ferreira defendeu, em resposta ao ECO, que “não existem razões que possam influenciar, ou que possam dar a aparência de influenciar, a sua atuação em matéria de supervisão da CGD”. Argumentou ainda que o Banco de Portugal tem como missão supervisionar bancos e não empresas.

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