O negócio da Herdade da Comporta em cinco grandes números

Muito se fala na Herdade da Comporta, mas poucos sabem o que envolve este negócio. Anos, investimento, hectares, milhões e unidades turísticas. Em cinco números, perceba o que está em causa.

Foi assinada, finalmente, a escritura de venda dos ativos imobiliários da Herdade da Comporta. O consórcio Vanguard/Amorim é, oficialmente, dono dos ativos imobiliários em causa, num negócio de 157,5 milhões de euros. Fica, assim, aberto o caminho para arrancar com um investimento de 1.000 milhões de euros num projeto turístico que estará pronto dentro de 15 anos. Em cinco grandes números, perceba que negócio é este.

  • 12 longos anos até à venda

Manuel Espírito Santo adquiriu a Herdade da Comporta à britânica Atlantic Company. A propriedade acabou nacionalizada em 1974 mas, no final dos anos 80, voltou para as mãos da família Espírito Santo. Após recuperá-la, o objetivo do Grupo Espírito Santo (GES) sempre foi de requalificar a herdade, de forma a torná-la um destino turístico. Em 2004, passou a ser designada oficialmente Herdade da Comporta – Atividades Agro Silvícolas e Turísticas, S.A.

As obras para os projetos turísticos arrancaram, mas acabaram por ser suspensas. Na base dessa interrupção esteve o colapso do GES, em 2014, que deixou a Gesfimo numa “difícil situação financeira“. Foi, então, nessa altura, que decidiu vender estes ativos imobiliários.

Apareceram na corrida três interessados: o atual consórcio vencedor, detido pelo milionário francês Claude Berda e pela empresária Paula Amorim, a holding Oakvest/Portugália, controlada pelo empresário inglês Mark Holyoake, e a do aristocrata francês Louis-Albert de Broglieo. Em setembro do ano passado, o consórcio Oakvest/Portugália desistiu do processo por não abdicar do direito de contestação. No mesmo mês, foi a vez do francês Broglie desistir, alegando que não estavam “reunidas as mínimas condições de transparência, profissionalismo e boa-fé exigíveis.

Na corrida ficou apenas o consórcio Vanguard/Amorim. Em outubro do ano passado foi assinado o acordo para a compra dos ativos imobiliários. Entretanto, a 27 de novembro, o Ministério Público deu “luz verde” à venda, assim como o Tribunal Central de Instrução Criminal. A decisão foi, depois, finalizada em assembleia-geral da Gesfimo. Foi um “longo trabalho de negociação e formalização do processo de aquisição”, disse a Vanguard Properties, após a assinatura da escritura.

  • 1.376 hectares de terreno

A Herdade da Comporta tem uma área total de cerca de 12.500 hectares, mas apenas 1.376 hectares foram comprados, dos quais 920 são área de desenvolvimento e 62 de intervenção urbanizável. Foi esta área que o consórcio Vanguard/Amorim comprou à Gesfimo – Espírito Santo Irmãos, uma sociedade gestora detida na maioria pela Rioforte (59%) — sociedade do antigo GES –, e na qual o Novo Banco tem uma participação de cerca de 15%.

Estes 1.376 hectares de área de desenvolvimento e floresta correspondem aos ativos imobiliários do Herdade da Comporta – Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado (FEIIF), criado há cinco anos com o objetivo de arrancar com dois projetos turísticos — Comporta Links e Comporta Dunes.

O Comporta Links, em Alcácer do Sal, tem uma área de 365 hectares e é lá que vão ser construídos dois hotéis, dois aparthotéis, lotes para moradias, várias unidades de aldeamento turístico e um campo de golfe. No Comporta Dunes, em Grândola, com 551 hectares de pinhal e perto da praia, vão nascer quatro hotéis, um aparthotel, vários lotes para moradias, unidades turísticas e um campo de golfe com 100 hectares.

O “pacote” inclui ainda alguns “lotes de terrenos não edificáveis, rurais e de floresta”, inseridos no Comporta Dunes, numa área de 460 hectares, somados a uma participação de 50% no capital social e direitos de voto da sociedade DCR&HDC Developments — Atividades Imobiliárias, sociedade detida pelo fundo da Comporta que desenvolve atividade imobiliária.

  • 157,5 milhões de euros

Os ativos da Herdade da Comporta que passaram para o consórcio Vanguard/Amorim são menos do que os inicialmente previstos, isto porque a Gesfimo acabou por vender a meio do processo dois lotes, por cerca de 671.500 euros. Assim, o preço final foi fixado em 157,526 milhões de euros — um montante repartido entre um pagamento em dinheiro e a assunção da dívida de 119,4 milhões da Comporta à Caixa Geral de Depósitos (CGD) –, face aos 158,198 milhões de euros previstos inicialmente.

Mas mesmo os 158,198 milhões de euros iniciais não foram o primeiro valor proposto pelo consórcio Vanguard/Amorim. A primeira proposta do francês Claude Berda e de Paula Amorim era de 156,4 milhões de euros, um valor que acabou por aumentar para 158,2 milhões de euros em novembro do ano passado, garantindo-lhe a vitória na corrida à Comporta.

  • 1.500 milhões de euros numa década

Para levantar todo este imenso projeto turístico para a Herdade da Comporta, será feito um investimento de 1.500 milhões de euros num prazo estimado entre oito a 15 anos. É este montante que vai tornar possível dar à região “uma nova oferta de nível internacional, exemplar e única em Portugal e na Europa”, disse a Vanguard Properties, em comunicado. Numa primeira fase serão investidos 300 milhões de euros.

  • 1.000 residências, seis hotéis e três aparthotéis

Na próxima década, o consórcio prevê levantar na Herdade da Comporta 1.000 unidades residenciais, 725 unidades turísticas, seis hotéis, três aparthotéis, dois club houses, academias desportivas, dois campos de golfe com 18 buracos, cada, comércio e restauração. Ao mesmo tempo, estão a trabalhar com as Câmaras de Grândola e Alcácer do Sal para encontrar numa alternativa de acesso às praias, que passará a deixar de ser feito de carro.

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