Como a imprensa de Angola está a noticiar o Luanda Leaks

Os esquemas suspeitos de Isabel dos Santos, expostos nos Luanda Leaks, correram o mundo. Saiba como estão a ser vistos pela imprensa de Angola.

A fuga dos Luanda Leaks. Os esquemas e negócios suspeitos. A constituição de Isabel dos Santos como arguida. As renúncias de figuras ligadas à empresária. Estas notícias têm marcado a agenda mediática nos últimos dias. E não só em Portugal. A investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) correu o mundo. E em Angola?

Luanda também tem dado algum destaque às revelações. Esta quinta-feira, a capa do Jornal de Angola noticiava “Isabel dos Santos constituída arguida”. A foto escolhida não foi a da empresária, mas sim a do procurador-geral angolano, Hélder Pitta Grós. Para encontrar outra referência aos Luanda Leaks na capa deste diário, é preciso recuar até segunda-feira: “Jornalistas revelam ‘engenharias’ de Isabel dos Santos”, titulou o jornal dirigido por Vítor Silva.

No site do Jornal de Angola, é notícia a misteriosa morte do gestor Nuno Ribeiro da Cunha, gestor da conta da Sonangol no EuroBic. O título: “Tudo aponta para que ‘não haja intervenção de terceiros’ na morte do diretor do EuroBic”, lia-se.

O jornal de economia Expansão tem dado menos atenção ao tema. Para encontrar uma menção a Isabel dos Santos, só a 10 de janeiro, por ocasião do arresto dos bens da empresária pela justiça de Angola. “Esquema mirabolante no negócio dos diamantes gera milhões”, escreveu o Expansão.

“Olhando para a acusação do Ministério Público dada como provada, o negócio da Galp não foi só um grande negócio para a Sonangol, já que a filha do ex-presidente, com um investimento inicial de zero, se vendesse hoje a sua participação ganharia 673 milhões de euros. Estado perdeu milhões nos diamantes”, noticiou o Expansão, que não tinha qualquer referência ao Luanda Leaks esta quinta-feira na sua versão online. “Economia recuou 0,4% nos primeiros nove meses de 2019” era a manchete.

O jornal Mercado não publicou os Luanda Leaks nas sucessivas capas esta semana. Mas, na internet, dá destaque à saída do “braço-direito” de Isabel dos Santos, Mário Leite da Silva, da presidência do conselho de administração do Banco de Fomento Angola (BFA). “Justificou a sua renúncia ao cargo com a exclusão da nova lista de administradores aprovada em dezembro pela operadora de telecomunicações Unitel”, salienta este órgão.

É ainda notícia a saída de Isabel dos Santos do capital do EuroBic. E entre os artigos mais lidos está uma peça de 20 de janeiro, com uma ligação para a página em que o ICIJ expôs os documentos: “Leia aqui os documentos do Luanda Leaks”, escreve o Mercado. “Os documentos a que o ICIJ teve acesso refere uma rede opaca com 400 companhias, muitas delas offshores, ligadas a Isabel dos Santos, e ao marido, Dokolo e os seus associados, e também a assistência dada por parte de companhias europeias e americanas”, lê-se no conteúdo.

Nesta reta final de uma semana agitada em Luanda, outro tema em destaque na imprensa é a posição de Angola no ranking de perceção da corrupção, divulgado em Davos pela Transparency International. “Angola sobe para 26 pontos na classificação do IPC [Índice de Perceção da Corrupção]”, destacou o Vanguarda.

Em O País, o procurador Pitta Grós é notícia por ter garantido que Luanda não está a “perseguir” Isabel dos Santos. “O procurador-geral da República […] desmentiu, ontem [quarta-feira], em Luanda, que a instituição que dirige esteja a perseguir a empresária angolana e filha do ex-presidente”, aponta o jornal.

No domínio da opinião, os Luanda Leaks também merecem a atenção do povo de Angola. Carlos Andrade Sumbe enviou uma carta à redação a confessar os seus receios: “Caro diretor, caros jornalistas do jornal O País, mas assim é [sic] como que só agora é que o país todo acha que a engenheira Isabel dos Santos andou a roubar o país? Isto é mesmo possível?” E continua: “O mais triste no meu país é ver a PGR ainda comentar e dar importância aos documentos que foram publicados lá fora. […] Eu não sei se ela é culpada ou não, só tenho receio que a justiça esteja já inclinada.”

Em “A princesa e o trono”, no Expansão, João Armando assina um texto sobre Isabel dos Santos e a entrevista que deu à RTP, na qual levantou a hipótese de ser candidata à Presidência de Angola em 2022. “Hoje trago-vos notícias do reino. Isto porque a filha mais velha do rei deposto, tratada carinhosamente por princesa, quer disputar o trono com o novo rei. E foi anunciá-lo por terras longínquas, no reino dos antigos donos”, lê-se no artigo.

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