Dívida da Zona Euro com juros negativos volta a aumentar. Em Portugal são quase 85 mil milhões
Coronavírus e tensão entre EUA e Irão levaram os investidores a procurarem refúgio na dívida em janeiro. O total de obrigações com juros negativos atingiu o valor mais elevado desde setembro.
O início do ano está a ser de stress nos mercados financeiros. Um surto de coronavírus que já matou mais de cinco centenas de pessoas e ameaça travar a economia, bem como um conflito entre Estados Unidos e Irão que aumentou os receios de uma guerra levou os investidores a fugirem do risco das ações e a procurarem refúgio nas obrigações.
A dívida soberana da Zona Euro com juros negativos disparou em janeiro para o valor mais elevado desde setembro. Dados da Tradeweb citados pela Reuters indicam que o montante de obrigações com yields abaixo de zero aumentou para 5,27 biliões de euros no final de janeiro, aproximadamente 65% do mercado total de 8,09 biliões de euros no mercado da moeda única. A nível global, são quase 13 biliões.
Portugal não foi exceção. Nessa altura, havia 84,8 mil milhões de euros em dívida pública portuguesa com juros negativos, ou seja, todas as obrigações com maturidade até aos sete anos. Este montante representa também cerca de 65% do total das obrigações do Tesouro que negoceiam no mercado — que totaliza os 130.887 milhões de euros –, de acordo com os cálculos do ECO com base em dados da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP.
A conjuntura internacional, em especial a política expansionista do Banco Central Europeu a par dos vários fatores de incerteza, têm levado a fortes quebras nas taxas de juro das obrigações da Zona Euro. No último mês, os receios de situações pontuais que afetem a economia global levou a novas quebras.
“Obviamente, o coronavírus e a incerteza à sua volta está a ter um impacto no apetite por risco“, disse Marchel Alexandrovich, economista da britânica Jeffries, em declarações à Reuters. “Vamos manter-nos neste estado até que cheguemos à conclusão que o alastrar do vírus atingiu o pico e até que se possa avaliar o impacto que terá para a economia global”.
As bunds alemãs a dez anos, por exemplo, fecharam janeiro nos -0,445% e negoceiam atualmente em -0,37%. Apesar de a dívida portuguesa com essa maturidade não ter juros negativos tem também beneficiado desta quebra (exacerbada pela retoma da confiança de investidores e agências de rating no país), negociando atualmente em 0,3%, acima dos 0,218% em que fechou janeiro.
Nunca o país tinha pago tão pouco para se financiar, sendo que o custo da dívida emitida por Portugal no ano passado custou apenas 1,1%. Quanto ao custo do stock da dívida (incluindo juros das novas emissões e títulos já existentes), ainda não são conhecidos os dados finais de 2019, mas a redução das yields para emitir nova dívida, a par dos reembolsos realizados de dívida emprestada pela troika (que tem juros mais elevados) deverá levar o juro médio do stock da dívida a afundar no total do ano passado.
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