Bancos querem reforço das linhas de crédito e moratórias mais longas
Não há visibilidade sobre o que vai acontecer à economia nos próximos tempos, mas os bancos já sabem que vai ser necessário um reforço das medidas de apoio às famílias e às empresas.
Os apoios do Governo para famílias e empresas são suficientes? Na opinião dos principais bancos nacionais são uma importante ajuda nesta fase inicial da crise, mas vão se revelar insuficientes à medida que os efeitos da pandemia vão agudizando as dificuldades da economia. Terá de haver ajustes no futuro, nomeadamente através de um reforço das linhas de crédito já anunciadas (no valor de 6,2 mil milhões de euros) e de um prolongamento das moratórias dos empréstimos para lá dos seis meses.
Os presidentes dos grandes bancos portugueses foram chamados esta semana ao Parlamento para explicarem as medidas que estão no terreno para ajudar as famílias e as empresas afetadas pela pandemia.
Do lado dos deputados, havia um rol de críticas que foram recebendo sobre a atuação das instituições: excesso de documentação exigida, atrasos na canalização do dinheiro das linhas para as empresas, problemas nas moratórias, entre outras questões.
Um a um, os bancos foram rejeitando responsabilidades relativamente à demora na disponibilização das linhas e também quanto à “papelada”. Mas também deixaram sinais de que será necessário um reforço das garantias do Estado. Mas há margem para o Governo alargar as garantias?
Miguel Maya, presidente do BCP, foi claro no que está em causa neste momento: “Se conseguíssemos encontrar um mecanismo, chamem-lhe coronabonds ou fundo de recuperação europeu, em que esta dívida fosse tratada autonomamente de forma a não prejudicar a dívida pública, eu não teria dúvidas de que estas ajudas eram insuficientes“. Caso contrário, vai ter impacto no rating da República e, consequentemente, no dos bancos.
Relativamente aos atrasos, a banca rejeitou culpas. O BPI esclareceu que só na passada quinta-feira é que se fecharam as regras do protocolo com a Sociedade de Garantia Mútua e que o sistema informático para carregar as operações só ficou operacional na sexta-feira, isto apesar de as linhas terem sido anunciadas pelo Executivo no início do mês.
Mais: o sistema foi-se abaixo poucas horas depois com tantas operações submetidas pelos bancos, e só voltou a estar online esta terça-feira.
António Ramalho, presidente do Novo Banco, sublinhou que geralmente estas linhas costumam ter um prazo processual de dois meses até o dinheiro chegar às empresas. Com o estado de emergência na economia, o tempo encurtou-se para três semanas.
Campeões da Europa no spread
Os bancos fizeram também questão de dizer aos deputados que apenas solicitam os elementos que a Sociedade de Garantia Mútua está a exigir agora. São nove os documentos exigidos às empresas nas novas linhas Covid, mais do que os dois documentos que eram pedidos na linha inicial de 400 milhões.
Neste ponto, Miguel Maya referiu que o BCP só pedirá mais informação em caso de dúvida na aprovação de crédito. “Por uma regra de prudência, rejeitámos sempre quando estamos na dúvida. Se pedimos informação adicional, é para ajudar as empresas”, notou o CEO do BCP.
Sobre o preço das linhas, com os bancos a cobrarem taxas de spread à volta de 1,25%, os banqueiros disseram que não é sequer um tema em cima da mesa. “São os melhores spreads da Europa”, sublinhou Pedro Castro e Almeida, do Santander. Paulo Macedo, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), lembrou que se os bancos nunca se financiaram a um custo tão baixo, o mesmo se passa com as empresas.
Ainda sobre os financiamentos às empresas, os banqueiros alertaram para o facto de serem necessárias soluções alternativas para as empresas viáveis e que não conseguem aceder às linhas porque já tinham prestações em falta antes do início da crise. E ainda para a necessidade de manter os apoios às empresas durante um longo período em que não vão ter receitas. “Os hotéis não vão ter receitas este ano. Mas vão estar cá em 2021 e 2022 e nós queremos apoiá-los”, lembrou Macedo.
Moratórias mais longas
Não há grande visibilidade sobre o impacto da crise a médio prazo. Mas os bancos já sabem que vai ser preciso alongar os prazos da carência de crédito para lá dos seis meses que estão instituídos na moratória pública, que cobre créditos à habitação e às empresas. “Não é em seis meses que a situação da economia se vai resolver”, considerou Paulo Macedo.
A procura tem sido muita: a banca já concedeu mais de 210 mil moratórias em apenas um mês a famílias e empresas, correspondentes a quase 19 mil milhões de euros.
Os bancos não têm mãos a medir. No BCP, por exemplo, trabalha-se ao fim de semana para dar seguimento a todos os pedidos de moratórias que chegam ao banco e há 80 robôs que estão a ajudar a analisar os documentos recebidos.
Se há atrasos e o banco acaba por liquidar a prestação? Os bancos reconheceram que sim, por haver situações como essas. Ainda assim, garantiram a devolução do dinheiro aos clientes que solicitaram a moratória.
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