Sinistros com seguros de crédito aumentam 279% até abril
As 4 seguradoras de crédito aumentaram as suas provisões para enfrentar os riscos de não pagamento das 300 mil empresas portuguesas que dependem dessas coberturas para se manterem no negócio.
As seguradoras de crédito a operar em Portugal registaram um aumento exponencial dos seus custos com sinistros nos quatro primeiros meses do ano quando comparado com 2019, revela um documento interno da Associação Portuguesa de Seguradores a que ECOseguros teve acesso. O mesmo documento explica que esse crescimento se deve essencialmente a um aumento das provisões e, sem dúvida, associado à deterioração genérica do risco de crédito das empresas em resultado do surto de Covid-19. Até fevereiro estes custos estavam a cair, em termos homólogos, na ordem dos 10%.
Este alerta surgiu numa altura em que o Governo estuda a hipótese de lançar uma companhia de seguros de crédito pública a colocar na órbita do futuro Banco de Fomento. O mercado atual é assegurado por 4 seguradoras que garantiram 41,5 mil milhões de euros de vendas efetuadas em 2019, por cerca de 3500 clientes a mais de 300.000 empresas nacionais e estrangeiras.
O estudo refere que cerca de 25% das exportações portuguesas encontram-se total ou parcialmente protegidas por apólices emitidas por essas quatro companhias. O mercado nacional que atingiu uma faturação em prémios de 67 milhões de euros em 2019, e que estava a crescer 5,8% até fevereiro, por comparação com igual período do ano passado, é assegurado pela Cosec, com 52,5% de quota de mercado, Crédit y Caución com 25,9%, Coface com 12% e Cesce com 9,5% de parte do mercado.
O documento da APS refere que, no final de 2019, quase 3.500 empresas portuguesas recorriam aos seguros de crédito como instrumento de gestão do seu risco de negócio, mitigando por esta via a possibilidade de incumprimento nos pagamento dos bens ou serviços por elas fornecidos e obtendo de seguradoras especializadas informações sobre a qualidade creditícia dos seus clientes e, mais genericamente, dos mercados de destino das suas vendas.
Contudo, o universo empresarial que beneficia destes seguros, corresponde ao conjunto das entidades clientes destas 3.500 empresas seguradas estimando a APS que cerca de 300 mil empresas estabelecidas em Portugal, a esmagadora maioria das quais PME’s, tenham visto, até agora, o seu risco de incumprimento garantido, em muitos casos com importância decisiva na viabilização dos negócios.
A associação indica mesmo que num universo estimado as cerca de 450 mil empresas ativas no nosso país, não incluindo empresas em nome individual, mais de 65% beneficia, mesmo desconhecendo, da existência dos seguros de crédito.
As vendas anuais previstas no âmbito de seguros de crédito rondariam, no passado mês de dezembro, os 41,5 mil milhões de euros, o equivalente a quase de 20% do PIB português em 2019. Deste total, cerca de 15 mil milhões de euros correspondiam a vendas para o mercado externo, significa que 25% das exportações se encontram, total ou parcialmente, protegidas pelas seguradoras. No final de 2019, as garantias em vigor nestes contratos de seguro ascendiam a cerca de 24,1 mil milhões de euros, dos quais 13,4 mil milhões de euros eram garantias sobre o mercado interno e 10,7 mil milhões sobre o mercado externo.
Governo quer garantias de Estado em nova seguradora pública
Neste momento, os seguros de crédito estão a faltar às empresas portuguesas. O Governo está a negociar com as seguradoras a operar em Portugal, mas pretende conceder garantia de Estado apenas às exportações que são menos de metade do total utilizado pelas empresas portuguesas. No final de 2019 as seguradoras de crédito garantiam 10,7 mil milhões de exportações, mas a sua maior ação era dar garantia de 13,4 mil milhões de vendas entre empresas portuguesas.
Bloqueando a garantia estatal a vendas no mercado interno e a resseguradoras, que são seguradoras de seguradoras às quais as companhias podem transferir parte dos riscos, o Governo colocou as empresas que usam estes seguros em situação de assumirem sozinhas os riscos dos seus clientes nacionais não pagarem.
No entanto, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, reconheceu a o atraso na resposta a esta situação e referiu esta terça-feira no Parlamento que as garantias públicas sobre seguros de crédito vão ser alargadas às vendas no mercado interno. Segundo o ministro, o país não deu uma resposta adequada aos cortes nos seguros de crédito, por não haver uma instituição pública que controle os seguros de crédito com garantia estatal, ao contrário do que sucedeu em países como Espanha, França e Alemanha.
Triplicam as empresas que trabalham com prazos de pagamento superiores a 120 dias
Entretanto a Crédito y Caución divulgou um estudo em que concluem que 85% das empresas deve aceitar prazos superiores aos desejados. Segundo o Estudo da Gestão de Risco de Crédito em Portugal, impulsionado pela Crédito y Caución, Iberinform e Gestifatura, o atual contexto económico está a provocar um agravamento dos prazos de pagamento nas operações comerciais.
No inquérito participaram mais de 300 gestores de empresas de todas as dimensões e setores, 13% trabalha com mais de 120 dias, uma taxa que praticamente triplica a de 2019. Apenas 27% das empresas opera com os prazos inferiores aos 60 dias contemplados no Decreto-Lei n.º 62/2013 de transposição da Diretiva Europeia de medidas de luta contra os atrasos de pagamento nas transações comerciais. Há um ano, praticamente metade do tecido empresarial (42%) trabalhava com menos de 60 dias.
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