Portugal volta a conseguir juro negativo na dívida de curto prazo. Emitiu 1.250 milhões a três e 11 meses
Tesouro foi, esta quarta-feira, ao mercado para colocar Bilhetes do Tesouro. Procura disparou e, nos títulos a três meses, ficou mesmo seis vezes acima do montante oferecido pelo país.
Portugal emitiu 1.250 milhões de euros em dívida de curto prazo com juros negativos. Após ter pago por Bilhetes do Tesouro (BT) no pico da pandemia, os investidores voltaram a mostrar confiança na dívida nacional, num leilão duplo de títulos a três e 11 meses, realizado na manhã desta quarta-feira.
A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP emitiu mil milhões de euros em BT que atingem a maturidade a 21 de maio de 2021, com uma taxa de juro de -0,438%. Esta compara com os 0,038% pagos a 15 de abril, no último leilão comparável, que marcou a primeira vez que Portugal se financiou a curto prazo desde final de 2016 com taxas de juro positivas.
Já no caso dos bilhetes com prazo a 18 de setembro, o Tesouro colocou 250 milhões com uma yield de -0,48%. No último leilão este juro também tinha sido negativo, mas muito acima do registado esta quarta-feira, já que se tinha situado em -0,09%.
A descida dos juros reflete a forte procura dos investidores, especialmente pelos títulos com prazo mais curto. Nas BT a três meses, a procura foi 6,27 vezes maior que a oferta (no último leilão tinha sido 2,53 vezes superior), enquanto nos títulos a 11 meses ficou 1,92 vezes acima do montante oferecido (face a 1,38 vezes na última colocação).
A principal diferença é que, na última vez que Portugal se financiou nestes prazos, foi no pico da pandemia, quando os investidores mostravam maior nervosismo quanto ao impacto do coronavírus nas finanças públicas dos países. Desde então, Portugal começou o reajustamento da gestão da dívida face às necessidades geradas pela pandemia e deu as projeções económicas já com esse impacto considerado.
Além de haver maior clareza sobre a pandemia, o país está principalmente a beneficiar da rede de segurança do Banco Central Europeu (BCE). “A descida dos prémios de risco dos países está diretamente ligada às medidas extremas que os bancos centrais têm vindo a adotar, para tentarem minimizar os efeitos recessivos que o Covid-19 tem tido na economia real”, explica Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
E a tendência não deverá alterar-se tão cedo já que a presidente Christine Lagarde avançou, no início do mês, com um reforço do programa de compra de dívida pública de 750 mil milhões para 1.350 mil milhões de euros. “Uma subida das taxas de juro, para já é não é uma realidade. Os vários programas de compras de ativos são o que suportam os níveis atuais de prémios de risco que os países têm”, refere Silva.
A decisão de reforçar (e prolongar no tempo) o programa do BCE colocou pressão nos juros dos vários países do euro, levando a yield da dívida portuguesa a dez anos a baixar dos 0,5%. Na sessão desta quarta-feira, as taxas mantém-se próximas destes níveis, com os investidores a exigirem 0,545% para trocarem entre si obrigações benchmark portuguesas. A quebra tem sido acompanhada de um compressão do spread face à Alemanha.
“Esta descida nas taxas, acaba por ser muito importante, não só para Portugal continuar a descer o seu custo médio de serviço da dívida, como para fazer face às necessidades de financiamento que os vários setores da economia vão demonstrando e que sem ajuda poderão acabar por colapsar”, acrescenta o diretor de investimentos do Banco Carregosa.
(Notícia atualizada às 11h00)
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