Brasil: Seguros quebram 26% por causa da Covid-19
O volume da arrecadação desceu até um mínimo de quatro anos, um declínio que o setor atribui ao impacto da pandemia Covid-19. Num mercado fortemente concentrado, a lista das 20 maiores quase não muda.
A receita em prémios totalizou 15,7 mil milhões de reais (cerca de 2,64 mil milhões de euros), em abril, “a menor observada desde fevereiro de 2016” (15,03 mil milhões de reais). Os números, que excluem o ramo de seguros privados de saúde suplementar e o seguro universal de danos pessoais por veículos terrestres (DPVAT), foram revelados pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg).
“Já era esperado o impacto trazido pelo primeiro mês completo afetado pelo distanciamento social e pela perda de mobilidade da população e dos fatores de produção”, destaca Márcio Coriolano, presidente da CNseg, citado no boletim de conjuntura de junho.
Face a março, a arrecadação recuou 21,4%, enquanto a variação face a período homólogo de 2019 teve a referida quebra de 26,1%. Já a média móvel de 12 meses registou desaceleração ao passar de crescimento de 12,5% para 10,1% na série de dados terminando em março e em abril, o que representou uma variação de -2,4 pontos percentuais em termos anualizados.
O segmento de cobertura de Pessoas, que representa mais da metade da receita total do mercado de seguros, “foi o que teve maior contribuição para a retração dos negócios em abril,” apontando uma queda de 28,8%, em base mensal, devido “às restrições à mobilidade”.
No segmento de Danos e Responsabilidades, que responde por 37% do mercado, “a redução relativa foi de 8,8%”. Neste segmento, os ramos que mais pesaram na desaceleração foram o de Responsabilidade Civil (-21,2%), Garantia Estendida – que inclui seguros de bens de consumo duradouro (eletrodomésticos e outros) – caiu 17,3%; Automóveis (-13,5%) e Crédito e Garantias (-12,7%), revela o boletim da CNseg.
Nos seguros previdência privados (PGBL – Plano Garantia de Benefício Livre e o VGBL – Vida Garantia de Benefício Livre), o mercado foi igualmente afetado pelas restrições de mobilidade (o VGBL, por exemplo, teve quebra superior a 51% face a abril de 2019). O segmento de produtos de capitalização também foi afetado pela quarentena, recuando 18% em abril, face a março.
Progressão da pandemia agravará queda nos seguros
Considerando a evolução setorial, a situação – comparada com a boa evolução de receitas do segundo semestre do ano que passou – irá ser “progressivamente comprometida pelas circunstâncias do novo coronavírus” e, portanto, “poderá mostrar repetidas taxas de decréscimo relativo,” considera o responsável.
De acordo com dados oficiais, a 19 de junho, o Brasil já superou o limiar de um milhão de infetados por Sars-Cov2 (covid-19). Nas últimas quatro semanas, a crescer em mais de 150 mil casos por semana epidemiológica, a curva da pandemia no maior país da lusofonia (210,15 milhões de habitantes, IBGE – junho 2019) contabilizava cerca de meio milhão de doentes recuperados e cerca de 49 mil óbitos confirmados. As regiões do nordeste e sudeste do Brasil concentram cerca de 70% das infeções.
No conjunto de 2019, a arrecadação do mercado brasileiro de seguros alcançou uma progressão de 12,1%. Considerando todo o primeiro quadrimestre de 2020, a receita do setor alcançou 80,2 mil milhões de reais (cerca de 13,37 mil milhões de euros), fixando um decréscimo de 1,1% (face a igual período de 2019), depois de ter crescido 7,8% até março e a refletir primeiros efeitos económicos do confinamento imposto pela pandemia.
Assim, olhando para maio, “a série estatística da arrecadação mostra que, caso ele repita a queda, na ótica de 12 meses o mergulho será maior, de 3,8 pontos percentuais”, antecipa Márcio Coriolano citado no documento.
A figura “arrecadação” na indústria local contempla os prémios de seguro direto, subscrições de produtos de capitalização, contribuições para planos de previdência e as prestações dos seguros de saúde complementar.
Desvalorização cambial e elevada concentração penalizam seguros
Em 2019, o mercado segurador do Brasil (incluindo o setor previdência, que cresceu 11% e influenciou a evolução) contabilizou uma receita total de 272,2 mil milhões reais (cerca de 45,77 mil milhões de euros ao câmbio corrente), crescendo cerca de 7% acima da arrecadação de 2018, segundo dados do regulador e supervisor de seguros privados (Susep).
De acordo com dados da Swiss RE-Sigma, divulgados numa análise da consultora EY para 2020, o mercado brasileiro (em valor bruto de prémios) cresceu a uma taxa anual de 8,3% entre 2013 e 2018 (em reais brasileiros). Mas, considerando a desvalorização da moeda – em resultado da recessão económica no período 2016-2017 – o mercado encolheu 2,5% em dólares dos EUA.
No conjunto dos ramos Vida (2,1% em taxa de penetração em proporção do PIB de 2018) e não Vida (1,8%), o volume bruto de prémios ascendeu a 73 mil milhões de dólares em 2018, respetivamente 39 mil milhões em seguros Vida e 34 mil milhões de dólares no negócio não Vida, de acordo com o relatório da resseguradora mundial.
O Brasil contava cerca de 120 seguradoras em 2019. Em termos de concentração do mercado, e de acordo com informação da Susep, as cinco maiores seguradoras respondiam por cerca de 32% do mercado, enquanto os cinco maiores grupos económicos representavam 43% do mercado. Amplificando a análise, as 10 maiores representavam perto de 80% de todo o mercado brasileiro de seguros, uma situação que Solange Vieira, responsável da Susep, lamenta de forma recorrente nas suas intervenções públicas.
Quanto à repartição do volume de prémios por segmentos, os seguros de automóveis e de pessoas apresentaram os maiores volumes de prémios diretos um período de análise compreendido entre 2002 e 2019, com participação conjunta oscilando entre 62% e 68%, detalha o organismo de fiscalização no mais recente relatório de acompanhamento do mercado.
Em 2019, “o segmento Pessoas superou o segmento Auto pelo terceiro ano consecutivo, e os segmentos Financeiro e Patrimoniais-Outros voltaram a figurar entre os segmentos com maior volume de prémios diretos, substituindo os segmentos Garantia Estendida e DPVAT”, este último a perder peso devido a legislação que reduziu a tarifação entre 2017 e 2019.
Enquanto a Susep regula e fiscaliza as seguradoras privadas, a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) congrega as empresas que compõem o setor, por sua vez reunidas em quatro Federações (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap).
De acordo com compilação do Sincor SP – Sindicato de Empresários e Profissionais Autónomos da Corretagem e da Distribuição de todos os ramos de Seguros, Resseguros e Capitalização do Estado de São Paulo (Brasil), os cinco maiores grupos do setor por volume são Bradesco, SulAmerica, BB Mapfre, Porto Seguro e Zurich.
Sem considerar o VGBL (um produto de acumulação ou poupança privada, normalmente integrando a oferta do ramo Vida) – a lista das 20 maiores seguradoras do Brasil, por grupos económicos e valor de prémios emitidos, em reais – apresentava-se como se indica.
Ranking e quotas de mercado (2017-2018)
Valores em mil Reais
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