Girl Movers: “em completa igualdade com os demais estagiários”
Margarida Olazabal Cabral, Isabel Gião de Andrade, Helena Tapp Barroso e Margarida Couto, mentoras champion de 2020, explicaram à Advocatus em que consiste este movimento.
A Academia “Girl Move” é uma ONG que trabalha com jovens raparigas em Moçambique, contribuindo para uma nova geração de mulheres, quebrando ciclos de pobreza e de baixos níveis de escolaridade na população feminina. Este ano, os parceiros portugueses incluíram a Morais Leitão, a Vieira de Almeida, a SRS Advogados e a Miranda & Associados.
Aposta em novas líderes, que se tornam referências locais e mudam, pelo exemplo, a sua família, a sua comunidade e o seu país. Forma raparigas decididas, empenhadas em ser parte da solução no desenvolvimento estratégico de Moçambique.
Numa primeira fase, apoia jovens adolescentes, dos 12 aos 15 anos, com o programa Mwarusi, reforçando os incentivos para o estudo e ingresso na universidade, para uma vida de escolhas próprias, em função da sua vocação e interesses. Trabalha a dimensão Believe, para que todas as meninas possam acreditar em si mesmas, nas suas capacidades e no seu futuro. Falamos de adolescentes num contexto em que apenas 15% acaba o ensino secundário, e só 1% das moçambicanas chegam ao ensino superior. A Girl Move mostra-lhes que há uma alternativa, que é possível quebrar o ciclo de pobreza e falta de representatividade ao acreditar nas suas competências pessoais, sociais e escolares.
O Lead é o programa de liderança universitária, formando jovens universitárias para que não desistam do seu sonho, apoiando-as nos desafios que enfrentam, enquanto ensinam as jovens Mwarusis a trilhar o mesmo caminho em liberdade, na certeza de que terão as oportunidades necessárias para fazer avançar as respetivas comunidades.
Para as mulheres moçambicanas entre os 20 e os 30 anos, já licenciadas, existe o Change, programa de liderança e empreendedorismo, ajudando-as com as ferramentas necessárias para se fazerem ouvir em Moçambique, construindo a sua visão do país.
Desde o seu início, o objetivo da Girl Move sempre foi fazer crescer os sonhos destas jovens moçambicanas, mostrando-lhes que, com trabalho e determinação, as oportunidades podem concretizar-se. Captou a atenção de parceiros portugueses desde cedo, que não faltaram à chamada para liderar também pelo exemplo, recebendo as Girl Movers em completa igualdade com os demais estagiários.
Este ano, os parceiros portugueses incluíram Morais Leitão, Vieira de Almeida, SRS Advogados e Miranda & Associados.
Num ano completamente atípico, a Morais Leitão e a Vieira de Almeida aderiram à reinvenção do programa de acolhimento da Girl MOVE – Exchange LAB 2020 Humanizing Distance – um formato que se concretizou num acompanhamento virtual intenso e inovador, com sessões a dois, consoante o interesse das participantes, talks/webinars de liderança e sessões frequentes com a equipa de mentoria. As Girl Movers tiveram oportunidade de conversar com profissionais de sucesso sobre as suas opções e trilhos de vida, conhecendo ainda todos os aspetos do negócio e trabalhando mais a fundo os temas indicados no seu pitch inicial.
Ainda assim, o saldo é muito positivo, com a multiplicação de sessões e conversas, gerando efeitos que vão muito para além do parceiro inicial: da conversa nasce a relação, introduz-se novo tópico e novas pessoas, aumentando a rede e o conhecimento destas jovens moçambicanas.
Para a Morais Leitão, houve um aspeto fundamental a manter: a relação com as Girl Movers é bidirecional. Não são só as estagiárias que vêm aprender com os advogados e colaboradores da Sociedade, são as próprias pessoas da Morais Leitão que aprendem (e muito) com o incrível exemplo de motivação, liderança e determinação de cada Girl. Assim, a Geth Dos Santos Tangune deu uma palestra sobre liderança aos jovens advogados da Morais Leitão, tendo-se juntado a ela Lurdes Manuel, Girl Mover do ano anterior que marcou de forma muito clara todos aqueles com quem interagiu.
Margarida Olazabal Cabral, mentora champion de 2020, confirma esta partilha comum “Do balanço destes dois anos de relação com a Girl Move fica para os que trabalham na Morais Leitão a alegria de experimentar como o contacto com a nossa vida profissional e com o nosso modo de exercer a profissão pode ter um enorme valor para estas jovens que iniciam a sua carreira, e de como vale a pena perdermos – ou melhor, ganharmos – o nosso tempo nessa colaboração. Fica também o privilégio de nos deixarmos tocar por uma realidade diferente e de ser interpelados pela força e pela inspiração de mulheres que têm uma vida com dificuldades e obstáculos que a generalidade de nós não passou e que revelam uma coragem e uma motivação – e um brilho nos olhos! – que tantas vezes nós não temos. O balanço é também de uma enorme admiração pelo trabalho feito pela Girl Move: basta vermos uma destas girl movers a fazer uma apresentação, e ficamos a pensar que quem nos dera também a nós frequentar o programa Change…!”
Helena Tapp Barroso, outra mentora champion de 2020, referiu a “importância que representa poder estar diretamente envolvida e poder desafiar tanto outros na casa Morais Leitão a contribuir com o seu tempo, a sua experiência, o seu modo de estar na profissão e na sociedade civil, para aquilo que é um projeto global que potencia o talento e promove uma nova geração de líderes no feminino, mas que é um projeto e um caminho de crescimento nesse mesmo sentido para cada Girl Mover. Inspiração foi um dos motes deste envolvimento, mas, ainda que a Geth possa pensar que apenas foi «inspirada», cada um dos muitos que participaram ativamente, do nosso lado, vivenciou como a Geth foi, verdadeiramente, «inspiradora»!”
No âmbito do “Prémio de Serviço” que, em cada ano se atribui na Morais Leitão e que conta já com dez edições e outros tantos “premiados para o serviço”, estava previsto que a Helena Tapp Barroso tivesse “cumprido” um mês “de serviço” em 2020 na Academia da Girl Move em Nampula. “A pandemia impediu que assim tivesse sido em 2020 – tal como impediu que o estágio da Geth tivesse acontecido presencialmente, em Portugal – mas não o impedirá indefinidamente! O digital permitiu reinventar e manter uma experiência de estágio que, sendo diferente da que vivemos no ano anterior, foi igualmente intensa e altamente enriquecedora, vamos continuar a fazer caminho! “
Geth do Tangune dos Santos, de 23 anos, licenciada em Direito, foi a primeira estagiária da Morais Leitão a vivenciar este novo modelo, caracterizando a experiência como “incrível e muito inspiradora”. Embora reconheça os limites da ligação digital, durante o período de estágio, sentiu que estava em Lisboa por força do acompanhamento contínuo que recebeu. “Tive a oportunidade de conhecer conceituados advogados com uma carreira inspiradora, passaram-me um pouco das suas experiências no âmbito do direito e deram-me conselhos e dicas construtivas para o meu futuro profissional. Terminei o estágio com a certeza do que quero ser e fazer e ainda levar avante o meu propósito”, afirma após o termo do contacto com a Morais Leitão.
A Vieira de Almeida é parceira da Girl MOVE Academy desde 2016 e recebeu, este ano, quatro Girl Movers para um estágio virtual. Para Margarida Couto, CEO da Fundação Vasco Vieira de Almeida e mentora champion, este “é um projeto extremamente impactante e transformador tanto para as Girl Movers como para os colaboradores da Firma, que se envolvem direta ou indiretamente no projeto. As histórias de vida destas jovens são absolutamente inspiradoras, desinstalam-nos e interpelam-nos, fazendo-nos acreditar que, para fazer a diferença na nossa comunidade e no mundo, basta querer muito, como elas querem! Sentimo-nos todos pequenos ao olhar para o tamanho dos sonhos destas jovens mulheres e para a grandiosidade da vontade de os concretizar. E ficamos com vontade de ficar a espreitar o promissor futuro que definitivamente as espera!”
Para Isabel Gião de Andrade, sócia da VdA e mentora champion, ser mentora destas Girl Movers é um privilégio. “Esta experiência ultrapassou todas as barreiras e tornou o espaço físico numa irrelevância. Provou que o conhecimento se pode partilhar, mostrou que há pessoas que, contra todas as adversidades de vida, não deixam de acreditar que é possível e tudo fazem para que os seus sonhos sejam reais. De repente, a geografia de cada um era irrelevante e apenas tivemos que nos reinventar para criar laços de proximidade através de meios virtuais. Acima de tudo, deixou claro que pessoas como a Eunice e a Nádia são verdadeiras Movers, que irão ajudar a construir a história do seu país.
“Qual é o teu sonho?”, foi com esta pergunta que a Eunice terminou a sua história. Uma história de vida que partilhou com os colaboradores da VdA que assistiram à sua Impact Talk – o momento que marcou o encerramento do período de estágio destas corajosas raparigas de Moçambique que tentam fazer a diferença nas suas vidas e no seu país, tocando tantas outras vidas durante o seu percurso. “Qual é o teu sonho?”, é a pergunta que deixo, com a certeza de que estas Girls Movers irão cumprir o seu.”
Eunice Russoca, de 22 anos e formada em Direito foi uma das quatro girl movers que estagiou com a VdA e deixou também um testemunho: “É verdade que 2020 foi um ano atípico, muito intenso e agitado porém, com o apoio da equipa de mentoria da VdA, conseguimos excelentes resultados neste modelo de estágio virtual. Quando penso no estágio, a primeira palavra que me vem à cabeça é ‘obrigada’. Sinto-me grata por tudo o que a VdA me proporcionou. Muito mais do que uma experiência profissional, percebo que evoluí como pessoa e sinto que colhi mais ferramentas que usarei para alcançar o meu sonho. Levo daqui não só os ensinamentos que me ajudarão na minha luta na defesa dos direitos humanos, mas também o afeto de todos. Esta experiência irá marcar a minha vida para sempre.”
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