Bem-vindo ao modelo híbrido. Quatro tendências que vão moldar o futuro do trabalho

A Microsoft está a desenvolver a sua própria estratégia de trabalho híbrido, para mais de 160 mil empregados em todo o mundo. Um passo que, para a tecnológica, é "inevitável" para as empresas.

Se, em março do ano passado, quando as empresas se viram obrigadas a enviar os seus colaboradores para casa devido à pandemia mundial, a mudança foi abrupta e inesperada, agora estamos perante uma mudança igualmente diruptiva mas para a qual algumas organizações já estão a preparar-se. É novo modelo — de trabalho híbrido — é o passo que se segue, o que significa que alguns colaboradores regressam ao escritório, mas que outros continuam a trabalhar a partir de casa.

Para a Microsoft — uma dessas empresas que estão a desenvolver a sua própria estratégia de trabalho híbrido, neste caso para mais de 160 mil empregados em todo o mundo — trata-se de um passo “inevitável”. “Com mais de 40% da força laboral a considerar deixar o seu atual emprego este ano, uma abordagem atenta ao trabalho híbrido será fundamental para atrair e reter diversos talentos”, lê-se numa publicação feita pela Microsoft no site.

Foi precisamente para ajudar as empresas nesta revolução laboral que a tecnológica desenvolveu o “2021 Work Trend Index“, um estudo com mais de 30 mil pessoas em 31 países. Entre as principais conclusões, tendências e desafios está a certeza de que o teletrabalho veio para ficar, de que os líderes precisam de uma wake-up call, de que a alta produtividade está a esconder trabalhadores exaustos e, finalmente, de que, com o regime híbrido, o talento está em qualquer parte do mundo.

1. Teletrabalho veio para ficar

De acordo com a tecnológica, mais de 70% dos profissionais querem que as opções de trabalho remoto e flexível se mantenham após a pandemia mundial, algo que faz com que 66% dos decisores empresariais estejam já a considerar redesenhar os escritórios, de modo a desenvolver melhores ambientes de trabalho híbridos. “Flexibilidade e trabalho híbrido definirão o local de trabalho pós-pandémico”, afirma a tecnológica.

Fonte: The 2021 Work Trend Index

“As expectativas dos trabalhadores estão a mudar e teremos de definir a produtividade de forma muito mais ampla, incluindo a colaboração, a aprendizagem e o bem-estar para impulsionar a progressão na carreira de cada trabalhador (…) Tudo isto precisa de ser feito com flexibilidade de quando, onde e como as pessoas trabalham”, diz Satya Nadella, CEO da Microsoft.

2. Os líderes precisam de uma wake-up call

“Os encontros no escritório ajudam a manter os líderes honestos. Com o trabalho à distância, há menos hipóteses de perguntar aos trabalhadores: ‘Olá, como estás?’ e conseguir algumas pistas importantes à medida que eles respondem. Precisamos de encontrar novas formas de combater isto”, afirma Jared Spataro, CVP da Microsoft 365.

Encontrar soluções capazes de colmatar a distância física e, ao mesmo tempo, que usem a tecnologia para potenciar a proximidade entre equipas e líderes é um dos principais desafios dos decisores agora mesmo. No entanto, há que fazê-lo sempre a pensar nas pessoas. E, neste momento, os colaboradores sentem “falta de conexão”, revela a Microsoft. Por outro lado, 37% sente também que a sua empresa está a exigir demasiado deles.

3. Alta produtividade está a esconder trabalhadores exaustos

Segundo o estudo da empresa liderada por Satya Nadella, apesar das várias mudanças ao nível do modelo e dinâmicas de trabalho, a produtividade não foi afetada durante o ano passado. Aliás, se houve alguma alteração, foi, maioritariamente, positiva, tendo a produtividade aumentado em alguns casos. No entanto, esse aumento teve um custo.

Um em cada cinco profissionais diz que o seu empregador não se preocupa com o seu equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal, revela o estudo. Além disso, mais de metade dos inquiridos afirmam sentir-se sobrecarregados de trabalho, enquanto 39% diz estar exausto.

De facto, com a pandemia mundial, a intensidade digital disparou. Aumentaram as videochamadas, bem como a duração das mesmas, as mensagens trocadas por chat e o número de emails. Para que tenha uma ideia, a duração média de uma reunião é agora dez minutos superior, passando de 35 para 45 minutos. Um membro de uma equipa aumentou, em média, 45% o seu número de mensagens semanais e, muitas vezes, enviadas após o horário de trabalho.

4. O talento está em qualquer parte do mundo

Por outro lado, uma das principais mudanças que o trabalho remoto traz é a possibilidade de alargar o mercado de talentos que vê, cada vez mais, as fronteiras esbaterem-se. As ofertas de emprego para trabalhar à distância aumentaram cinco vezes durante a pandemia, o que faz com procurar e encontrar o melhor talento não se restrinja à área de localização do escritório.

“As pessoas já não têm de abandonar a sua secretária, casa ou cidade para expandir a sua carreira, o que terá um impacto profundo no panorama dos talentos”, diz a Microsoft. Com esta possibilidade, quase 50% dos trabalhadores remotos inquiridos revelam mesmo que estão a planear mudar-se para um novo local durante este ano.

"Esta mudança é suscetível de manter-se, e é boa para democratizar o acesso às oportunidades. As empresas nas grandes cidades podem contratar talentos de grupos sub-representados que podem não ter os meios ou o desejo de se mudarem para uma grande cidade. E, nas cidades mais pequenas, as empresas terão agora acesso a talentos que podem ter um conjunto de competências diferente da que tinham anteriormente.”

Karin Kimbrough

Chief economist do LinkedIn

“Esta mudança é suscetível de manter-se, e é boa para democratizar o acesso às oportunidades. As empresas nas grandes cidades podem contratar talentos de grupos sub-representados que podem não ter os meios ou o desejo de se mudarem para uma grande cidade. E, nas cidades mais pequenas, as empresas terão agora acesso a talentos que podem ter um conjunto de competências diferente da que tinham anteriormente”, considera Karin Kimbrough, chief economist do LinkedIn, empresa que contribuiu também para o “2021 Work Trend Index”.

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