Risco cibernético é o que mais preocupa maioria das empresas portuguesas
A instabilidade política ou social iguala pandemia como 2º risco mais importante. Em consequência da Covid-19, a gestão de risco passou a ser importante para 90% das organizações, face a 10% em 2017.
Entre os principais riscos que as empresas portuguesas esperam enfrentar em 2021, os ataques cibernéticos ocupam a primeira posição com 57% das respostas recolhidas num inquérito anual, com esta ameaça a manter-se como a mais percecionada há quatro anos consecutivos.
No segundo lugar, empatados com 53%, encontram-se a pandemia/ surtos e a instabilidade política ou social, riscos que “também cresceram em termos de perceção” e que derivam diretamente da crise global provocada pela pandemia. O risco de recessão, apontado por 37% dos respondentes, e os eventos climáticos extremos (29%), completam o Top 5 dos maiores desafios que as empresas portuguesas admitem enfrentar nos meses futuros.
Os números foram revelados pela Marsh Portugal, no evento virtual Raio-X aos Riscos, que lançou a 7ª edição do relatório A Visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos 2021, com os resultados do inquérito realizado entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, junto de 152 empresas (públicas e privadas) de 21 setores de atividade, mais de metade da amostra empregando 250 (ou mais) trabalhadores e com, pelo menos, cinco milhões de euros em volume de negócios.
Se a cibersegurança constitui a maior preocupação no raio-X às próprias organizações, quando os representantes das empresas portugueses dirigem o olhar para o mundo, a pandemia/propagação rápida de doenças infecciosas toma o primeiro lugar no ranking de riscos em 2021 (63% das respostas), seguida dos ataques cibernéticos em grande escala (62%) e crises fiscais e financeiras em economias chave, em 3º lugar, com 46%. O risco global de eventos climáticos extremos ocupa o 6º lugar da tabela, apontado por 34% das respostas recolhidas no inquérito.
Na análise à evolução da importância atribuída aos riscos nos últimos anos, a Marsh observa que os ataques cibernéticos se mantêm como a maior preocupação desde 2018 na perspetiva da exposição da própria empresa aos riscos, tendo progredido da mesma forma na visão dos empresários portugueses sobre o mundo, exceto no diagnóstico para 2021, em que a pandemia sobe ao primeiro lugar, relegando os ataques informáticos para segundo lugar nos “riscos que o mundo vai enfrentar.”
Recorde-se que, em 2020, apenas 6% das empresas portuguesas identificaram o risco de pandemia/surtos, apesar de já ser conhecida a situação que estava a ser vivida no Oriente. “Este risco saltou do fundo da tabela para o topo, com uma subida de mais de 47 pontos percentuais”. É expectativa da Marsh Portugal que, face à experiência negativa vivida durante o último ano, que “este risco se mantenha no radar de preocupações, devendo os gestores de risco acompanhar mais de perto o trabalho que a Organização Mundial de Saúde desenvolve”.
Face ao efeito da crise sanitária, a consultora global de risco avaliou o impacto que a pandemia está a ter nos negócios, quais as principais áreas da empresa que foram afetadas e se, de alguma forma, esta pandemia influenciou a implementação de políticas ambientais. Dois terços das auscultadas (67% da amostra) indicaram que a pandemia teve um efeito negativo nas suas empresas.
Noutro capítulo, o estudo de 2021 analisou a temática da gestão de risco nas empresas nacionais, a importância que lhe é atribuída e verbas orçamentadas para o efeito. A grande maioria (nove em cada 10) atribui elevada ou suficiente importância à gestão de riscos (contra uma em cada 10 no ano 2017). Nos gastos com este fator de resiliência, um terço (35%) afirma que o valor orçamentado para a gestão de riscos aumenta este ano nas suas organizações, porquanto 48% das empresas portuguesas dá elevada importância à gestão de riscos, 42% afirma dar suficiente importância; e, apenas 9% diz que à gestão de riscos nas suas empresas é dada pouca importância.
Em conclusão, a Marsh explica que o cenário de ameaças cibernéticas tem evoluído rapidamente, reforçado pela pandemia, o que leva as empresas a procurarem respostas mais céleres para lidar com estas exposições. “É crucial que garantam formação especializada aos seus colaboradores, para que acompanhem o ritmo atual da digitalização e adaptem as suas operações às novas tecnologias”, sustenta Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh.
Colocando o foco sobre os restantes riscos que constam no Top 5, “a pandemia colocou a saúde física e mental dos colaboradores em destaque nas agendas de gestores e decisores, de forma a que fosse garantida a sua integridade física e bem-estar, sendo cruciais para as organizações, tanto no crescimento de receita, como ao nível reputacional e para a retenção/aquisição de talentos”. Mais amplamente, a instabilidade política ou social contribui para o abrandamento do crescimento económico e, por outro lado, “as empresas não devem perder de vista as ameaças das alterações climáticas.”
Eventos de alto impacto, “como se veio a materializar com a pandemia, podem também coincidir com outros riscos impactantes, como eventos climáticos extremos, ou aumentar significativamente a probabilidade de outros riscos acontecerem, como o aumento das ameaças cibernéticas”, salienta a empresa líder na corretagem de seguros e consultoria de riscos.
Durante o webinar, que articulou os dados de âmbito nacional com os do Global Risks Report 2021 divulgado no no âmbito do Fórum Económico Mundial, os especialistas da Marsh Portugal focaram ainda os riscos silenciosos (blind risks), que surgem no fundo da tabela, como sendo os menos percecionados. Entre estes, globalmente, emergem os que concorrem para eventual “fracasso na ação climática”, a desilusão generalizada dos jovens, a erosão da coesão social e, a merecer atenção especial, os relacionados com a saúde mental.
Perspetivando o longo prazo, a 10 anos, os intervenientes do encontro virtual coincidiram que as ameaças decorrentes das alterações climáticas e a cibersegurança deverão perdurar no topo dos riscos.
A Marsh considera que uma das palavras para definir 2021 possa ser “resiliência”. As organizações que apostam numa “gestão de riscos eficiente serão, também, as mais resilientes para fazer face aos desafios que atravessamos”, remata a companhia do grupo MMC.
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