Depois da Savannah, Galp está à procura de novos parceiros para o negócio do lítio

A empresa revela que teve "contactos exploratórios com vários players" do setor e está neste momento "a conversar com possíveis parceiros de upstream (lítio) a downstream (montagem de baterias)".

A propósito do interesse da gigante sueca Northvolt em comprar o lítio extraído e refinado em Portugal, hipótese que está ainda a ser estudada pela fabricante de baterias, a Galp revela agora que teve “contactos exploratórios com vários players” do setor e está neste momento “a conversar com possíveis parceiros de upstream (lítio) a downstream (montagem de baterias), para procurar reunir as aptidões e as parcerias que permitam avançar com esta cadeia de valor de forma integrada”.

Ou seja, além do lítio que vai comprar à Savannah Resources (5,3 milhões de euros para comprar 10% da mina do Barroso e no futuro ficar em regime de exclusividade com metade do minério ali extraído — cerca de 100 mil toneladas por ano), a Galp está também à procura de mais parcerias no setor mineiro, fornecedores de matéria-prima e compradores do lítio já refinado, ou seja, empresas de fabrico e montagem de baterias. Pelo meio, nesta cadeia de valor, fica a refinaria de lítio que o Governo português já disse que quer ver nascer no país, mas sobre a qual ainda pouco se sabe.

A Savannah deixa a garantia que a Mina do Barroso não terá uma refinaria. “Existem várias fábricas de conversão de lítio (refinarias) propostas para serem desenvolvidas na Europa e possivelmente na Península Ibérica. Cada uma dessas fábricas é um potencial cliente para a espodumena de lítio produzida pela Savannah, pelo que o concentrado de espodumena será enviado para uma refinaria a desenvolver na Europa e potencialmente no norte de Portugal, onde o material será utilizado para produzir hidróxido de lítio”, disse fonte da empresa.

Do lado da Galp fica a garantia de que a petrolífera “está a trabalhar arduamente para garantir que é possível a implementação de uma cadeia de valor completa de baterias para veículos elétricos em Portugal e na Península Ibérica, e não apenas nos países da Europa Central e do Norte. Este movimento tem por base a nossa forte convicção de que estamos melhor posicionados do que qualquer outro país europeu para assumir um papel central na cadeia de valor das baterias para veículos elétricos na Europa, graças aos nossos recursos naturais, às boas condições logísticas e de infraestruturas, aos portos existentes no país, à mão de obra qualificada e à energia limpa que temos“, disse ao ECO/Capital Verde fonte oficial da empresa.

E sublinha: “É por isso que estamos a trabalhar de forma intensa nesta grande oportunidade, dando passos concretos para criar projetos integrados que permitam ao país posicionar-se na vanguarda desta corrida”, disse a mesma fonte.

Esta declaração de intenções surge cinco meses depois, de em dezembro de 2020, a empresa ter admitido pela primeira vez estar a estudar a cadeia de valor de baterias, e de em janeiro de 2021 ter anunciado um acordo com a Savannah Resources para comprar metade de todo o lítio que venha a ser extraído em Boticas. Também o novo CEO da Galp, o britânico Andy Brown, já deixou claro que nesta nova era da petrolífera quer explorar oportunidades no lítio, nas baterias e no hidrogénio.

Sabe-se agora que o Ministério do Ambiente e da Ação Climática participou numa reunião com os gigantes suecos produtores de baterias de lítio da Northvolt, promovida pela AICEP. O encontro teve em vista futuras negociações para a compra do lítio que venha a ser refinado em Portugal, sendo que a empresa sueca continua ainda a avaliar o potencial do país como fornecedor deste minério, sabe o ECO/Capital Verde.

Este contacto vem assim juntar-se a outros dois que tiveram lugar em 2020: no primeiro semestre do ano passado o presidente do AICEP tinha já ido a a Estocolmo para se reunir com os responsáveis da Northvolt, o que originou depois a sua vinda a Portugal, meses mais tarde, para se reunirem com a Galp, em novembro, sabe o ECO/Capital Verde.

Sem confirmar esta reunião ou as negociações com a Northvolt, no final de 2020 a Galp garantiu não existir ainda qualquer acordo com a empresa sueca para a venda do lítio refinado em Portugal. A empresa disse também não existir qualquer projeto para transformar a refinaria petrolífera de Matosinhos, entretanto encerrada, numa refinaria de lítio no futuro.

Por seu lado, fonte oficial da Northvolt garantiu também no final de 2020 ao ECO/Capital Verde que Portugal tem todas as vantagens: cadeias de abastecimento curtas, fontes de energia renovável e exploração de depósitos nacionais de lítio.

“A Europa pode, sem dúvida, desempenhar um papel muito mais importante no abastecimento das matérias-primas de que a indústria de baterias elétricas necessita. Cadeias de valor curtas, fontes de energia renovável ​​e exploração de depósitos domésticos são do nosso interesse. Portugal preenche muitas destes requisitos. No entanto, neste momento não estamos em posição de avançar mais detalhes”, disse no final do ano passado fonte oficial da empresa sueca.

No ano passado, a Galp chegou a sondar a Lusorecursos para obter na mina de Montalegre a matéria-prima necessária para refinar, mas a empresa portuguesa de prospeção e exploração mineira no norte e centro de Portugal acabou por recusar por considerar que não se trata de um negócio rentável extrair o lítio da mina para depois o transportar para ser refinado a vários quilómetros de distância.

Isso acontecerá agora com o lítio da Mina do Barroso, mas a Savannah continua a garantir que “o concentrado de espodumena terá uma pegada de carbono muito baixa”.

“A espodumena de lítio é o mineral de lítio mais comercializado a nível mundial e é transportado ao longo de vastas distâncias de pontos de produção para mercados muitas vezes milhares de quilómetros de distância, por exemplo, da Austrália para a China e depois para a Europa. No caso da Mina do Barroso, vamos transportar a espodumena em distâncias muito mais curtas, tanto em Portugal como na Europa, o que resultará numa pegada de carbono significativamente reduzida para o transporte do material em comparação com a espodumena produzida, por exemplo, na Austrália, África ou América do Sul”, refere a empresa mineira.

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