Britânicos estão de volta com muitos milhares de milhões para gastar no turismo português

Portugal volta a receber turistas britânicos que na bagagem trazem muitos milhares de milhões de euros. Gastam nos hotéis, restaurantes, mas também nas compras. E até no imobiliário.

Os britânicos estão de volta e o turismo português festeja, de olhos postos numa recuperação ao fim de um ano de perdas acentuadas. Vêm, sobretudo, à procura do calor e da gastronomia algarvia e são uma das nacionalidades que mais peso tem no turismo nacional. Representam um em cada dez turistas que escolhem Portugal para as merecidas férias, sendo o peso bem mais expressivo nas praias algarvias. E gastam muitos milhares de milhões de euros em terras lusas.

Depois de um recorde em 2019, 2020 foi um ano atípico para o turismo, com as dormidas a caírem para mínimos de 28 anos. Os números da pandemia fecharam fronteiras, bloquearam corredores aéreos e tiraram cerca de 17 milhões de turistas a Portugal. Grande parte dos 27 milhões de turistas que passaram pelos alojamentos nacionais em 2019 desapareceu no ano passado.

O facto de Portugal ter superado esta nova vaga da pandemia e neste momento estar a apresentar-se como um “paraíso”, nomeadamente para os britânicos, dará um forte contributo, especialmente para o Algarve, mas também para a economia nacional. Portugal tem vindo nos últimos anos a assistir a um forte aumento do turismo, o que tem contribuído para a subida do PIB. Contudo, em 2020, o cenário mudou.

Dados do INE mostram que a queda “sem precedentes” do turismo no ano passado, devido à pandemia, teve um impacto significativo na economia. Esta queda explica 75% (-5,8 pontos percentuais) da contração de 7,6% do PIB em 2020, naquela que foi a maior descida da democracia. Os números mostram que o contributo do turismo para o PIB nacional reduziu-se para metade de 2019 para 2020 por causa das restrições.

Portas abertas às libras

Muitos dos turistas que não vieram para Portugal em 2020 eram britânicos. Com os voos diretos do Reino Unido para Portugal suspensos, muitos ingleses tiveram de procurar alternativas. Hoje, as “portas” de Portugal abrem-se novamente e os britânicos chegam em força aos aeroportos nacionais, com destaque para o de Faro.

As companhias aéreas reforçaram os voos, depois de as reservas terem disparado na ordem dos três dígitos, como adiantou ao ECO o vice-presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (APAVT). No alojamento local, a GuestReady viu a procura de hóspedes britânicos aumentar 742% em apenas uma semana.

Os números de 2020 não mostram o peso real que esta nacionalidade tem para o turismo português. Foram apenas 460.611 britânicos que ficaram hospedados nos alojamentos turísticos nacionais em 2020. Mas em 2019, naquele que foi o melhor ano para o setor com 27 milhões de turistas, contaram-se mais de 2,1 milhões, mostram os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Ou seja, 8% de todos os turistas de 2019 e 13% de todos os estrangeiros. Entre maio e outubro é quando há mais ingleses — cerca de 200 mil por mês –, sendo que nos meses de menor afluência foram cerca de 70 mil.

Esses dois milhões de britânicos representaram em 2019 mais de 9,4 milhões de dormidas nos alojamentos nacionais. O Algarve e a Madeira são os destinos mais procurados pelos britânicos, com um peso de 64% e 17,9%, respetivamente, nas dormidas em todo o país, segundo o Turismo de Portugal. Em 2020 esses números caíram, totalizando pouco mais de dois milhões de dormidas. Ainda no ano passado, os melhores meses foram mesmo janeiro e fevereiro, com cerca de 400 mil dormidas, ou seja, antes de a pandemia começar.

Segundo dados do Turismo de Portugal, o Reino Unido é “um dos principais mercados emissores para Portugal”, concentrando mais de 3,3 mil milhões de euros em receitas em anos pré-pandémicos. Só em julho e agosto de 2019, as receitas obtidas com os turistas britânicos totalizaram 3,8 mil milhões de euros, entre estadias e refeições.

Ingleses fazem muitas compras, até de casas

Com as estadias, vieram os gastos. Em 2019, foram a nacionalidade que mais dinheiro gastou em pagamentos com o cartão: 1,1 mil milhões de euros, de acordo com os dados da SIBS Analytics. Este gasto representou quase 2% de todo o dinheiro gasto com cartões multibanco nesse ano. O dinheiro gasto pelos britânicos nesse ano representou um aumento de 20% face a 2018.

Contudo, em 2020, esse montante caiu para apenas 167 milhões de euros. Numa análise apenas aos meses de verão, os mesmos dados mostram que os britânicos gastaram cerca de 146 milhões de euros em compras entre junho e agosto e levantaram 42 milhões de euros, menos do que os 496 milhões de euros gastos/levantados no verão de 2019.

E enquanto muitos britânicos vêm cá em férias, outros acabam mesmo por comprar uma casa, seja para se mudarem de vez, seja para segunda residência. De todas as casas vendidas em 2019, os estrangeiros compraram 8,5% do total e 13,3% do valor somado em transações, mostram os dados do INE.

Deste universo, os franceses destacaram-se ao adquirir 18,1% do valor total dos imóveis vendidos, mas imediatamente atrás vêm os britânicos. As estatísticas mostram que esta nacionalidade comprou 2.615 casas em território nacional em 2019, num total de 595 milhões de euros. Isto representa 17,3% do valor total de compras feitas por estrangeiros, equivalente a um valor médio de 227.710 euros por habitação.

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