Afeganistão não pode voltar a ser santuário de terror, mas agora é hora da diplomacia, diz Santos Silva
"Esperamos que seja também claro que as novas autoridades afegãs quando elas estiverem constituídas”, afirmou Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros.
O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou esta segunda-feira inaceitável que o Afeganistão volte a ser um santuário de grupos terroristas, mas considera que agora é preciso usar a diplomacia para exigir aos talibãs que cumpram regras nacionais e internacionais.
“O Afeganistão não pode tornar-se, de novo, um santuário de movimentos terroristas. Isso deve ser claro para todos, claro para a comunidade internacional, para a NATO, para a União Europeia e esperamos que seja também claro que as novas autoridades afegãs quando elas estiverem constituídas”, afirmou Augusto Santos Silva em declarações à agência Lusa.
O ministro lembrou que os talibãs garantiram que o seu regresso ao poder não significa “risco de vida e segurança para as pessoas ou para a situação das mulheres e, em particular, do seu direito à educação” e que, de acordo com o movimento radical islâmico, não haverá um retorno da violência ao Afeganistão.
“Vamos ver se essas declarações são credíveis”, disse Santos Silva, acrescentando que é preciso ver “em que condições se faz a transição de poder”. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros português, agora “é hora de pôr em prática todos os instrumentos da política externa da União Europeia e da diplomacia” para que “a transição de poder no Afeganistão seja o menos problemática possível” e para que “as novas autoridades do Afeganistão cumpram a sua própria palavra”.
Questionado sobre o nível de confiança que tem nessas declarações dos talibãs, Santos Silva reiterou que “agora é hora de pedir e exigir das novas autoridades afegãs que cumpram as suas responsabilidades nacionais e internacionais e de pôr toda a diplomacia ao serviço dessa causa”.
Por outro lado, adiantou o ministro, será necessário também dedicar atenção aos afegãos que colaboraram com a comunidade internacional nos últimos 20 anos. “É preciso cuidar, em particular, dos muitos milhares de afegãos que colaboraram connosco ao longo destes anos e que estão hoje inquietos, preocupados, aflitos. É hora de apoiá-los e protegê-los”, afirmou.
Por isso, referiu, “Portugal foi dos primeiros países a assinar uma declaração” que já conta com 65 países subscritores, na qual se adverte os talibãs de que devem dar mostras de responsabilidade e permitir a saída dos cidadãos afegãos e estrangeiros que queiram fugir do país.
O ministro considerou ainda que o resultado da operação que levou a NATO e a União Europeia a permanecerem no Afeganistão durante cerca de duas décadas deve ser alvo de “um debate político”. “Uma operação de praticamente 20 anos no Afeganistão que, de facto, conseguiu resultados muito importantes – conseguiu acabar com o santuário da Al-Qaida no Afeganistão, conseguiu melhorias muito importantes nos níveis de vida e nas condições de vida dos afegãos, conseguiu avanços muito importantes no respeito dos direitos das mulheres e perspetivas de futuro para as crianças e jovens – mas não terá conseguido um dos seus resultados principais que foi capacitar as instituições do Afeganistão, incluindo as suas Forças Armadas e de segurança para defenderem o seu próprio país e civilização”, descreveu.
Por isso, sublinhou Santos Silva, é preciso “fazer um debate político entre nós”. Esse debate, referiu, “certamente começará já amanhã [terça-feira]”. Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 da União Europeia vão reunir-se na terça-feira de forma extraordinária para discutir a situação no Afeganistão.
“Mas hoje, a esta hora – que é uma hora difícil para todos – é altura de reafirmar o nosso sistema de alianças”, afirmou, lembrando que “as forças armadas portuguesas prestaram um contributo muito importante à causa da pacificação do Afeganistão”, tendo sido, inclusive, “perdidas duas vidas”. “Agora temos de agradecer e recordar o esforço das nossas Forças Armadas e afirmar que nós somos membros da Aliança Atlântica. Com a Aliança Atlântica entrámos, com a Aliança Atlântica saímos”, concluiu.
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