Reserva Federal perde dois presidentes no mesmo dia
Saída do presidente da Fed de Dallas e de Boston acontece num contexto de potencial conflito de interesses com o papel do banco central nos mercados.
Um segundo presidente de um banco regional do Reserva Federal (Fed) saiu do cargo, horas depois de conhecida a primeira saída, em contexto de críticas por questões éticas relacionadas com investimentos bolsistas de dirigentes da instituição.
Depois de divulgada a saída do presidente do banco da Fed em Boston, Eric Rosengren, foi também divulgada a do responsável máximo pela “antena” da Fed em Dallas, Robert Kaplan.
Estes dirigentes estiveram recentemente sob críticas, depois de conhecidas as suas transações bolsistas em 2020 em plena crise ligada à pandemia do novo coronavírus.
O Wall Street Journal tinha revelado que vários dirigentes da Fed possuíam títulos cotados e tinham feito operações bolsistas, por vezes com montantes acima de um milhão de dólares, no momento em que o banco central dava o seu apoio aos mercados financeiros, devido à pandemia.
Esta situação tinha levantado a questão de um potencial conflito de interesses com o papel do banco central nos mercados.
Em comunicado, Kaplan, presidente da Fed de Dallas desde setembro de 2015, indicou que a sua demissão seria efetiva em 8 de outubro próximo.
No seu texto, sublinhou que a Fed se aproxima de “um momento crítico”, uma vez que está a refletir sob a orientação a dar à sua política monetária.
“Infelizmente, o destaque dado recentemente à minha posição financeira arrisca criar uma distração na aplicação pela Reserva Federal deste trabalho vital”, acrescentou.
“Por esta razão, decidi reformar-me enquanto presidente e chefe da direção da antena da Fed em Dallas, a partir de sexta-feira, dia 08 de outubro de 2021”, disse.
Antes, anunciara que ia vender todas as suas ações, em títulos como Apple, Amazon ou Alphabet, a “holding” da Google, até ao final do mês de setembro.
Antes fora Rosengren a anunciar a saída do cargo esta semana, por questões de saúde, especificando que vai fazer um transplante de rim.
Rosengren já tinha a intenção de sair do cargo em junho, quando atinge o limite máximo da idade permitida pela Fed para o seu exercício, os 65 anos, mas anunciou agora a sua saída na próxima quinta-feira, dia 20 de setembro.
Rosengren trabalhou no banco da Fed em Boston durante 35 anos, dos quais 14 como presidente. Durante a pandemia, este ramo regional do banco central controlou o programa designado Main Street, que foi a primeira tentativa da Fed desde a Grande Depressão de conceder crédito diretamente a pequenas empresas.
“Enquanto estive a trabalhar em programas de ajuda e estímulo relacionados com a pandemia (…), dadas as longas horas de stress, lamentavelmente o funcionamento dos meus rins deteriorou-se”, disse Rosengren, em carta a Powell. “Tornou-se claro que devo reduzir a pressão, para que me possa focar nas minhas questões de saúde”, pormenorizou.
A informação fiscal de Rosengren relativa a 2020 expôs o seu envolvimento em transações bolsistas nesse ano em que a Fed reduziu a sua taxa de juro de referência para próximo de zero e comprou centenas de milhares de milhões em obrigações para contribuir para reduzir as taxas de juro de longo prazo e estimular a economia.
Rosengren também investiu em fundos de investimento imobiliário que, por sua vez, adquiriram obrigações garantidas por crédito imobiliário do mesmo tipo que a Fed também estava a comprar.
Os investimentos feitos por Rosengren e Kaplan eram permitidos pelas regras da Fed, mas levantaram pelo menos a questão de parecerem estar a evidenciar um conflito de interesses, o que é desencorajado pelo banco central.
Durante uma conferência de imprensa na semana passada, Powell disse que a Fed ia alterar as suas regras éticas e sugeriu que uma mudança provável deveria ser a de impedir os dirigentes de possuírem ativos financeiros que a Fed também esteja a comprar.
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