BRANDS' ECOSEGUROS O setor segurador em tempos de pandemia
Com o brutal impacto económico e social provocado pela pandemia, como se portou o setor segurador em 2021? Diana Bernardes, Manager EY, Assurance Financial Service, faz as contas.
Quase dois anos volvidos desde o início da pandemia e os impactos sociais e económicos são brutais. Fomos todos obrigados a profundas alterações no nosso dia-a-dia e a forma como vivemos em sociedade não será mais a mesma. Os sucessivos confinamentos e isolamentos a que fomos sujeitos obrigaram-nos a mudar alguns paradigmas, nomeadamente, a forma como trabalhamos, a forma como fazemos as nossas compras ou até a forma como consultamos o nosso médico.
As organizações tiveram que se adaptar. O teletrabalho ou o modelo hibrido de trabalho são agora uma realidade. Os impactos financeiros nas organizações foram significativos, tendo a pandemia marcado de forma decisiva a evolução da economia mundial em 2020. Em Portugal, o Produto Interno Bruto caiu cerca de 8% (a maior queda desde o período pós-guerra) e vários setores de atividade foram afetados de forma devastadora.
O setor segurador dificilmente poderia escapar a esta conjuntura económica e financeira. Efetivamente, de acordo com os dados da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) a produção de seguro direto sofreu em 2020 um decréscimo de 15,9% face a 2019, ainda que com comportamentos distintos no que se refere ao Ramo Não Vida, que apresentou um aumento de 3,1%, e no Ramo Vida, que apresentou um decréscimo significativo de 34,6%.
Também no que diz respeito aos custos com sinistros se verificou uma deterioração, uma vez que estes apresentaram um acréscimo de 15,9% face ao ano anterior. Para este crescimento dos custos foi decisivo o aumento verificado no Ramo Vida (26,4%), sendo que no Ramo Não Vida os custos com sinistros registaram, até, um decréscimo de 2,3%, sobretudo devido aos decréscimos verificados nos segmentos Auto e Acidentes de Trabalho, fundamentalmente fruto dos efeitos atípicos e temporários das medidas restritivas impostas para controlo da pandemia.
Na verdade, o decréscimo de produção no Ramo Vida é já uma tendência e, embora tenha sido afetado pela pandemia, continua a enfrentar desafios adicionais relacionados com a evolução do seu negócio, sobretudo, no que respeita aos produtos financeiros devido à existência prolongada de baixas taxas de juro. Já no que diz respeito ao Ramo Não Vida, este é aquele que reflete de forma mais direta a evolução da conjuntura económica e financeira e, portanto, é o segmento que mais sofreu com a pandemia pois apesar de ter crescido 3,1%, ficou muito aquém dos resultados registados em anos anteriores.
"Ao longo de 2021 os desafios mantêm-se e as seguradoras assistem agora a um aumento de sinistralidade, sobretudo no Ramo Vida e no Ramos Não Vida, com especial destaque para os segmentos doença, automóvel e acidentes de trabalho.”
Apesar de tudo, as seguradoras demonstraram ser resilientes e ter balanços robustos com níveis de capital ajustados que possibilitaram ultrapassar um dos períodos mais conturbados das últimas décadas. Note-se que, de acordo com dados da ASF, no final de 2020 o setor segurador apresentou níveis de solvência melhorados para a globalidade do mercado quando comparados com 2019. Para tal, também muito contribuíram as políticas de investimentos que mantém o predomínio dos instrumentos de dívida (77,7%), com particular destaque para os títulos de divida pública (45,9%). As carteiras de investimentos apresentaram uma qualidade creditícia média de BBB+ o que demonstra a qualidade das carteiras.
No entanto, ao longo de 2021 os desafios mantêm-se e as seguradoras assistem agora a um aumento de sinistralidade, sobretudo no Ramo Vida e no Ramos Não Vida, com especial destaque para os segmentos doença, automóvel e acidentes de trabalho.
Efetivamente, os custos das seguradoras com sinistros registaram no terceiro trimestre um aumento de 17,5% face ao trimestre homólogo do ano anterior. No caso do Ramo Vida, que registou um aumento de 24,3% face ao período homólogo do ano anterior, a evolução dos custos com sinistros é explicada fundamentalmente pela saída de contratos por vencimento e que não são renovados. Já no caso do Ramo Não Vida, o aumento dos custos é explicado fundamentalmente pela retoma da vida económica e social no caso dos segmentos auto e acidentes de trabalho.
Contudo, o aumento mais expressivo regista-se no segmento doença, que apresenta um aumento de 16,7% face a igual período do ano anterior. Este poderá ser o reflexo dos adiamentos a que fomos forçados na saúde durante o ano de 2020, em virtude da primazia que foi dada aos tratamentos da Covid. No decorrer de 2021, a evolução positiva da vacinação e o controlo da pandemia fez com que procurássemos novamente dar mais atenção à nossa saúde e recorremos mais aos nossos seguros de saúde.
"As seguradoras apostarão na diferenciação estratégica, procurando oportunidades nas áreas da saúde, nas novas formas de trabalho e nas novas formas de mobilidade, mas terão certamente que procurar formas para otimizar a gestão do seu capital bem como a estrutura de custos.”
A esta data ainda não sabemos como terminará o ano e qual a evolução destes dados, mas é certo que ainda vivemos tempos de incerteza. É por isso fundamental que o setor mantenha o seu caminho. As seguradoras demonstraram estar preparadas para cumprir o seu papel: proteger e gerir o risco em situações de desastres e imprevistos. Agora é tempo de manterem o seu foco na gestão do capital a médio e longo prazo, preparando-se para períodos de maior instabilidade nos mercados financeiros e de potenciais incumprimentos de emitentes de instrumentos financeiros.
Neste contexto, assume cada vez mais relevância a transparência na forma como as seguradoras apresentam e divulgam as suas contas. É necessário transmitir confiança, credibilidade e rigor aos leitores das demonstrações financeiras destas entidades sendo claros e transparentes na informação que prestam.
A pandemia veio acelerar a dinamização deste setor que se tem reinventado ao longo do tempo e, apesar dos efeitos nefastos, surgem oportunidades. As seguradoras apostarão na diferenciação estratégica, procurando oportunidades nas áreas da saúde, nas novas formas de trabalho e nas novas formas de mobilidade, mas terão certamente que procurar formas para otimizar a gestão do seu capital bem como a estrutura de custos.
Interessado em saber mais? Subscreva aqui as comunicações da EY Portugal (convites, newsletters, estudos, etc).
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
O setor segurador em tempos de pandemia
{{ noCommentsLabel }}