Eventos climáticos extremos: mais de 90% dos prejuízos em Portugal não tem seguros
Eventos extremos, uns mais relacionados com alterações climáticas do que outros, resultaram em 510 mil milhões de euros de danos económicos na Europa desde 1980, estima Agência Europeia do Ambiente.
Eventos climáticos extremos, como vagas de calor ou inundações, que devem aumentar nos próximos anos como resultado das alterações climáticas, custaram 142 mil vidas e quase 510 mil milhões de euros na Europa nos últimos 40 anos, estima a Agência Europeia do Ambiente (AEA), sediada em Copenhaga.
Ondas de calor, mas também períodos de frio, secas ou incêndios florestais são responsáveis por 93% do total de mortes e 22% dos prejuízos financeiros, refere o relatório que tem como base dados da plataforma CATDAT e do NatCatService.
Alertando que apenas um quarto dos danos registados na Europa estava protegido por seguros, o estudo da agência europeia realça a necessidade de medidas de adaptação contínuas, quer a nível individual, quer dos Estados. A diferença entre a lacuna de proteção estimada em relatório recente da Aon (62% em 2021) e a indicada pela AEA (cerca de 75% para período temporal mais longo) mostra que o protection gap tem vindo a diminuir, mas resta muito terreno para ser coberto pela indústria seguradora.
Os números da agência europeia relativamente aos montantes de danos totais e prejuízos efetivamente segurados, englobam todas as categorias de eventos meteorológicos e os relacionados com o clima. O briefing da AEA mostra que, em Portugal, no período considerado (1980-2020) e em euros de 2020, de um total de 13,46 mil milhões de euros e danos patrimoniais, apenas 3,6% das perdas estavam seguradas (478 milhões de euros). Esta estimativa tem como nova fonte o CATDAT, base de dados da empresa RiskLayer GmbH.
Baseando análise em dados da Munich Re, com quem a AEA tem um protocolo institucional mais antigo para extrair informação da plataforma NatCatSERVICE (Munich Re) depois cruzada com indicadores estruturais do Eurostat, o diagnóstico sinaliza igualmente brecha de proteção superior a 90% em Portugal (8,09 mil milhões de danos totais versus 664 milhões de euros em perdas seguradas). Ou seja, apenas 8,2% dos estragos estava protegida por seguros.
Em geral, de acordo com o divulgado pela agência Lusa, a Organização Meteorológica Mundial estima que o número de desastres relacionados com o clima aumentou nos últimos 50 anos, causando mais danos materiais, mas menos mortes. Para a AEA, os dados dos últimos 40 anos não permitem concluir com clareza que estes fenómenos aumentaram por causa das alterações climáticas, devido aos danos muito irregulares, consoante o ano, mas este organismo aponta que o risco aumentará num futuro muito próximo.
“Todos os desastres que descrevemos como relacionados com o clima e devido ao clima são influenciados pelas condições climatéricas. Mas isso não significa que todos sejam influenciados pelas mudanças climáticas”, realçou à AFP um especialista da agência europeia, Wouter Vanneuville.
A AEA recomenda que sejam adotadas medidas a nível individual e estatal para evitar riscos associados a eventos extremos e limitar os danos. “Desde 2003, as ondas de calor causaram menos mortes graças à implementação de medidas de adaptação”, como a instalação de aparelhos de ar condicionado, aponta a agência.
Na análise por países, a Alemanha é o país europeu que mais sofreu com 42.000 mortes e perdas financeiras no valor de 107 mil milhões de euros. Seguem-se a França, com 26.700 mortos e 99 mil milhões de euros em danos, e a Itália (21.600 mortos e 90 mil milhões de euros..
Apenas 23% das propriedades que sofreram danos materiais em toda a Europa estava protegida com seguros, embora as disparidades neste ponto (lacuna de proteção) sejam enormes: na Roménia e Lituânia só 1% das perdas estavam seguradas, face a 55% nos Países Baixos ou 56% na Dinamarca. Desastres como terramotos e erupções vulcânicas não estão incluídos nestes números, pois não são eventos meteorológicos.
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