Previsão do Banco de Portugal para inflação passa de 1,8% para 4%
A aceleração da taxa de inflação em Portugal tornou-se clara no arranque de 2022, o que leva o Banco de Portugal a duplicar a sua previsão. A guerra veio agravar esse fenómeno.
Este mês o Banco Central Europeu (BCE) reviu em alta a taxa de inflação da Zona Euro em 2022 de 3,2% para 5,1%. Duas semanas depois, é a vez do Banco de Portugal fazer aquela que será uma das maiores revisões da taxa de inflação dos últimos anos: em vez de subirem 1,8%, os preços deverão crescer 4% este ano, o que a confirmar-se será a maior taxa de inflação desde 2001 (4,1%).
“A inflação aumenta em 2022 para 4%, em reflexo da subida do preço das matérias-primas e dos constrangimentos nas cadeias de abastecimento globais, e reduz-se para 1,6% em 2023 e 2024″, revela o Banco de Portugal no boletim económico de março divulgado esta quinta-feira, notando que a invasão russa em território ucraniano contribuiu para “intensificar as pressões inflacionistas”.
Na conferência de imprensa, Mário Centeno admitiu que a taxa de inflação é “revista em alta muito significativamente” por causa das surpresas nos dados divulgados para janeiro e fevereiro e pelos efeitos da guerra no petróleo. “Temos sido surpreendidos mês após mês com os preços”, admitiu o governador, notando que a evolução da componente energética já se propagou a outras componentes. “As pressões externas fazem crer que o risco é em alta para a inflação”, rematou.
Num cenário adverso, a taxa de inflação em Portugal poderá chegar aos 5,9% em 2022. Porém, mesmo neste cenário, o banco central antevê uma travagem muito significativa ao longo de 2023, passando para 2%. Centeno notou que a “duração, intensidade e expansão do conflito na Ucrânia coloca uma grande incerteza” na avaliação dos riscos destas projeções.
Mesmo nos anos seguintes, o nível dos preços energéticos regista “alguma persistência”, ou seja, o Banco de Portugal não prevê que haja uma queda significativa dos preços da energia nos próximos dois anos. A variação negativa é “muito ligeira”, classificou Centeno.
“Indexações automáticas [dos salários] não são desejáveis”, alerta Centeno
O governador do Banco de Portugal considera que indexar automaticamente os salários à taxa de inflação não é a melhor estratégia. Questionado especificamente sobre o caso da função pública, Mário Centeno disse que as “indexações automáticas, que não é o que acontece neste caso, não são desejáveis face à inflação prevista”. A atualização não é automática, ou seja, não está na lei, mas há um compromisso e critério do Governo de utilizar a inflação a 12 meses verificada em novembro de cada ano.
Centeno notou que existem “movimentos” a favor da indexação salarial à inflação em alguns países da Europa, nomeadamente Espanha, que estão a ganhar “algum peso”, mas alerta que tal gera “tensões na condução de politica monetária”. Isto é, para o governador, uma má ideia.
Para Portugal, a previsão do Banco de Portugal tem subjacente a continuação da “contenção salarial”, com os aumentos previstos alinhados com a melhoria da produtividade. “Não há efeitos de segunda ordem ao longo da projeção“, garantiu, referindo-se à espiral de preços e salários que se teme que aconteça na Zona Euro face à aceleração da taxa de inflação para máximos históricos.
Centeno avançou com uma explicação para que tal não aconteça: “Ao contrário dos EUA, não houve um ciclo de novas contratações” na Zona Euro graças às medidas de manutenção dos postos de trabalho durante a pandemia, como é o caso do lay-off simplificado. Isso terá “protegido os salários”, ou seja, mesmo com a taxa de desemprego a cair, não houve (ainda) muita pressão para subir os salários.
Ainda assim, o governador do Banco de Portugal assegurou que tanto em Portugal como na Zona Euro vai manter-se a vigilância apertada da evolução dos salários e da taxa de inflação.
(Notícia atualizada às 17h22 com mais informação)
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