TAP, Ageas, Coca-Cola, Novobanco… O que atrai os CEO estrangeiros a Portugal?

A generosidade e o civismo dos portugueses são as principais características que os expatriados no nosso país realçam. Mas a cultura, o clima e a gastronomia favorecem a tomada de decisão.

Saiu da Bélgica com o passaporte pronto para o mundo e, nessa viagem, que incluiu Hong Kong, Singapura e México, Portugal é o mais recente destino de Steven Braekeveldt . Quando aceitou voar para terras lusas para liderar o Grupo Ageas Portugal — há quase seis anos — o gestor não teve dúvidas. E o tempo tem vindo a mostrar-lhe que tomou a decisão certa: Aceitar este desafio não foi difícil. Posso afirmar que me apaixonei pelo país e pelas suas pessoas. Durante todo este percurso, tenho absorvido o ADN dos portugueses que, na minha opinião, têm na sua essência uma amabilidade genuína e autêntica“, conta o CEO do Grupo Ageas Portugal à Pessoas. E não é o único CEO estrangeiro a escolher Portugal como local de trabalho. TAP, Galp, Coca-Cola, Nestlé ou Novobanco são apenas alguns casos recentes de empresas que têm na sua liderança de topo um CEO vindo de fora de Portugal.

Se pudesse voltar atrás, a decisão seria exatamente a mesma. “Tenho estado envolvido nas nossas operações em Portugal desde 2007 e, ao longo de todos estes anos, tenho testemunhado uma equipa muito profissional, com grande dedicação e uma forte vontade de desenvolver projetos impactantes. Afinal, é por acreditar no potencial de Portugal que, ao dia de hoje e sabendo o que sei, voltaria a aceitar este convite”, admite Steven Braekeveldt.

Steven Braekeveldt detém diferentes licenciaturas em Direito e é mestre em Economia e Finanças. Construiu uma longa carreira internacional no setor dos serviços financeiros, banca e seguros, aliando o ensino universitário e a autoria de diversas publicações.

Mas não é só Steven Braekeveldt a acreditar no potencial do mercado português. Não faltam exemplos de profissionais que percorrem mais ou menos quilómetros, cruzando mais ou menos fronteiras, para assumir um cargo de elevada responsabilidade e visibilidade em Portugal. É o caso da mexicana Ana Claudia Ruiz, que assumiu a direção-geral da Coca-Cola Portugal no início deste ano, da francesa Christine Ourmières-Widener, a atual CEO da TAP Air Portugal, ou ainda do CEO da Galp Energia, o britânico Andy Brown.

Em breve, em agosto irá juntar-se a este lote de CEO estrangeiros a liderar empresas em Portugal, o irlandês Mark Bourke, atual administrador financeiro do Novobanco, e o escolhido pelos americanos da Lone Star para substituir António Ramalho na liderança do banco, e em julho, a suíça Anna Lenz, que irá substituir — mais um estrangeiro — Paolo Fagnoni na liderança da Nestlé Portugal. Anna Lenz será a primeira mulher aos comandos da filial portuguesa da multinacional.

A decisão de aceitar este desafio não foi difícil. Posso afirmar que me apaixonei pelo país e pelas suas pessoas. Durante todo este percurso, tenho absorvido do ADN dos portugueses que, na minha opinião, têm na sua essência uma amabilidade genuína e autêntica.

Steven Braekeveldt

Clima, gastronomia, generosidade e civismo dos portugueses atrai estrangeiros

Mas, afinal, o que faz com que estes gestores decidam sair dos seus países, ou de outros por onde têm abraçado desafios, e se instalem em Portugal? “Ao longo dos anos tive oportunidade de acompanhar muitas pessoas expatriadas em Portugal e pude verificar a enorme nostalgia que sentem na hora de regressarem aos seus países de origem. Concluí há já algum tempo que as únicas pessoas que parecem não gostar de Portugal são mesmo os portugueses”, diz Maria da Glória Ribeiro, managing partner & founder da Amrop Portugal.

“Apesar das dificuldades relacionadas com o ritmo de trabalho, produtividade, falta de planeamento e accountability, Portugal é visto, em grande medida, como um país fantástico para viver.” A generosidade e o civismo dos portugueses são as principais características que os expatriados no nosso país realçam, diz a mentora da empresa especializada em recrutamento executivo.

No entanto, há outros fatores que atraem o talento estrangeiro para Portugal. Entre eles a cultura, a gastronomia, o clima e, “claro, o incomparável azul”.

No caso da engenheira Christine Ourmières-Widener, aceitar a liderança a TAP, prendeu-se, sobretudo, com o desafio. “Acima de tudo, o desafio de liderar uma companhia aérea como a TAP, com 77 anos de história, uma excelente posição geográfica, composta por pessoas excecionais nas respetivas áreas, com um enorme peso na economia e na história do seu País”, relembra.

Especialista no setor de transportes e infraestruturas, Christine Ourmières-Widener foi CEO do Flybe Group, uma das mais importantes companhias aéreas regionais da Europa com operação no Reino Unido (entretanto alvo de uma operação de venda), tinha sido antes presidente executiva de uma sociedade de leasing especializada no setor da aviação, e o seu percurso inclui também funções na Air France/KLM.Hugo Amaral/ECO

“Considerando a situação global do setor, e da TAP em particular, é talvez o maior desafio da minha carreira profissional até à data. Mas tenho a certeza de que, com a ajuda desta excelente equipa, composta por todos os trabalhadores da TAP, valerá a pena”, acrescenta a gestora francesa.

Pedro Rocha e Silva, CEO da Neves de Almeida HR Consulting, vai ao encontro da explicação de Christine Ourmières-Widener. “Principalmente quando falamos em cargos de topo, o que motiva a vinda para Portugal é, muitas vezes, a própria estrutura multinacional da organização“, começa por explicar.

Contudo, o especialista em recrutamento salienta que também as próprias características do país são um fator atrativo. “Entre elas a qualidade de vida que o nosso país proporciona, com foco para a localização estratégica a nível de negócio, a cultura ou o clima, e ainda, a economia em crescimento, o talento competitivo e o dinamismo do mercado que o permitem prosperar”, acrescenta às já mencionadas por Maria da Glória Ribeiro.

Considerando a situação global do setor, e da TAP em particular, é talvez o maior desafio da minha carreira profissional até à data. Mas tenho a certeza de que, com a ajuda desta excelente equipa, composta por todos os trabalhadores da TAP, valerá a pena.

Christine Ourmières-Widener

Também a mexicana Ana Claudia Ruiz, que aterrou em Portugal em janeiro para liderar a filial portuguesa da Coca-Cola, recorda o momento em que aceitou o cargo com carinho. “Combinava a oportunidade de trabalhar numa empresa com uma das marcas mais admiradas no mundo, dentro de um país muito especial, que tem um potencial de crescimento enorme e no qual a empresa tem uma crescente aposta. Achei que o desafio era impossível de recusar”, confessa à Pessoas.

Até agora, a experiência tem sido positiva. “A minha carreira profissional tem sido marcada por desafios em funções muito diversas e em diferentes países. Acredito que uma carreira internacional e as experiências que nos proporcionam nos capacitam para nos conseguirmos adaptar a todo o tipo de realidades”, defende.

Também com uma carreira internacional, Steven Braekeveldt está de acordo. “Sinto que levo um enriquecimento diário por conhecer novas pessoas e novos pensamentos que nos ampliam a mente e nos permite ir mais além. Uma vontade inigualável de, diariamente, implementar novos projetos ou apostar em novas parcerias com impacto nas pessoas — colaboradores, clientes, parceiros –, e na sociedade. A certeza de que tenho enriquecido não só enquanto pessoa mas também como profissional”, considera. E salienta, ainda, a “alegria diária de trabalhar em Portugal” que sente.

O talento não tem nacionalidade

É cada vez mais comum encontrarmos CEO estrangeiros em setores e empresas com um posicionamento cada vez mais global, como são os casos da Galp ou da TAP, por exemplo. E o mesmo acontece com multinacionais com atividade em Portugal. A tendência deve-se, fundamentalmente, ao facto de as organizações quererem garantir um maior e mais completo alinhamento cultural com as sedes localizadas fora de Portugal, acredita o CEO da Neves de Almeida HR Consulting.

Ana Claudia Ruiz iniciou a sua experiência profissional no México, na área da banca e finanças. Passou pela Diageo, onde assumiu diversas funções, entre elas a de country director e de Continental Europe transformation director. Ao longo dos últimos três anos, a profissional integrou a Professional Women’s Network, organização que tem como missão a promoção o desenvolvimento profissional feminino, onde tem trabalhado com jovens mulheres em programas de mentoring.

Para Maria da Glória Ribeiro, não se trata tanto de nacionalidade, mas de talento. “O talento é universal, não existe talento confinado a uma geografia específica. O que há, no entanto são expertise ou especificidades de conhecimento e experiências potencialmente mais desenvolvidas numa ou noutra geografia, mas não obrigatoriamente conscritas a esta ou aquela nação em específico”, afirma.

Olhemos para um exemplo mais concreto, o setor da energia, mais especificamente o ‘Oil & Gas‘ que, transversalmente a toda a sua cadeia de valor nos setores de up, middle e downstream, exige um leque que especificidades, conhecimentos e experiência que encontramos em profissionais oriundos da bacia do Mar do Norte no caso da Europa”, exemplifica.

Combinava a oportunidade de trabalhar numa empresa com uma das marcas mais admiradas no mundo, dentro de um país muito especial, que tem um potencial de crescimento enorme e no qual a empresa tem uma crescente aposta. Achei que o desafio era impossível de recusar.

Ana Claudia Ruiz

O talento não tem nacionalidade, são as condições e necessidades específicas de cada indústria e até de cada organização que, muitas vezes, conduzem à procura de expertise noutras geografias.Expertise esse que está mais desenvolvido e aprofundado numas áreas do que noutras”, acrescenta. E salienta: “No sentido inverso, vemos também imenso talento a sair de Portugal para empresas estrangeiras, exatamente por possuírem expertise que essas organizações procuram, independentemente da origem das pessoas.”

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