Da quebra de 11% ao salto de 153%. O que se passa com os lucros das energéticas nacionais?
Apesar de a maioria das energéticas nacionais terem melhorado os resultados financeiros, e nenhuma ter apresentado prejuízo, os ganhos foram diferenciados, e houve mesmo uma a baixar o desempenho.
Galp, EDP Renováveis, REN e EDP: por esta ordem, estas quatro empresas nacionais do setor da energia apresentaram resultados esta semana, relativos aos primeiros seis meses do ano. Todas contaram com lucros mas, enquanto a Galp liderou o salto, ao aumentá-los em 153% face ao mesmo período do ano anterior, a EDP notou uma quebra de 11%. As restantes também conseguiram melhorar os respetivos resultados, mas a passos diferentes: os lucros na EDP Renováveis dispararam 87%, enquanto os da REN ficaram por uma subida de 16%.
Um setor que está debaixo de fogo depois de Espanha ter declarado que na energia, a par da banca, irá aplicar taxas adicionais sobre as empresas. Em Portugal, a haver novidades, serão avançadas apenas em setembro e outubro, juntamente com os pacotes de apoio às famílias e às empresas, indicou o Governo, esta quinta-feira. Em média, o aumento registado nos lucros das energéticas nacionais que apresentaram contas esta semana foi de 50%.
Mas como é que as energéticas justificam a respetiva evolução dos lucros? A Galp indicou em comunicado que subiu à boleia das “condições de mercado favoráveis”, sobretudo devido ao aumento dos preços do petróleo e das margens de refinação. Estas últimas passaram de 2,1 dólares por barril de petróleo equivalente (boe) na primeira metade do ano passado para 14,8 dólares por boe na primeira metade deste ano. De julho a dezembro de 2022, a Galp espera margens maiores, de 15 dólares por boe. Tanto os ganhos por ação como as receitas desta cotada supera as estimativas dos analistas, indica a XTB.
A EDP Renováveis seguiu-se, e justificou o aumento de 87% nos lucros com “resultados sólidos”, devido sobretudo ao “aumento do preço médio de venda e de produção”. O preço médio de venda subiu 27% face ao período homólogo, “maioritariamente devido aos preços de mercado na Europa”, mas também devido a uma atualização do quadro regulatório em Espanha.
Na quinta-feira chegaram os números da REN e da EDP. A REN afirma que a evolução positiva em 16% nos seus lucros é maioritariamente explicada pelo aumento no EBITDA, relacionado com o aumento da receita regulada da atividade de Transporte de Energia Elétrica no setor da Eletricidade, com a introdução de um modelo de remuneração que tem por base uma renda anual fixa definida pelo regulador, consoante a receita estimada para o período regulatório de 2022-2025. Também destaca o “bom desempenho” do resultado financeiro, refletindo a redução da dívida líquida em 17% para 2.099,4 milhões ) e o aumento de dividendos de empresas participadas. No negócio internacional, no Chile, o EBITDA cresceu na ordem dos 60%.
Por fim, a EDP. A elétrica contrariou a tendência de melhoria do setor, com resultados no semestre 11% abaixo dos homólogos. Os resultados “foram marcados pela positiva, pelo forte desempenho das renováveis em termos globais e das redes de eletricidade no Brasil”, no entanto, “foi também fortemente penalizado pela seca extrema em Portugal num período de elevados preços de eletricidade no mercado grossista, o que resultou num resultado líquido negativo [prejuízo] de 111 milhões de euros em Portugal”, descreveu a empresa.
Matérias-primas vão ditar futuros resultados
Num olhar sobre estes resultados, Mário Martins, analista da ActiveTrades, afirma que a Galp se destaca pela positiva, pelo “aumento inusitado” nos lucros, mas também pela negativa, dada a “reduzida importância das renováveis no seu negócio, com investimentos muito reduzidos quando comparado com a sua capacidade financeira, para uma empresa que quer estar no topo na energia verde no médio-prazo”. Já da parte da XTB, Henrique Tomé destaca a EDP Renováveis como “a mais bem posicionada” das quatro energéticas.
Daqui para a frente, o analista da ActiveTrades acredita que os resultados da generalidade destas empresas “irá depender essencialmente do caminho que os preços do petróleo e gás natural fizerem até ao final do ano”: se os preços das matérias-primas subirem, é de esperar uma valorização dos títulos da Galp e EDP, esta última devido essencialmente ao contributo da EDPR, estima.
No entanto, “a Galp terá dificuldade em melhorar substancialmente os seus resultados, uma vez que o preço do petróleo está em níveis já elevados, com pouca perspetiva para subirem muito mais”, continua. No caso da petrolífera, “o bom desempenho das ações da empresa poderá ficar exposto a períodos de maior volatilidade assim que o mercado das matérias-primas energéticas começar a corrigir, devido aos receios em torno do risco de recessão à escala mundial”, alerta a XTB.
Já a EDPR “poderá ter mais margem de progressão, caso por exemplo desenvolva uma estratégia agressiva de aumento da capacidade instalada”, indica Mário Martins. Por seu lado, Henrique Tomé aponta que a empresa de energias limpas “está também vulnerável aos riscos relacionados com uma potencial correção em baixa do preço dos produtos energéticos, contudo, o facto de a empresa estar num setor onde a aposta é elevada, poderá fazer com que parte dos riscos sejam mitigados”.
Lá fora, um cenário equivalente
“O comportamento financeiro [das energéticas nacionais] está em linha com a concorrência internacional específica de cada uma”, resume Mário Martins.
A francesa TotalEnergies contabilizou lucros de 18,9 mil milhões de dólares no primeiro semestre de 2022, quase o triplo dos 6,6 mil milhões obtidos na primeira metade do ano passado. Os lucros do grupo Shell multiplicaram-se por cinco, atingindo os 18 mil milhões de dólares. A Repsol obteve um lucro líquido de 2.539 milhões de euros no primeiro semestre de 2022, o dobro (mais 105,6%) do que no mesmo período de 2021, impulsionado pelo aumento dos preços das matérias-primas nos mercados mundiais.
Ainda em Espanha, a Endesa obteve um lucro líquido ordinário de 734 milhões de euros entre janeiro e junho, menos 12% que no período homólogo. Uma quebra que justifica com um “ambiente macroeconómico e energético em deterioração”, ao mesmo tempo que ligou a subida leve do EBITDA, de 4%, à melhoria do negócio de produção, mas afetado pelo “ambiente de preços desafiante que afeta o negócio de retalho”.
Já o grupo Iberdrola ganhou no primeiro semestre do ano 2.075 milhões de euros, mais 35,5% do que em igual período do ano passado, embora o lucro líquido em Espanha tenha caído 26%, afetado principalmente pelos altos preços da energia que não foram transferidos para os clientes com contratos de preço fixo, explicou a empresa, em comunicado.
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