“Estivemos muito confortáveis a imprimir dinheiro. Estamos a pagar por isso”, diz presidente do Banco Central do Brasil
Banco Central do Brasil foi um dos primeiros a subir as taxas de juro, em março no ano passado, quando se apercebeu que inflação ia ser mais persistente do que se pensava.
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse esta quinta-feira que algumas economias avançadas “estiveram muito confortáveis a imprimir dinheiro” e que agora “estamos a pagar o preço” pelo facto de os governos não terem feito reformas durante o período em que as taxas de juro estiveram baixas.
“Penso que durante muito tempo, porque estivemos muito confortáveis – em algumas economias avançadas – a imprimir dinheiro sem provocar inflação, pensando que as taxas iam ficar baixas durante muito tempo, talvez alguns dos governos estavam tão confortáveis que entramos no período mais longo sem reformas nas maiores economias. Estamos a pagar preço por isso”, afirmou o banqueiro central.
Campos Neto, que falou numa conferência em Madrid, explicou que o banco central que lidera iniciou o ciclo de subidas dos juros mais cedo e mais rapidamente do que os outros bancos centrais quando começou a ver uma “enorme coordenação entre a política orçamental e monetária” na pandemia, que levou a uma onda de estímulos “sempre precedentes”.
Segundo explicou, com as pessoas em casa, a introdução dos estímulos acabou por fazer deslocar a linha da procura por bens para fora da sua tendência histórica, o que implicou maior procura de energia num momento em que a oferta era reduzida.
“Quando colocámos tudo na equação, pensámos que a inflação ia ser mais persistente e que precisávamos de agir rapidamente”, contou na Santander International Banking Conference.
“Porque no Brasil temos uma inflação elevada há muito tempo”, prosseguiu Campos Neto, o banco central começou o aperto monetário logo em março de 2021, num ciclo que registou 12 aumentos e que atirou a taxa de juro de referência dos 2% para os 13,75%.
Depois de ter atingido os 12% em abril, a taxa de inflação caiu para 7% em setembro, quando outras regiões ainda enfrentam taxas de subidas dos preços de dois dígitos, como a Zona Euro.
Campos Neto lembrou o episódio inflacionista de 2015, quando superou os 10%: “A inflação saiu fora do controlo e tivemos de colocar a economia em recessão para corrigir o problema”. “Para nós foi muito claro que não podíamos tomar esses riscos [novamente] e que precisávamos de subir das taxas de juro rapidamente”, acrescentou.
Para o líder da autoridade monetária brasileira, a chave para a crise passa por saber “como vamos crescer”. Por outro lado, também é preciso saber como se vai pagar a fatura da crise “de uma maneira eficiente” e lançou mais críticas.
“Se pagar a fatura significa aumentar os impostos, significa aumentar impostos sobre o capital, vamos ter menor produtividade. (…) O que vejo que os governos estão a fazer é a aumentar os impostos e a aumentar os impostos sobre os capitais, a produtividade vai ser cada vez menor, e isto em cima dos problemas que já temos: disrupção na cadeia de distribuição, demografia que não está a nosso favor, menor cooperação em tecnologia”.
Trabalhar com Governo de Lula “da melhor forma possível”
No início da sessão, Campos Neto foi questionado sobre as implicações dos resultados das eleições no passado fim de semana que deram a vitória de Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro por uma margem reduzida.
“Geralmente, os bancos centrais não falam muito de política, mas acho que a implicação é que, como podemos ver, o país está muito dividido”, começou por dizer.
Ainda assim, adiantou que o banco central vai “trabalhar com o novo governo da melhor forma possível” para melhorar as condições da população brasileira e isso passa por “encontrar o caminho para crescer de forma sustentável”.
*O jornalista viajou a Madrid a convite do Santander
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