Casais com mais escolaridade têm mais filhos. As conclusões do INE sobre as famílias em Portugal
O INE avança que, na última década, mais de um milhão de pessoas ficaram a viver sozinhas, aumentou o número de famílias monoparentais e recompostas e também a desvalorização do casamento.
As estruturas familiares portuguesas são cada vez mais diversificadas. Na última década mais de um milhão de pessoas ficaram a viver sozinhas, aumentou o número de famílias monoparentais e recompostas e também a desvalorização do casamento. No que toca a nascimentos, são os casais com maior escolaridade que mais filhos têm. Os dados foram esta terça-feira divulgados pelo INE.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou a análise dos dados obtidos a propósito dos Censos 2021 no que toca às estruturas familiares em Portugal. O retrato aponta para “famílias cada vez mais pequenas; assentes em estruturas de menor dimensão. O país está a ter poucos filhos e as pessoas, apesar de desejarem ter mais, ficam-se unicamente por um”, sintetizou Susana Clemente, técnica do Serviço de Estatísticas Demográficas.
Casais com maior escolaridade têm mais filhos
O instituto português refere que a decisão de ter filhos continua a ser fortemente influenciada pelo trabalho e pelos níveis de escolaridade. Em casais onde ambos estavam empregados, o número de filhos era de 1,58 em 2021 (baixando para 1,35 em casos onde ambos estão desempregados ou inativos).
Ao mesmo tempo, “casais com nível de escolaridade superior têm, em média, maior número de filhos”, escreve o INE. “Quando ambos os membros do casal têm um nível de escolaridade superior, o número médio de filhos atinge valores máximos: 1,67 filhos”. No entanto, quando os parceiros têm apenas o ensino básico, atingem valores mínimos de 1,48 filhos. A tendência de crescendo do número de filhos por casal em linha com o aumento do nível de escolaridade “diferencia-se do padrão verificado em 2011”, nota o INE, já que em 2011 os casais apenas com o ensino básico tinham mais filhos do que os atuais 1,48 em média.
Segundo o instituto português, os casais continuam a ter cada vez menos filhos, “sendo a tendência ter apenas um”. “Os valores estão em linha com o decréscimo dos níveis de fecundidade em Portugal, que atingiu 1,34 filhos por mulher em idade fértil em 2021”, lê-se no relatório.
Aumentou a monoparentalidade
Foi no Algarve e na Área Metropolitana de Lisboa que se registaram os aumentos mais expressivos das famílias monoparentais, 23,9% e 22,7%, respetivamente. No último ano, em Portugal existiam 579.971 famílias onde apenas um dos progenitores estava integrado (um aumento de 20,7% face a 2011). À semelhança dos anos anteriores, continua a ser a mulher a principal responsável pelas crianças. As percentagens das mães ultrapassam as dos pais (85,6% face a 14,4%), tendência que se tem mantido nas últimas três décadas.
No entanto, registou-se um aumento na proporção de famílias de pais com filhos: passou de 13,3% em 2011 para 14,4% em 2021. “Em termos absolutos o aumento foi significativo, representando mais 19.529 novos núcleos de pais a viver com filhos”, avança o INE.
Em filhos menores de 6 anos, são as mães quem assume o papel de cuidador mais frequentemente. Em 2021, em 73.260 casos, 92,7% destas crianças residiam com as mães (enquanto apenas 7,3% residia com os pais). Segundo a investigadora Sofia Marinho, “os pais tendem a ter filhos mais velhos [a seu cargo]. As mães não só tendem a ter um maior número de filhos, como têm e entre os 0 e os 6 anos”.
O aumento da monoparentalidade leva também a uma maior vulnerabilidade e precariedade, sublinha o INE: “Mais de 70% dos pais que residiam com uma a duas crianças estavam empregados. Mas, em núcleos monoparentais com filhos com idade superior a 15 anos, a proporção baixa para 45% e a preponderância é para que pai ou mãe não tenham atividade económica”.
Segundos casamentos aumentam
A par do aumento de famílias monoparentais, as recompostas (ou reconstituídas) também cresceram. Estas famílias são aquelas onde se incluem um ou mais filhos, sendo pelo menos um deles é filho de apenas um dos progenitores. Em 2021, registou-se um aumento de 17,9% deste tipo de estruturas familiares (o que se traduz em 124.717 núcleos). Também o número de filhos – comuns a ambos os progenitores ou não – aumentou nos últimos dez anos (nomeadamente 18,6%). Cada família recomposta em Portugal registou, em média, 1,86 filhos. Foi na Região Autónoma dos Açores e na Área Metropolitana de Lisboa que se registou um maior número de crianças por família.
Apesar do crescimento do número de famílias recompostas, isto não se traduziu num aumento do número de casamentos, mas sim de uniões de facto. “Há uma maior informalidade associada à ideia de união. Esta é uma tendência que se tem mantido”, explica a investigadora da Universidade de Lisboa, Susana Atalaia. E acrescentou que “um quarto das famílias com três ou mais filhos são compostas por casais compostos. No entanto, raras são aquelas onde os casais têm filhos em comum”.
A explicação é simples: “Houve uma alteração na forma como as pessoas vêm uma família. Hoje em dia, os adultos optam por não casar, daí termos cada vez mais variedade nas estruturas. Mas a ideia de família não tem perdido valor, tanto que temos verificado um aumento do recasamento“. Sofia Martinho concorda: “Já não há a ideia de querer preservar a instituição casamento. Os valores mudaram e, claro, as questões económicas também estão aqui relacionadas com a situação”.
Mais de um milhão vivem sozinhos
Em 2021, Portugal registava mais de um milhão de pessoas a viver sozinhas. Segundo os dados do INE, existiam “1.027.871 agregados domésticos privados unipessoais”, um aumento face aos 866.827 registados em 2011, passando a representar 24,8% das famílias portuguesas.
A generalidade de tipo de agregados “eram constituídos por mulheres (61,4%), com 65 ou mais anos (60,1%), não ativas (67,3%), principalmente reformadas (57,3%), com escolaridade até ao ensino básico (64,7%)”, refere o INE. Os dados podem ser justificados pelo aumento da esperança de vida das mulheres. No que toca à faixa etária dos 25 aos 29 anos, apenas 3,4% viviam sozinhos em 2021 e 4,1% se nos referirmos à faixa etária dos 30 a 34 anos.
A maioria das pessoas que vivia sozinha em 2021 tinha apenas o ensino básico (51,7%), enquanto apenas 21,2% das pessoas com ensino superior estavam nesta situação.
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