Têxtil Riopele “tira bilhete” para o comboio de alta velocidade
Grupo minhoto com mais de mil trabalhadores reforça aposta nos têxteis técnicos para expandir na área da mobilidade. Entrou na indústria automóvel e quer agora dar “um cunho português" aos comboios.
Depois de quase um século de atividade no desenvolvimento de tecidos e vestuário para o setor da moda, a Riopele decidiu diversificar o negócio para o segmento dos têxteis técnicos e, nessa fileira, investir em áreas complementares, como a da mobilidade. E após colaborar com “algumas empresas europeias de referência” assume que quer estar “pronta para o novo TGV”.
“Gostaríamos que o novo comboio de alta velocidade tivesse um cunho português”, sublinha João Amaral, responsável da nova marca Riopele Textile E-Motion, frisando que a empresa de Vila Nova de Famalicão quer “aliar o longo historial e conhecimento no segmento de moda e vestuário a uma abordagem criativa e diferenciadora no desenvolvimento de novos produtos para o setor da mobilidade”.
Iniciada há dois anos, esta aposta já começa a dar frutos ao nível de novos produtos inovadores, desenvolvidos internamente pela empresa fundada em 1927, que emprega atualmente mais de mil pessoas. É o caso, como indica o responsável, de materiais têxteis com cortiça incorporada e de materiais produzidos a partir de resíduos têxteis, tendo por base o conceito da sua marca de tecidos Tenowa”.
Queremos aliar o longo historial e conhecimento no segmento de moda e vestuário a uma abordagem criativa e diferenciadora no desenvolvimento de novos produtos para o setor da mobilidade.
A gigante minhota liderada por José Alexandre Oliveira, que exporta 95% da produção para mais de 700 clientes do ramo do vestuário espalhados por 30 países, assume que está agora a colaborar com algumas das mais importantes marcas internacionais também no setor automóvel. O objetivo, insiste João Amaral, é “introduzir uma visão de moda no setor da mobilidade”.
Esta nova aposta beneficia do plano de investimentos de 35 milhões de euros, realizado durante a última década e focado sobretudo nas áreas da digitalização e da sustentabilidade, para ter “a fábrica mais moderna da Europa”. Entre outros, envolveu o reforço de competências internas, a otimização de processos e tecnologia de ponta – com automação e eficiência dos novos equipamentos, criação de uma plataforma digital, monitorização do chão de fábrica e implementação de um sistema de visão artificial nos teares.
Recentemente, a Riopele anunciou que quer ser até 2027 uma das primeiras empresas do setor têxtil a nível europeu “operacionalmente neutra em carbono”. Um dos investimentos a fazer, na ordem dos quatro milhões de euros, é na construção de uma central de biomassa. Além disso, aponta ao aumento da percentagem de recuperação e tratamento das águas do processo produtivo para 60% e à redução da produção de resíduos têxteis em 20%.
Ora, essa aposta, acredita João Amaral, é decisiva para o posicionamento estratégico da empresa junto da indústria automóvel, numa fase em que muitos fabricantes estão a anunciar o fim do uso de pele natural, a lançar veículos de série que integram materiais naturais e reciclados, ou a mostrar veículos conceptuais 100% recicláveis no fim do ciclo de vida. E à empresa portuguesa, contextualiza, cabe “identificar soluções e desenvolver produtos concretos para estes novos desafios”.
“Sem abordar o tema da condução autónoma, o futuro passará por habitáculos mais confortáveis como um prolongamento da nossa sala de estar, com incorporação de matérias-primas mais amigas do ambiente e de maior diferenciação. As decisões de compra do consumidor serão mais conscientes e exigentes, existindo também neste ponto uma mudança radical dos fabricantes”, remata o gestor.
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