Plataforma de compras conjuntas de gás arranca a 25 de abril
A expectativa é que os preços do gás negociados na plataforma não sejam significativamente diferentes dos negociados no restante mercado, mas que esta promova um preço adequado pela transparência.
A partir do dia 25 de abril, as empresas europeias vão ter uma alternativa para se abastecerem de gás: a plataforma europeia de compras conjuntas, que tem vindo a ser apelidada pelos meios de comunicação espanhóis como o “Tinder” do gás – o lugar virtual que vai promover o encontro entre compradores e vendedores desta matéria-prima.
A ideia é haver mais uma ferramenta para que as empresas se possam salvaguardar da escassez e elevados preços do gás que assombram o Velho Continente, desde que foram quebrados os laços com o seu grande fornecedor, a Rússia, depois da invasão da Ucrânia.
A Comissão Europeia esteve, na passada terça-feira, a mostrar esta plataforma aos interessados em Portugal. Estiveram presentes empresas, associações empresariais e entidades governativas. A Comissão tem-se dedicado a divulgar e a informar sobre esta alternativa um pouco por toda a Europa e, assim que passe a estar ativa, irá monitorizar o seu funcionamento. O desenvolvimento e operação da plataforma ficou nas mãos da empresa alemã Prisma.
A adesão à plataforma é voluntária e quem se inscreve são as empresas que são compradoras de gás, as que o fornecem e outras que estejam habilitadas a tratar do transporte. No entanto, existe um objetivo mínimo de volume de gás que deve ser contratado por esta via, por país: as empresas de cada Estado-membro devem, em conjunto, abastecer-se de um volume de gás equivalente a 15% da obrigação de armazenamento do seu país. Há países que estão a determinar, por empresa, a quantidade que esperam que estas contratem na plataforma. Outros estão a deixar ao critério às empresas, esperando que a iniciativa seja suficiente para atingir o patamar desejado, explicam as mesmas fontes europeias.
A expectativa é que os preços do gás negociados na plataforma não sejam significativamente diferentes dos negociados no restante mercado. O benefício, em termos de preço, pode estar antes na transparência acrescida que a plataforma oferece: a regra é que o gás que é contratado aos fornecedores é vendido aos consumidores ao preço a que foi adquirido. E, claro, é uma porta aberta para uma relação mais direta entre grandes consumidores e fornecedores, podendo assim evitar taxas de intermediários. Outra expectativa é que a negociação nesta plataforma possa influenciar positivamente a que acontece no restante mercado, servindo de alguma forma de referência.
Esta terça-feira, existiam 40 empresas, em toda a Europa, inscritas na plataforma. Ao Eco/Capital Verde, a Endesa confirmou ter estado na reunião na qual a Comissão apresentou a plataforma, também esta semana, mas em Madrid, sem revelar se já estava inscrita. No total, devem ser colocados na plataforma pelo menos cerca de 12 mil milhões de metros cúbicos de gás até ao final de 2023, que comparam com um mercado de 330 mil milhões de metros cúbicos, que se estima que seja a procura total deste ano na União Europeia.
Como funciona?
O primeiro passo é o registo. Devem registar-se na plataforma tanto os compradores e fornecedores de gás como empresas de logística.
Depois, será colocada a procura, ou seja, as quantidades que os compradores querem adquirir neste mercado – apesar de existir um patamar mínimo, não há um máximo. A primeira vez que isso irá acontecer será 25 de abril. Vai haver uma janela de cinco dias, até 2 de maio, para as empresas que já estão registadas colocarem a procura para os próximos 12 meses consecutivos, e podem-no fazer escolhendo os meses e localizações mais convenientes, entre as disponíveis.
Concluídos os cinco dias de colocação da procura, esta é agregada, e é a vez de os fornecedores de gás avançarem com as respetivas ofertas. Vai-se colmatando a procura começando pela oferta mais barata, e seguindo por ordem crescente até satisfazer toda a procura, para cada localização e para cada mês. É assim que se chega a um preço médio, igual para todos os compradores, e começa o “match”: ambas as partes, comprador e fornecedor, recebem os respetivos contactos. A partir daí, são livres de dar o rumo que bem entenderem a esta nova relação. Podem assinar ou não contrato, e podem negociar detalhes como o prazo.
Tenha existido um final feliz ou não, há lugar a novas oportunidades, e portanto o ciclo repete-se a cada dois meses. Depois da vaga de abril, em junho poderá ser colocada nova procura, e seguidamente nova oferta. Será assim até ao final de 2023, já que, sendo esta plataforma um mecanismo temporário, não deverá manter-se aberta a ofertas no ano que vem. Podem, sim, subsistir contactos decorrentes do match de 2023, dado que a procura colocada pode dizer respeito a um horizonte de até 12 meses. Isto prolongaria o dinamismo, mesmo sem a abertura de novas vagas, no limite, até ao final de 2024.
Fontes europeias indicam que, se for para esta ferramenta “sobreviver” além de 2023, terá de ser identificado o propósito e muito provavelmente terá de ser redesenhada. Tal como está, provavelmente não irá funcionar em paralelo com o mercado.
Empresas mais pequenas têm modelos próprios
Empresas mais pequenas, que necessitam de se abastecer em menores quantidades e podem não ter experiência a negociar gás diretamente com os produtores, podem participar na plataforma através de modelos alternativos.
Uma hipótese é firmar um contrato com o chamado “comprador central”, este sim inscrito na plataforma, e que servirá de agregador de oferta e fica encarregue da negociação com os produtores, de fechar contrato com os mesmos, e da logística. Ou, se o problema for apenas logístico, as empresas podem inscrever-se na plataforma, tratar dos contratos diretamente com os fornecedores, mas contratar em paralelo o chamado “agente em representação”, ao qual pagam uma taxa para que este se responsabilize pelo transporte ou armazenamento do gás.
Até terça-feira estavam registadas 13 empresas como compradores centrais e/ou agentes de representação (as empresas podem acumular estes dois papéis), e uma delas era ibérica, indicam fontes europeias, sem precisar nomes. Estas empresas deverão, contudo, estar listadas em breve publicamente, para que os compradores centrais possam ser contactados pelas empresas que estejam interessadas em comprar através destes.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Plataforma de compras conjuntas de gás arranca a 25 de abril
{{ noCommentsLabel }}