Após os lucros, custos do trabalho estão agora a pressionar inflação, diz Lagarde. Subidas de juros vão continuar
Presidente do BCE defende que é necessário que as empresas "absorvam o aumento dos custos do trabalho nas margens" de lucro, para conseguir que a inflação recue para a meta de 2%.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE) alerta que é preciso trazer as taxas de juros para níveis “suficientemente restritivos” e mantê-las “pelo tempo que for necessário”. As declarações de Christine Lagarde foram proferidas esta terça-feira na abertura do arranque dos debates do Fórum BCE, em Sintra.
Christine Lagarde destaca a contribuição da manutenção das margens de lucro das empresas, apontando que foram responsáveis por “dois terços da inflação doméstica em 2022, ao passo que, nos 20 anos anteriores, o seu contributo médio foi cerca de um terço.” No entanto, Lagarde revela que esta situação está agora a dissipar-se e que a próxima fase do controlo dos preços foca-se nos salários, cujo impacto na inflação é maior devido à baixa produtividade, alerta Lagarde.
Christine Lagarde começa por apontar que os elementos da orientação política “serão fundamentais” para colocar os juros num nível restritivo pelo tempo necessário. “Ambos os elementos são afetados pela incerteza sobre a persistência da inflação e sobre a força da transmissão da política monetária à inflação“, reitera.
A líder do banco central da Zona Euro destaca que a inflação no espaço da moeda única continua longe da meta dos 2% definida pelo BCE como referência para o equilíbrio da economia, mas que, mesmo assim, está a abrandar, sobretudo como resultado da correção dos preços da energia.
Entramos assim na “segunda fase do processo inflacionário”, que se “começa a fortalecer”. Nesta segunda fase do processo inflacionário, como descrito por Lagarde, há um processo de “recuperação” salarial depois de os trabalhadores sofrerem “grandes quedas salariais reais”. “Isso está a pressionar outras medidas de inflação subjacente que capturam mais pressões de preços domésticos – particularmente medidas de inflação sensível a salários e inflação doméstica”, alerta a presidente do BCE.
Este processo vai ocorrer ao longo de vários anos, tendo em conta que a negociação salarial em muitos países europeus é plurianual. “Nas últimas projeções, esperamos que os salários cresçam mais 14% até o final de 2025 e recuperem totalmente o seu nível pré-pandémico em termos reais”, nota Lagarde.
Neste contexto de aumento de salários, existe ainda assim uma queda na produtividade, o que faz subir os custos do trabalho. É assim necessário que as empresas “absorvam o aumento dos custos do trabalho nas margens” e, para isso, “precisamos de políticas mais persistentes, que produzam restrições e as mantêm até que possamos estar confiantes que esta segunda fase ficou resolvida”, conclui.
A presidente do BCE diz que a luta contra a inflação tem de continuar, ainda que já se tenha verificado algum progresso. “Mas ainda não podemos declarar vitória”, alerta, avisando que as taxas vão continuar a subir.
Lagarde não quis utilizar este discurso para sinalizar futuras decisões, mas reforçou já que as taxas vão voltar a subir em julho, caso não existam “mudanças materiais” e sublinhou dois pontos:
- O BCE precisa que as taxas de juro atinjam níveis “suficientemente restritivos” para fixar a restritividade da política monetária.
- O banco central necessita de comunicar claramente que as taxas permanecerão “nesses níveis enquanto for necessário”. Só desta forma, segundo Lagarde, será possível assegurar “que os aumentos das taxas não suscitam expectativas de uma inversão demasiado rápida da política monetária e permitirá a concretização do impacto total das nossas medidas anteriores.”
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