Campanha de cereais foi a pior de sempre. Amêndoas e uvas resistem à seca
A produtividade da amêndoa e da uva este ano contrariaram a avaliação global da campanha de cereais este ano. Segundo o INE, a seca contribuiu para que esta fosse a pior de sempre.
A colheita dos cereais para grão de outono e inverno está concluída, e os resultados não são animadores. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a campanha de 2022/2023, muito marcada pela seca meteorológica, foi considerada como a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas.
No relatório divulgado esta sexta-feira, o gabinete de estatísticas detalha que os cereais semeados tardiamente após as chuvas de dezembro e janeiro “foram muito penalizados”, com emergências e desenvolvimento vegetativos “fracos”. Já a ausência de precipitação na primavera e as elevadas temperaturas “prejudicaram muito o desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos de sequeiro“, promovendo o seu adiantamento e o espigamento precoce”. Até 31 de julho, a seca meteorológica alastrou-se a cerca de 97% do continente, dos quais 34,4% encontravam-se em seca severa ou extrema.
Entre os cereais, a quebra mais acentuada verifica-se na produção de trigo mole que deverá atingir as 28 toneladas este ano, menos 19 toneladas face a 2022.
Os impactos meteorológicos chegaram também aos pomares de macieiras e pereiras, e segundo os dados do INE a produtividade destas frutas deverá decrescer pelo segundo ano consecutivo. No caso das maçãs, prevê-se um decréscimo de maçã de 15% face a 2022 e 20% face à média do último quinquénio. Nas peras, as previsões sugerem uma quebra de 10% na produção comparativamente à campanha do ano passado.
A quebra da produtividade das maçãs e peras é, no entanto, superada pela das cerejas. Segundo o INE, a quebra da campanha deste ano foi de 55% face à campanha anterior.
A seca também impactou negativamente o ciclo vegetativo dos prados, pastagens e culturas forrageiras, penalizando, por sua vez, a produção de biomassa destinada à alimentação dos efetivos pecuários. No Alentejo, verificam-se decréscimos de produtividade de matéria verde entre os 20% e os 80%, sendo a maior quebra observada nos concelhos de Castro Verde, Ourique, Mértola e Almodôva, indica o INE.
Apesar do balanço negativo, a campanha de milho conseguiu resistir aos impactos da seca. De acordo com a análise, a área de milho de regadio deverá ser semelhante à semeada em 2022, “encontrando-se a cultura maioritariamente no estado de enchimento de grão” e “com um bom desenvolvimento vegetativo”. Já o milho de sequeiro, deverá ver a sua área de cultivo decrescer 5%.
Sinais positivos também se verificam na campanha do arroz, cujos dados sugerem “um bom desenvolvimento vegetativo, embora com a presença de infestantes”, principalmente nas zonas litorais do Baixo Mondego e Vouga. E ainda da batata para consumo cujos níveis de produtividade foram idênticos à da campanha anterior, segundo o INE. Já a produtividade de batata industrial aumentou 5%.
As perspetivas melhoram ainda mais quando se observa a produtividade global da amêndoa, que, este ano, deverá aumentar 15%. O motivo, explica o INE, prende-se com “à entrada de cada vez mais pomares em produção cruzeiro, o que tem contribuído para a tendência de crescimento dos rendimentos unitários”.
Quanto à vindima, preveem-se aumentos de produtividade em todas as regiões (exceto no Dão, que deverá manter a alcançada no ano anterior), devendo o rendimento unitário global atingir os 42 hectolitros por hectare, uma subida de 8%, face à vindima de 2022). Só na uva de mesa, prevê-se um aumento de 10% na produtividade, face a 2022.
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