Empresa de Freamunde “acelera” na Fórmula 1 à boleia do Rock in Rio
Detida pela private equity Crest e pelos cinco irmãos Ferreira, a Irmarfer fechou contrato para fornecer estruturas para o Grande Prémio do Brasil de F1 e está na corrida aos Jogos Olímpicos de Paris.
A portuguesa Irmarfer, especializada na produção e aluguer de estruturas temporárias, ganhou um “contrato grande” com a Fórmula 1 para o fornecimento e instalação da principal estrutura corporate onde vai estar o paddock no autódromo de Interlagos, em São Paulo (Brasil), e que durante os três dias da corrida, de 3 a 5 de novembro, vai albergar toda a área de catering e os camarotes dos convidados VIP.
Este acordo marca a estreia da empresa de Freamunde (concelho de Paços de Ferreira) na mais popular modalidade de automobilismo do mundo, depois de em 2022 já ter feito uma estrutura parecida para a Fórmula E (elétricos) na Suíça. Afonso Barros conta ao ECO que o contacto “surgiu através do Rock in Rio”, que criou um festival de música (The Town) precisamente naquele circuito, realizado no início de setembro. “Nesse seguimento fomos contactados pela F1 para fazermos também uma parceria”, detalha o CEO.
Desde 2019 detida a meias (50%/50%) pelo fundo de private equity Crest e pelos cinco irmãos Ferreira, que fundaram este negócio há 25 anos, tem clientes sobretudo nos festivais de música, nos eventos empresariais – a Web Summit é o maior em Portugal, com mais de 30 estruturas específicas – e no desporto.
E é esta última categoria que no próximo ano deve “assumir maior dimensão” por causa dos Jogos Olímpicos em Paris, estando “em processo de licitação”. Desde a participação no Rio de Janeiro (2016) é consultada para produzir as estruturas necessárias à competição, seja para o catering, o aquecimento ou o apoio médico.
“Entre os players internacionais de maior dimensão já é comum entreajudarmo-nos, sendo eventos que consomem muitas estruturas. É raro haver um único [operador] a querer assumir a conta por si só. Seremos um de vários em Paris; a questão é como será distribuído o pacote”, explica o gestor. A exceção nos últimos anos foram os Jogos de Tóquio (2021) que, por causa da distância geográfica e da Covid-19, acabaram por ser assegurados apenas por duas multinacionais com presença forte na Ásia.
Estamos agora na fase do namoro e de atrair alguma atenção do mercado internacional para uma futura venda. Os acionistas já têm vindo a ser contactados. Há um forte interesse num ativo como a Irmarfer, pela sua complementaridade em termos de produto e de geografias.
Dedicada até então maioritariamente aos eventos, que nessa altura pararam por completo, a pandemia obrigou a Irmarfer a “reinventar-se” e a abrir novos segmentos. Foi nessa altura que, já com Afonso Barros ao leme, apostou na logística com armazéns temporários ou semipermanentes, e desenvolveu estruturas para escavações arqueológicas, hangares de aviação, estúdios de televisão ou, mais recentemente, entrou na indústria mineira, na África do Sul e na Austrália. “Tivemos de sobreviver e isso obrigou-nos a ir ao encontro de outros setores. Sem negócio, tivemos de nos desenrascar”, recorda.
Por outro lado, se não fosse a pandemia, que veio atrasar os planos de negócio, a venda da participação da capital de risco estaria projetada para acontecer este ano ou no próximo. Questionado sobre o tema, o CEO responde que começa agora “a fase do namoro e de atrair alguma atenção do mercado internacional para uma futura venda”. “Os acionistas já têm vindo a ser contactados. Há um forte interesse num ativo como a Irmarfer, pela sua complementaridade em termos de produto e de geografias. Mas, para já, é prematuro falar-se num processo de venda. Sabemos que terá lugar algures no tempo, mas creio que não será no breve prazo”, completa.
Fecha empresa no Brasil e abre logística em França
Com duas instalações industriais em Freamunde – além da fábrica construída há oito anos para as estruturas e palcos para eventos, no complexo original estão situadas as outras duas empresas do grupo: a S2E (stands para feiras) e a gráfica Imagindustrial (impressão digital de grandes dimensões) – e equipas que se deslocam para “os vários cantos do mundo” para montar e desmontar as estruturas, a Irmarfer está a investir num polo logístico com cerca de 5.000 metros quadrados em França, junto a Lyon, para “facilitar a operação” no Centro da Europa, servindo a partir dali os mercados francês, suíço, alemão, italiano e belga.
Pelo contrário, encerrou há dois anos a empresa que tinha montado no Brasil depois dos Jogos Olímpicos de 2016 para aproveitar para outros eventos as estruturas que tinham sido usadas naquele megaevento desportivo. Uma operação que antes da pandemia pesava cerca de 15% no negócio. “Com a Covid, a atividade estagnou por completo e ninguém da administração podia viajar para o Brasil para tentar alterar o rumo das coisas. Antes que fosse tarde, decidimos alienar os ativos que lá tínhamos a um parceiro local e abandonámos a operação em 2021”, resume o CEO.
“Bem posicionada” no Médio Oriente, na Arábia Saudita e no Dubai e com uma parceria nova na Austrália, onde no ano passado colocou uma estrutura com 6.000 metros quadrados para o concerto da Björk em Perth, que está a ser montada em Sydney para outro evento, a Irmarfer faturou perto de 20 milhões de euros em 2022 e conta subir esse valor em 10% no final deste ano, recuperando assim da fase da pandemia, em que caiu para metade do montante atual. Cerca de 75% das receitas são provenientes de encomendas do estrangeiro, com Alemanha, França, EUA e Espanha a comandarem a lista dos melhores mercados.
Ainda temos dificuldades no abastecimento. Um dos materiais que mais usamos é a madeira e grande parte dela era proveniente da Sibéria. Com o embargo às exportações da Rússia, tivemos de procurar alternativas.
A Irmarfer emprega atualmente 240 pessoas, mas diz que, face à procura do mercado por este tipo de estruturas, a força de trabalho poderia crescer “20% ou 30%”, caso conseguisse recrutar montadores, carpinteiros, eletricistas, motoristas e profissionais qualificado para a gestão de armazém. Em concorrência direta e geográfica com a indústria do mobiliário e da carpintaria na região da Capital do Móvel, Afonso Barros descreve a falta de mão-de-obra como “o maior entrave ao crescimento” da empresa.
O outro grande “constrangimento” à atividade é o custo das matérias-primas, que com a pandemia e depois a guerra na Ucrânia “disparou de forma exorbitante e nunca corrigiu”, subsistindo uma “diferença de preços entre 30% e 40% face ao pré-Covid”. “E temos ainda dificuldades no abastecimento. Um dos materiais que mais usamos é a madeira e grande parte dela era proveniente da Sibéria. Com o embargo [da União Europeia] às exportações da Rússia, tivemos de procurar alternativas para substituir” este abastecimento, contextualiza o gestor da empresa nortenha.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Empresa de Freamunde “acelera” na Fórmula 1 à boleia do Rock in Rio
{{ noCommentsLabel }}